De 12 de junho a 11 de outubro, o MASP apresenta a exposição Histórias da loucura: desenhos do Juquery, inaugurando um novo espaço expositivo no primeiro subsolo do museu. A mostra reúne cerca de 100 desenhos feitos por internos do Hospital Psiquiátrico do Juquery, localizado em Franco da Rocha, São Paulo. As obras eram parte da coleção do Dr. Osório César (1895-1979), fundador e diretor da Escola Livre de Artes Plásticas, que funcionou no hospital entre 1956 e meados da década de 1970.
Médico psiquiatra do Juquery por mais de quatro décadas, Dr. Osório César foi um dos pioneiros no Brasil a pesquisar e a aplicar o uso da arte como recurso terapêutico em pacientes psiquiátricos. Por acreditar tanto na potência artística dos internos quanto nas qualidades estéticas de seus trabalhos, Dr. Osório César, que foi casado com a artista Tarsila do Amaral, promoveu exposições de desenhos e pinturas criados no Juquery. O MASP sediou duas delas: em 1948, um ano após a inauguração do museu, e em 1954. Em 1974, o médico doou sua coleção particular ao MASP, fato que atestava seu desejo de salvaguardá-la como um acervo de arte, ao invés de arquivá-la como parte de seus estudos. Histórias da loucura: desenhos do Juquery retoma o interesse do museu por essa inestimável coleção, possibilitando a recuperação de histórias plurais, que tratam tanto de sua própria história, quanto da produção desses autores que passaram a integrar um importante acervo de arte na condição de artistas.
Além disso, o título da exposição alude diretamente ao livro História da loucura, do filósofo francês Michel Foucault, originalmente publicado em 1961. Nele, Foucault desenvolveu uma genealogia das ideias e práticas referentes à construção e manutenção da noção de loucura na história do Ocidente. Dessa forma, as histórias a que o título da mostra se refere sugerem não apenas aquelas dos artistas da mostra, mas relatos mais amplos, que tratem também de acontecimentos, ideias, formas de arte e narrativas pessoais e ficcionais. São temas que o MASP pretende desenvolver em um projeto maior, denominado Histórias da loucura, do qual os desenhos de Juquery serviriam de capítulo inicial.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Luiza Proença, curadora-assistente, MASP.
Novo espaço expositivo
O projeto expositivo ocupa um novo espaço no primeiro subsolo do MASP, dividido em duas salas. Uma delas é inteiramente dedicada aos 42 desenhos de Albino Braz, artista cujas obras foram exibidas na sessão Imagens do inconsciente, da mostra Brasil 500 anos - artes visuais, em 2000, em São Paulo. A outra sala recebe mais de 50 desenhos dos artistas Pedro Cornas (o estudioso), J. Q., Claudinha D’Onofrio, Pedro dos Reis, Sebastião Faria, A. Donato de Souza, Marianinha Guimarães, Armando Natale, Augustinho, H. Novais.
Desenvolvido pela METRO Arquitetos, o projeto prevê a divisão do espaço, cujas paredes são de vidro, em dois ambientes separados, configurados por um sistema flexível de painéis em estrutura metálica, soltos do chão, o que permitirá outras configurações futuras. No interior dessas salas serão expostas as obras de arte, protegidas da incidência de luz direta. O objetivo é manter a transparência dos espaços do museu, sem comprometer a conservação dos desenhos, naturalmente frágeis, por serem, em sua maioria, de lápis sobre papel.
Complementando a exposição, o MASP lança um catálogo integral, com a reprodução de todos os desenhos apresentados na mostra. Dois ensaios introduzem a publicação: um de autoria de Kaira M. Cabañas, professora visitante do Departamento de Letras da PUC-RJ, e outro concebido pela direção artística do MASP, que assina a curadoria da exposição.
Sobre o Dr. Osório Thaumaturgo César
Nasceu em 17 de novembro de 1895 em João Pessoa e faleceu em 3 de dezembro de 1979 em Franco da Rocha, cidade do Hospital Psiquiátrico do Juquery. Há poucas informações conhecidas a respeito da vida e da família de Osório na Paraíba. Sabe-se apenas que ele se mudou para São Paulo, em 1912, para estudar odontologia. Terminado o curso, ele se matriculou na Faculdade de Medicina de São Paulo em 1918 e formou-se na de Medicina da Praia Vermelha no Rio de Janeiro em 1925. Em 1923, ingressou como estudante no Hospital Psiquiátrico do Juquery e começou a trabalhar nessa instituição como médico anamotopatologista de 1925 até 1964, quando se aposentou em consequência da pressão militar. Foi casado com a artista Tarsila do Amaral.
Sobre o Juquery
O Hospital Psiquiátrico do Juquery, ora denominado Asilo de Alienados do Juquery, foi inaugurado em 1898. O projeto arquitetônico foi concebido por Ramos de Azevedo e a administração das primeiras décadas do complexo ficou a cargo do médico psiquiatra Francisco Franco da Rocha, que dá nome à cidade-sede do hospital. Atualmente, o Complexo Hospitalar Juquery desenvolve uma política antimanicomial, com atividades ligadas à saúde e ao bem estar da população paulistana.