O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta em 2025 uma programação dedicada às Histórias da ecologia. Exposições, cursos, palestras, oficinas, seminários e publicações abordarão a crise climática e a relação do ser humano com o meio ambiente, em conexão com a cultura visual e as práticas artísticas. As atividades ocorrerão nos dois edifícios que compõem o museu - a sede original nomeada Lina Bo Bardi e no novo prédio Pietro Maria Bardi, que será aberto para o público em março de 2025.
Histórias da ecologia reunirá artistas, coletivos e ativistas de diversas partes do mundo que, por meio de suas criações, respondem às crises climáticas, políticas, territoriais e sociais. A proposta curatorial investigará as relações entre os seres vivos, suas criações e o meio em que vivem. O termo “ecologia” foi escolhido em detrimento do termo “natureza”, entendendo o humano como parte de um ecossistema complexo e não separado, ou hierarquicamente superior a ele.
O programa do ano dá sequência às exposições dedicadas às Histórias no MASP, realizadas desde 2016 e que incluem Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018), Histórias das mulheres, histórias feministas (2019), Histórias da dança (2020), Histórias brasileiras (2021-22), Histórias indígenas (2023) e Histórias LGBTQIA+ (2024).
Celebrando a abertura das novas galerias do edifício Pietro Maria Bardi em março, serão apresentados cinco ensaios sobre o MASP, que incluem obras de Renoir e Artes da África, além de uma mostra dedicada às Histórias do MASP e uma vídeo-instalação inédita no país do artista Isaac Julien, que reflete as dimensão poéticas do legado da arquiteta e designer Lina Bo Bardi.
Como parte da programação anual de atividades culturais no vão livre do MASP, que incluirá diversas atividades propostas pela área de Mediação e Programas Públicos, o museu apresenta a instalação interativa, O Outro, Eu e os Outros, do artista colombiano Iván Argote que convida o público a uma reflexão sobre o papel do indivíduo no coletivo e no espaço público.
Confira a programação do MASP para 2025:
Ensaios sobre o MASP
Pierre-Auguste Renoir
28.3 — 3.8.2025
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Fernando Oliva, curador, MASP
A exposição sobre Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) exibirá as treze obras do artista presentes no acervo do MASP. Composta por doze pinturas e uma escultura, a mostra abrange praticamente toda a carreira do artista francês. Entre as pinturas europeias da coleção do MASP, esta constitui o maior número de obras de um único artista. A última vez que esse conjunto foi exposto em sua totalidade foi há 23 anos, em abril de 2002, no próprio museu, na mostra “Renoir - O pintor da vida”.
As obras de Renoir foram adquiridas durante o chamado período das grandes aquisições quando, entre o final da década de 1940 e início dos anos 1950, Pietro Maria Bardi (1900-1990), diretor-fundador do MASP, incorporou ao acervo trabalhos de artistas do cânone europeu, a maioria deles italianos e franceses, que hoje compõem o maior e mais importante acervo de arte ocidental do Hemisfério Sul.
Nascido em Limoges, na França, em 1841, Renoir foi um dos principais pintores do movimento impressionista francês, conhecido por suas pinturas de cores vibrantes, caracterizadas pelo uso da luz e cor, pinceladas fluidas e uma atenção especial à figura humana, especialmente em cenas de cotidiano e retratos. Renoir começou sua carreira como aprendiz de pintor de porcelana, mas logo se dedicou à pintura em tela, onde desenvolveu um estilo que evoluiu do impressionismo ao realismo. Ainda na juventude conheceu Claude Monet (1840‑1926), quando frequentava ateliês e estudava na École de Beaux‑Arts de Paris. Com Camille Pissarro (1830‑1903) e Alfred Sisley (1839‑1899), formaram o primeiro núcleo dos impressionistas, que renovaram a técnica e os temas da pintura da época. Contudo, diferentemente dos colegas que estavam mais preocupados em captar a sensação visual produzida pelo motivo ao ar livre, Renoir se interessou mais pela representação humana nos diversos retratos que pintou, muitos de famílias da elite francesa.
