Segundo o curador Teixeira Coelho, que desde setembro vem reformulando a gestão curatorial do Museu, os paulistanos ainda terão muitas novidades até dezembro. Para ele, contudo, a exposição das gravuras de Goya - que nunca foram exibidas no Brasil desta forma - já pode ser considerada a maior realização do Museu no primeiro semestre do ano.
Contando com o apoio da financeira espanhola Caixanova em colaboração com o Instituto Cervantes, o Museu apresentará as quatro séries completas das gravuras de Goya: Os Caprichos, Desastres da Guerra, Tauromaquia e Provérbios ou Disparates. Reunindo quase 30 anos de trabalho, o material pertence à Coleção Caixanova, considerada uma das mais importantes da Espanha, com 5.000 obras.
Personalidade artística imponente
Considerado um dos grandes gênios da arte universal, Goya soube modelar na sua obra toda uma época e protagonizou avanços artísticos que o consagraram como um dos artistas mais interessantes e respeitados de todos os tempos.
Foi pintor da corte mas, por depois trabalhar mais para si mesmo e amigos próximos do que por encomenda do Estado ou do mercado, tornou-se um dos primeiros símbolos do gênio Romântico e, nessa linha, do Moderno. E como vários modernos, seus retratos críticos da realeza, tanto quanto sua representação da estupidez e do sofrimento humanos, ancoravam-se em sólidos princípios clássicos. Conheceu a fama, o sofrimento (uma doença o deixou surdo em 1792) e a perseguição política por sua inclinação liberal (viveu seus últimos quatro anos como exilado na França).
Como gravurista, deu origem a obras transcendentais de grande força expressiva e absoluto domínio técnico que, desde diferentes pontos de vista, abordam sua visão pessoal do mundo.
Carregadas de um teor crítico, as 80 gravuras da série Os Caprichos (1799), a primeira das quatro, deixaram a Inquisição em alerta e, ante o temor a represálias, tiveram de ser retiradas de venda. Goya descreveu estas gravuras como "assuntos caprichosos que se prestavam a colocar as coisas em ridículo, fustigar preconceitos, imposturas e hipocrisias consagradas pelo tempo".
Já nas 80 gravuras da série Desastres da Guerra (1808), o artista apresenta os horrores da Guerra da Independência (1808-1814), uma das maiores crises bélicas da história da Espanha, com um apavorante dramatismo raramente visto nos registros das guerras. Os exemplares desta série que formam parte da Coleção Caixanova pertencem à primeira edição "Madrid 1863", o que a transforma em todo um tesouro artístico.
Em 1814, com a censura de estampas estabelecida pelo Tribunal da Inquisição, o tema dos touros tornou-se o mais apropriado para a criação de uma coleção do artista, resultando nas 40 gravuras da série Tauromaquia (1814 - 1816). O período coincide com uma época de precariedade econômica de Goya.
Última grande série do artista, Proverbios ou disparates pro-vavelmente não foi um trabalho concluído. Nas 18 gravuras desta série, Goya nos submerge em um mundo de sombras, monstros à espreita, espíritos que abandonam seus corpos, cenas inexplicáveis que parecem arrancadas de sonhos e que seguem sendo hoje em dia um tema de pesquisa e debate.
Caixanova
A Caixanova é uma instituição financeira sem fins lucrativos que não tem acionistas e dedica uma parte importante de seus lucros a devolver à sociedade sua contribuição, através de obras de caráter social, cultural, docente e assistencial, materializadas em centros e atividades culturais, escolas de negócios, centros de formação profissional e uma coleção de arte com mais de 5.000 obras que fazem dela a mais importante coleção de Arte Galega do mundo.
A iniciativa de trazer para São Paulo as séries completas das gravuras de Goya é parte do interesse de difundir a atividade social e cultural da instituição aos mercados em que está desenvolvendo sua atividade financeira na América. No ano passado, a Caixanova se tornou a primeira caderneta de poupanças espanhola a receber autorização do Banco Central do Brasil para abrir no país um escritório de representação.
Instituto Cervantes
Criado em 1991, em Madri, o Instituto Cervantes é uma instituição oficial e sem fins lucrativos sob a tutela do Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha. Sua finalidade é a de promover o ensino da língua espanhola, difundir a cultura dos países de língua espanhola e participar na promoção de intercâmbios culturais no mundo inteiro.
Em São Paulo, o Instituto chegou em 1998 como um centro de línguas e formação de professores, até que, em 2004, adquiriu seu espaço próprio de exposições, biblioteca e um auditório para ciclos de cinema, recitais e conferências, passando a oferecer programas culturais gratuitos ao público.