Esta mostra aborda a vida, a obra e o legado da arquiteta, designer, curadora, editora, cenógrafa e pensadora ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Lina é autora de dois edifícios icônicos localizados na cidade de São Paulo: o MASP e o Sesc Pompeia—centro de cultura e lazer. Ambos revelam as características marcantes de sua arquitetura e de seu pensamento, com sua extraordinária fusão do modernismo europeu com a cultura popular brasileira. Casada com Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor fundador do MASP, Lina chegou ao Brasil em 1946, aos 31 anos. Aqui, ela mergulhou profundamente nas diversas culturas do país, fazendo de seu habitat sul-americano o ambiente de criação de sua linguagem única e radical.
A exposição toma emprestado o título da revista Habitat, fundada por Lina e Pietro, e editada por ambos entre 1950 e 1953, uma publicação que inovou o design gráfico e a crítica de arte e arquitetura no Brasil. A mostra procura posicionar Lina como uma intelectual polivalente e multidisciplinar e uma verdadeira pensadora da cultura de seu tempo.
Assim, revisamos suas contribuições para os campos da arquitetura, do design, da crítica, da curadoria e da museologia. Uma exposição por si só não daria conta desse projeto, daí a importância da publicação que editamos por essa ocasião, que inclui textos de Lina e sobre ela. Tanto a mostra quanto o livro estão organizados em três seções apresentadas na galeria do primeiro subsolo: O habitat de Lina Bo Bardi; Da Casa de Vidro à cabana e Repensando o museu. Lina tem uma profunda relação com o MASP: é autora do projeto deste edifício, inaugurado em 1968, e concebeu expografias na antiga sede do museu na rua 7 de Abril, desde sua fundação, em 1947. Também organizou algumas das mais emblemáticas exposições no MASP, como A mão do povo brasileiro, em 1969, e África negra, em 1988. Por essa razão, uma seção especial da mostra é dedicada ao MASP.
Esta exposição interpreta a produção de Lina como um processo de “desaprendizagem” de conhecimentos e de perspectivas ocidentais desenvolvido por ela desde sua chegada ao Brasil e aprofundado em suas viagens pelo Nordeste brasileiro e no período em que morou em Salvador, nos anos 1950 e 1960. Essa abordagem possibilita ler a obra de Lina como uma forma de ultrapassar as fronteiras das narrativas canônicas da arquitetura moderna e do museu, incorporando outros vocabulários e saberes, como o popular, o indígena e o afro-brasileiro.
CURADORIA Julieta González, diretora artística, Museo Jumex, Cidade do México; José Esparza Chong Cuy, antigo Pamela Alper curador associado, Museum
of Contemporary Art Chicago; e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP
Os verbetes com comentários dos projetos foram escritos por Adriano Pedrosa, Denis Joelson, Guilherme Giufrida, Tomás Toledo e Vanessa Mendes