Ensaios sobre o MASP
Histórias do MASP
28.3 — 3.8.2025
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora e de acervo, MASP, Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP
A exposição Ensaios sobre o MASP - Histórias do MASP percorrerá mais de sete décadas de história do museu no contexto da abertura do seu segundo prédio na avenida Paulista, o edifício Pietro Maria Bardi. Inicialmente instalado em um único andar no prédio dos Diários Associados na rua 7 de abril, o Museu de Arte Assis Chateaubriand consolidou seu papel na vida cultural da cidade ao inaugurar sua icônica sede na avenida paulista — agora chamada de edifício Lina Bo Bardi.
Em um viés cronológico, a exposição Ensaios sobre o MASP - Histórias do MASP aborda temas como a formação do acervo, as histórias das exposições no museu, sua extensa programação, bem como as transformações na arquitetura de seus edifícios. Esse momento de expansão também nos convida a refletir sobre a forte presença do MASP no imaginário artístico e cultural paulistano e nacional.
Ensaios sobre o MASP
Artes da África
28.03 — 3.8.2025
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP
A exposição estabelece uma leitura crítica e propositiva sobre a coleção de arte africana do MASP que reúne cerca de 120 itens e obras provenientes da África, que abrangem desde peças do Egito Antigo até alguns trabalhos contemporâneos. A maior parte desse acervo são estatuetas e máscaras do século 20, incorporadas ao acervo do museu ainda nas primeiras décadas de sua formação. Essas obras provêm principalmente da porção ocidental do continente, de grupos como os Guro, Senufo e Baule, da atual Costa do Marfim; Dogon e Bambara, da República do Mali; Mossi e Bobo-Quele, da Burkina Fasso; Baga, da Guiné; Ashanti, de Gana; Wobe-Guere, da Libéria; Mumuye, Ibibio e, predominantemente, Iorubá, da atual Nigéria. Recentemente, o museu também recebeu um tambor Chokwe, da Angola, contabilizando cerca de 70 peças que são o cerne de Ensaios sobre o MASP - Artes da África.
Para esta leitura atualizada e singular da coleção de artes da África, o MASP convidou o escritório da arquiteta Gabriela de Matos que, em colaboração com as curadoras, pesquisará formas de expor objetos de cultura material que escapem das convenções dos museus etnográficos. Além disso, dois artistas brasileiros, biarritzzz e Pedro Ivo Cipriano, vão produzir obras especialmente em diálogo com esse conjunto de peças, como uma maneira de explicitar os lastros e transformações das tradições africanas na cultura brasileira.
Ensaios sobre o MASP
Isaac Julien: Lina Bo Bardi — um maravilhoso emaranhado
28.03 — 3.8.2025
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, com assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
Isaac Julien (Londres, Reino Unido, 1960) é um artista e cineasta que, por meio de narrativas audiovisuais e instalações multimídia, tensiona os limites entre diferentes práticas artísticas, como arquitetura, fotografia, música e pintura. A vídeo-instalação Um maravilhoso emaranhado (Marvellous Entanglement) foi apresentada pela primeira vez em Londres, em 2019. Composta por nove projeções simultâneas em telas de grandes formatos, os vídeos captam imagens de edifícios icônicos de Lina Bo Bardi (1914-1992), realçando a dimensão poética do legado da visionária arquiteta e designer modernista. O trabalho enfatiza as ideias sociais, políticas e culturais de Bo Bardi, junto a reflexões filosóficas formuladas em artigos e cartas de sua autoria. O título da exposição deriva do trecho: “O tempo linear é uma invenção ocidental; o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo nem fim.” – Lina Bo Bardi.
Gravado em São Paulo (no Museu de Arte de São Paulo-MASP, no Sesc Pompeia e no Teatro Oficina) e em Salvador (no Museu de Arte Moderna, no Restaurante Coaty e no Teatro Gregório de Mattos), o filme é protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que interpretam os escritos de Bo Bardi sobre o potencial social e cultural da arte, arquitetura e design em diferentes estágios de sua vida. Conta ainda com uma coreografia especialmente encenada pelo corpo de baile do Balé Folclórico da Bahia, performances do coletivo de arte brasileiro Araká, além da participação do ator, diretor, dramaturgo José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), co-fundador do Teatro Oficina de São Paulo, que trabalhou em colaboração estreita com Bo Bardi. A trilha sonora foi criada pela compositora germano-espanhola Maria de Alvear.
