Histórias brasileiras são histórias complexas, contraditórias, múltiplas, fragmentadas, incompletas. A exposição é apresentada no ano em que se completam 200 anos da Independência do Brasil e 100 anos da Semana de Arte Moderna. Mas são também os 100 anos da morte do escritor Lima Barreto, 100 anos do nascimento dos artistas Judith Lauand e Rubem Valentim. Além disso, há hoje uma intensa revisão das histórias do Brasil – expressa em livros, exposições, conferências, filmes e documentários. Quais são os temas, as narrativas, os eventos, e as personagens a serem celebrados, estudados e questionados neste longo e conflituoso processo? Quais têm sido esquecidos de maneira proposital?
Desde 2016, o MASP tem organizado uma série de mostras e projetos em torno de diferentes histórias – Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018), Histórias das mulheres, Histórias feministas (2019), Histórias da dança (2020) e, agora, estas Histórias brasileiras (2022). A programação do ano ou do biênio – como é o caso de 2021-22 – em que se realizam essas exposições coletivas é dedicada a essas mesmas histórias e é complementada com mostras individuais que se conectam ao tema. Não por acaso, elas se aproximam dos conteúdos, das imagens e das agendas da história social, cultural e política, estando mais relacionadas a pautas contemporâneas e à vida cotidiana, do que estritamente à história da arte – como indica a sucessão de nossa série de Histórias.
Histórias brasileiras é dividida em oito núcleos organizados por temas (e não por cronologias ou meios), cada um localizado em uma sala: quatro no primeiro andar do MASP (Bandeiras e mapas; Paisagens e trópicos; Terra e território; Retomadas) e quatro no segundo subsolo (Retratos; Rebeliões e revoltas; Mitos e ritos; Festas). A exposição inclui mais de 400 objetos: pinturas, desenhos, esculturas, fotografias, vídeos, instalações, jornais, revistas, livros, documentos, bandeiras e mapas. Ela é organizada por 11 curadores, o que sublinha o caráter polifônico (com muitas vozes) do projeto. Cada núcleo é curado por uma dupla de curadores, e entre os núcleos identificamos sobreposições, complementações, conexões e contradições.
Nas escolas, ainda aprendemos que a história é uma só. Mas não é. Nossas Histórias (no plural) indicam que este é um processo aberto, que não contempla apenas uma narrativa (definitiva, coerente, monolítica e evolutiva), mas inclui muitas (abertas, diversas, inconstantes, insurgentes, preliminares e em conflito).
Histórias brasileiras tem a direção curatorial de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Lilia M. Schwarcz, curadora convidada. A exposição é curada com Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP; André Mesquita, curador, MASP; Clarissa Diniz, curadora convidada; Fernando Oliva, curador, MASP; Glaucea Brito, curadora assistente, MASP; Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP; Isabella Rjeille, curadora, MASP; Sandra Benites, curadora convidada; Tomás Toledo, curador convidado.
Esta exposição integra o biênio de programação no MASP dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, que coincide com o bicentenário da Independência do Brasil em 2022. Neste ano, o ciclo inclui também exposições individuais de Alfredo Volpi (1896-1988), Abdias Nascimento (1914-2011), Joseca Yanomami, Luiz Zerbini, Dalton Paula, Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), Judith Lauand e Cinthia Marcelle, bem como mostras na sala de vídeo de Aline Motta, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, Letícia Parente, Melanie Smith e Tamar Guimarães.
#coleralegria
Abdias Nascimento
Adenor Gondim
Adriana Varejão
Agnaldo Manuel dos Santos
Agostinho Batista de Freitas
Agrippina R. Manhattan
Alberto da Costa e Silva
Alberto da Veiga Guignard
Alberto de Noronha Torrezão
Aline Albuquerque
Aline Motta
Allan Weber
Amadeo Lorenzatto
Ana Elisa Egreja
Ana Vitória Mussi
André Mantelli
André Ryoki
André Vargas
André Vilaron
Anita Malfati
Anna Bella Geiger
Anna Maria Maiolino
Antonio Bandeira
Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho)
Antonio Gomide
Antonio Henrique Amaral
Antonio Manuel
Antonio Obá
Arissana Pataxó
Arpillera mineira, atingidas em Brumadinho, MG
Arpillera paraense, Atingidas pela UHE Belo Monte em Altamira
Arpillera paraense, Atingidas pelo projeto da Usina de Marabá, comunidades de Vila Espírito Santo (Marabá), Vila Landi (São João do Araguaia) e Bacabal (Bom Jesus)
Arsenio da Silva
Arthur Timótheo da Costa
Baiana System
Bane Huni Kuin, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU)
Benedito Calixto
Benedito José Tobias
Beth Moysés
Bianca Barbosa Chizzolini/Parquinho Gráfico
Bob Wolfenson
Bruno Baptistelli
Candido Portinari
Carlos Julião
Carlos Zilio
Carmela Gross
Carmézia Emiliano
Carolina Caycedo
chameckilerner
Charles Othon Frederic Jean-Baptiste de Clarac
Cildo Meireles
Claudia Andujar
Cláudio Tozzi
Clovis Hirigaray
Colaboradores Equinaldo Silva e Kátia Flávia
Cristal
Curt Nimuendajú
Daiara Tukano
Davi de Jesus do Nascimento e Bicho Carranca
Denilson Baniwa
Desali
Descartes Gadelha
Diambe da Silva
Djanira da Motta e Silva
Duhigó
Edgar Kanayko
Edival Ramosa
Edmund Pink
Eduardo de Almeida Navarro
Eduardo Navarro
Elisclésio Makuxi
Emanoel Araújo
Emiliano Di Cavalcanti
Emmanuel Nassar
Emmanuel Zamor
Ernestina Antonia da Silva Oliveira
Eustáquio Neves
Fefa Lins
Felismar Manuel Nhamanrurí Schuteh Pury
Félix Émile Taunay
Ferdinand Denis
Fernando Sato
Firmino Monteiro
Frans Post
Frederico Costa
Gê Viana
German Lorca
Gerog Marcgrave e Joan Blaeu, atribuído a Frans Post
Giacomo Gastaldi
Gira
Glauco Rodrigues
Grupo de ação
Gustavo Torrezan e Nildilene Diniz da Silva (Pichuita)
Hank Willis Thomas
Heitor dos Prazeres
Hélio Melo
Henrique Bernardelli
Humberto Espíndola
Ibã Huni Kuin, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU)
Ignacio Aronovich/Lost Art
Iran do Espírito Santo
Ismael Nery
Itamar Garcez
J. M. Rugendas
Jaider Esbell
Jaime Lauriano
Jan van Brosterhuysen
Jean Baptiste Debret
Jean de Léry
Jean-Baptiste Debret
Jefferson Medeiros
Joan Blaeu
João Pimenta Filho
João Zinclar
Joedison Alves
José Antônio da Silva
José Bezerra
José Bina Fonyat Filho
José Correia de Lima
José Medeiros
José Pancetti
José Wasth Rodrigues
Joseca Yanomami
Jota
Jovanna Baby
Lalo de Almeida
Lampião da Esquina
Larissa de Souza
Lasar Segall
Leandro Joaquim
Leandro Vieira
Leonardo Queiroz
Lili Fialho
Linhas do Horizonte
Lourival Cuquinha
Luana Vitra
Lucas Arruda
Lucílio de Albuquerque
Lucy Citti Ferreira
Luiz Braga
Luiz Matheus
Lula Cardoso Ayres
Madalena dos Santos Reinbolt
Madame Satã
Mana Huni Kuin, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU)
Manoel da Costa Ataíde
Manuel Messias
Marc Ferrez
Marcel Gautherot
Marcela Cantuária
Marcelo Brodsky
Marcelo Sant’Anna Lemos
Márcio Vasconcelos
Marcos Chaves
Maré de Matos
Maria Auxiliadora Da Silva
Matheus Ribs
Mauro Restiffe
Mestre Didi
Mirian Inez da Silva
Movimento dos artistas Huni Kuin
Movimento dos Trabalhadores Ruarais Sem Terra (MST)
Mulambö
Nair Benedicto
Ney Matogrosso
Nidia Aranha
Nilson Barbosa
No Martins
O Bastardo
Osvaldo Carvalho
Oswald de Andrade
Otavio Araujo
Panmela Castro
Paulo Bruscky
Paulo Jares
Paulo Nazareth
Paulo Pedro Leal
Pedro Marighella
Pedro Motta
Pedro Victor Brandão
Pegge
Pisco del Gaiso
Priscila Rooxo
Programa Manos e Minas, TV Cultura
Rafael Bqueer
Rafael Matheus Moreira
Rafael Vilela
Randolpho Lamonier
Revista Manchete
Revolução Periférica
Ricardo Basbaum e João Camillo Penna
Richard Skerret Hickson
Robson Ruan Cristo
Rodrigo Arajeju
Rogério Reis
Rosa Gauditano
Rosana Paulino
Rosana Ricaldi
Rosangela Rennó
Rosina Becker do Valle
Rubem Valentim
Rubens Gerchman
Sallisa Rosa
Sandra Gamarra
Santarosa Barreto
Sebastião Salgado
Sepp Baendereck
Sergio Vidal
Serigrafistas Queer
Sidney Amaral
Talles Lopes
Tarsila do Amaral
Teresinha Soares
Thiago Honório
Tiago Rocha Pitta
Tiago Sant’Anna
Tuin Huni Kuin, Movimento dos artistas Huni Kuin (MAHKU)
Valeska Soares
Ventura Profana
Vicente Paulo da Silva
Victor Meirelles de Lima
Vivian Caccuri
Wallace Pato
Wesley Duke Lee
Wilson Tibério
Xadalu Tupã Jekupé (Colaboração: cacique Cirilo, wherá Mirim, Karai Mirim)
Xingu
Yacunã Tuxá
Yêdamaria
Yhuri Cruz
Zé Caboclo
SOBRE A EXPOSIÇÃO HISTÓRIAS BRASILEIRAS
O MASP tem a missão de estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais. Justamente por ser um museu diverso, inclusivo e plural, o MASP preza pela liberdade de expressão e vem a público esclarecer seu compromisso com a arte e com a democracia no país.
O Museu, em seus mais de 70 anos de história, jamais censurou ou inibiu qualquer forma de expressão artística. Pelo contrário, ao longo das décadas a instituição foi palco de discussões importantes da sociedade, como as presentes nos ciclos anuais de exposições Histórias da sexualidade, Histórias afro-atlânticas, Histórias feministas e Histórias indígenas.
Em 2021-22, em especial, a programação do MASP está dedicada às Histórias Brasileiras, no marco dos 200 anos da independência, com uma grande exposição coletiva de mesmo nome que pretende rever criticamente a história do país. A exposição, com previsão de inauguração em 1 de julho de 2022, está organizada em 7 núcleos temáticos: “Mapas e bandeiras”, “Paisagens e trópicos”, “Terra e território”, “Rebeliões e revoltas”, “Mitos e ritos”, “Festas” e “Retratos”. Fazia ainda parte do conjunto o núcleo “Retomadas”, com curadoria de Clarissa Diniz, curadora convidada, e Sandra Benites, curadora adjunta, cuja participação foi cancelada a pedido das próprias curadoras em 3 de maio deste ano.
O cancelamento se deu pela impossibilidade de incluir, no núcleo, 6 obras de fotógrafos ligados ao Movimento Sem Terra – MST, solicitadas pelas curadoras ao departamento de produção do museu, muito fora dos prazos do cronograma estabelecido em contrato. Essas restrições são comuns no processo de produção e impediram também que outros curadores da mostra solicitassem algumas obras em seus respectivos núcleos.
A produção já havia procurado flexibilizar os prazos para solicitação de empréstimo de obras – mínimo de 6 meses (para museus brasileiros) e 4 meses (para galerias, coleções particulares e artistas) – e inclusive aceitou um pedido de inclusão de cartazes e documentos do acervo do MST. O cronograma é muito importante para a montagem saudável e de qualidade para todas as equipes envolvidas, sobretudo em uma exposição deste porte: são mais de 300 obras, ocupando dois andares no museu, com um corpo curatorial composto por 11 integrantes, e equipe operando no limite de prazos. É imprescindível, portanto, maior rigidez e disciplina com relação a todas as instâncias, não só curatorial e de produção, mas também contratuais.
A negativa do MASP para a inclusão das 6 fotografias não está, de forma alguma, vinculada ao conteúdo das obras, tampouco representa qualquer censura ao MST – algo inadmissível em uma instituição democrática como o MASP. Vale destacar que um texto de autoria do MST foi incluído no livro Histórias Brasileiras: Antologia, que acompanha a exposição e será lançado em julho, descartando, portanto, qualquer hipótese de censura. Ainda, o núcleo “Rebeliões e revoltas”, da mesma mostra, inclui diversas imagens ligadas a manifestações e movimentos sociais.
O museu lamenta profundamente o cancelamento de “Retomadas”. A exposição Histórias Brasileiras seguirá com os outros 7 núcleos organizados pelos curadores do MASP – Adriano Pedrosa, Amanda Carneiro, André Mesquita, Fernando Oliva, Glaucea Britto, Guilherme Giufrida, Isabella Rjeille, Lilia Schwarcz e Tomás Toledo.
SOBRE A EXPOSIÇÃO HISTÓRIAS BRASILEIRAS
O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand vem a público com um novo posicionamento sobre o cancelamento do núcleo "Retomadas", que fazia parte da mostra coletiva Histórias brasileiras, a ser inaugurada em 1º de julho próximo. A exposição faz parte da série de Histórias, que incluiu Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018), Histórias feministas (2019), entre outras.
O Museu tem refletido muito sobre o atual momento e, como um museu vivo, busca aprender com este episódio, inclusive observando falhas processuais e erros no diálogo com as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites, responsáveis pelo núcleo “Retomadas”. A instituição lamenta publicamente o cancelamento do núcleo, tão importante para a exposição, e a saída das curadoras do projeto.
Pretendendo avançar para que episódios semelhantes não se repitam no futuro, estamos abertos a ouvir Benites e Diniz, com a finalidade de aprendermos com essa experiência e aprimorarmos processos e modelos de trabalho.
Nesse sentido, caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo "Retomadas" na mostra.
Outra medida que estamos propondo é a realização de um seminário público durante a exposição sobre o núcleo “Retomadas” com a participação das curadoras.
Por fim, iremos propor a incorporação ao acervo do Museu, das 6 fotografias de autoria de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar, caso seja do interesse dos artistas, como registro da importância dessas imagens para a história do MASP e reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas curadoras junto ao Movimento Sem Terra—MST.
O MASP está comprometido com a abertura de novos espaços de escuta, na certeza de que o que queremos é um Brasil mais plural, inclusivo e democrático - que só pode ser construído coletivamente, a partir do diálogo aberto, empático e colaborativo.