Ensaios sobre o MASP
Geometrias
28.3 — 3.8.2025
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
A exposição Ensaios sobre o MASP - Geometrias reunirá cerca de 40 trabalhos do acervo que se relacionaram com a abstração geométrica. A mostra apresenta desde artistas concretos e neoconcretos, como Judith Lauand (1922-2022) e Hélio Oiticica (1937-1980), até artistas contemporâneos como Delson Uchoa e Beatriz Milhazes. Artistas que trabalharam com a geometria a partir de abordagens menos formalistas também estão incluídos. Entre eles, Rubem Valentim (1922-1991), que desenvolveu um sistema de símbolos afro-brasileiros; Alfredo Volpi (1896-1998), que explorou as formas de fachadas de casarios coloniais e de bandeirinhas de festas populares; e artistas indígenas como Daiara Tukano, que trabalham com grafismos ligados às cosmogonias de seu povo.
A mostra evidencia a diversidade de aplicações de formas geométricas na arte, estabelecendo um diálogo entre diferentes épocas, técnicas e perspectivas culturais. É uma oportunidade para refletir como a geometria pode se desdobrar em diferentes linguagens que transcendem barreiras geográficas e temporais, em uma multiplicidade de vozes e contextos.
A presença da abstração no acervo do MASP tem progressivamente se ampliado nos últimos anos. Assim, foram incorporados à coleção fotografias de Geraldo de Barros (1923-1998) e trabalhos de Alexander Calder (1898-1976); e mais recentemente, por meio de importantes doações, as de obras de Laura Lima e Melissa Cody, além de comodatos de peças de Lygia Clark (1920-1988) e Arthur Luiz Piza (1928-2017).
Iván Argote: O Outro, Eu e os Outros
28.03.2025
Vão Livre
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, com assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
Iván Argote (Bogotá, Colômbia, 1983) é um artista e cineasta colombiano radicado em Paris que realiza filmes, fotografias, esculturas e performances, além de instalações de grandes dimensões, muitas vezes construídas para espaços públicos. Seus trabalhos problematizam as relações do homem contemporâneo com as estruturas de poder, os sistemas de crenças e os espaços urbanos.
Para o Vão Livre, Argote desenvolveu duas gangorras coletivas, de grandes dimensões (15 x 5 x 2 m), cada qual composta de uma plataforma basculante que se inclina ora para um lado ora para outro, dependendo do número de visitantes e da posição em que se encontram. As gangorras evidenciam a relação entre os sujeitos e permitem que os participantes tomem consciência de si e do outro em um espaço compartilhado.
Em 2024, Argote participou da 60ª Bienal de Veneza e instalou uma escultura no High Line de Nova York, além de ter realizado exposições individuais em Copenhague, Dallas, Berlim e Ardez, na Suíça.
Hulda Guzmán: Frutas Milagrosas
11.4 — 24.8.2025
1° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora, MASP
Hulda Guzmán (Santo Domingo, República Dominicana, 1984) é reconhecida por retratar, por meio da pintura, seus arredores tropicais e caribenhos enquanto explora planos, perspectivas e realidades, povoadas por um elenco tecnicolor de seres humanos, animais, plantas antropomórficas e criaturas imaginárias. A exposição aborda a relação de Guzmán com a paisagem impressionista, destacando sua contribuição ao gênero ao mesclar a paisagem com características arquitetônicas, realismo mágico e muralismo mexicano.
As narrativas em suas telas ocupam realidades contraditórias e oníricas. Personagens descansam em praias paradisíacas ao lado de apartamentos abandonados, dançam em pistas que se estendem até a floresta tropical e perseguem demônios por interiores elegantes. A exposição celebra uma relação estabelecida em 2017, quando a artista criou a obra Entrega de confiança especialmente para a mostra Histórias da Sexualidade. O trabalho, agora parte da coleção do museu, exemplifica o interesse da artista por cenas eróticas em meio a uma natureza impactada pela abstração e pela arquitetura modernista.
Os interesses peculiares de Guzmán se reapresentam em Venha dançar, comissionada para a mostra Histórias da Dança. Nessa obra, a artista retrata uma clareira exuberante na floresta, onde um grupo de pessoas interage em uma atmosfera hedonista. Ambos os trabalhos servem como ponto de partida para a primeira exposição monográfica da artista na América do Sul.
Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos
11.4 — 3.8.2025
Mezanino, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora, MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP
Arpillera é o nome em espanhol para uma linguagem têxtil figurativa que surgiu no Chile no final dos anos 1960. Durante o regime ditatorial de Augusto Pinochet (1973-1990), essa prática se tornou uma forma de denunciar as violações dos direitos humanos, além de configurar uma importante expressão cultural politicamente engajada e de protagonismo feminino. Em espanhol, "arpillera" significa "juta", o nome da fibra têxtil que recebe bordados que narram histórias de vida, luta e resistência das autoras e seus contextos. A produção chilena inspirou diversas mulheres e movimentos sociais ao redor do mundo, espalhando-se por países da América Latina, Europa e Ásia, e continua sendo uma relevante ferramenta de memória, educação popular e reivindicação de direitos.
No Brasil, essa forma de expressão inspirou o Coletivo Nacional de Mulheres do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens – um movimento social brasileiro, auto-organizado, surgido na década de 1980 e que luta pelo direito das pessoas atingidas, reivindica um Projeto Energético Popular e uma transformação social estrutural.
A exposição Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos apresentará cerca de 30 trabalhos, produzidos entre 2013 e 2024, por mulheres que se reúnem em oficinas organizadas pelo MAB em todo o território nacional. Usando materiais cotidianos, como fragmentos de tecidos e roupas, linhas e agulhas, elas produzem peças têxteis que abordam temas como violência doméstica, a ruptura de vínculos entre a terra e a comunidade devido à construção de barragens, violência contra crianças e adolescentes, falta de acesso à água potável e energia elétrica, e os impactos da poluição de rios e das barragens na pesca e na subsistência das famílias, entre outras violações aos direitos humanos e ambientais.
O MASP e o MAB já colaboraram em projetos anteriores, como na performance realizada pelas mulheres do MAB com a artista colombiana Carolina Caycedo na exposição Histórias Feministas: artistas depois de 2000 (2019) e na presença de arpilleras no núcleo Terra e Território da mostra coletiva Histórias Brasileiras (2022) – ocasião em que uma delas foi adquirida para o Acervo do MASP.
A Ecologia de Monet
16.5 — 24.8.2025
1° andar, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Fernando Oliva, curador, MASP, com assistência de Isabela Loures, assistente curatorial, MASP
A exposição A Ecologia de Monet explora o vínculo entre o icônico artista impressionista Claude Monet (Paris, França, 1840—1926, Giverny, França) e o meio ambiente, integrando o programa curatorial do museu para 2025 dedicado ao ciclo de Histórias da Ecologia.
A relação do pintor impressionista com a natureza abrange toda a sua obra, tornando-se mais complexa ao longo dos anos. O artista se dedicou à pintura de paisagem desde sua produção inicial, das cenas marítimas na Normandia, ao norte da França, ou da Floresta de Fontainebleau, até suas pinturas em série realizadas a partir de seu jardim em Giverny durante suas últimas décadas de vida.
A representação do mundo natural por Monet, por meio de uma perspectiva ecológica, prova-se ainda mais radical quando comparada às convenções da arte acadêmica do período, que tratavam a pintura de paisagem como um gênero menor. Essa abordagem lança novas luzes sobre o trabalho do artista ao explorar temas como os impactos das transformações dos meios de produção e das dinâmicas sociais sobre o imaginário impressionista; a percepção do mundo natural como uma economia complexa e interdependente, evidente em algumas de suas obras; e o princípio de uma consciência ecológica, que em Monet e outros pintores abrangem tanto a biologia quanto a fenomenologia.
Frans Krajcberg: reencontrar a árvore
16.5 — 19.10.2025
2° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP
Frans Krajcberg (Kozienice, Polônia, 1821—2017, Rio de Janeiro, Brasil) foi pioneiro no cruzamento entre arte e ecologia, precursor em dar visibilidade às questões ambientais no território brasileiro. O artista trabalhou a partir de resquícios de troncos, cipós, raízes e madeira calcinada, explorando pigmentos naturais, para produzir obras em que os elementos naturais são a própria matéria de sua arte. Krajcberg provocou uma virada radical nas convenções da escultura, além de desafiar fronteiras entre desenho, gravura e pintura.
Krajcberg chegou ao Brasil nos anos 1950, onde desenvolveu seu trabalho como artista. A partir dos anos 1960, passou a viajar à Amazônia e ao Pantanal, coletando resquícios de troncos em áreas de queimadas. Suas preocupações com o drama ambiental tornaram-se indissociáveis de sua arte. Engajou-se em denunciar queimadas e a violência do extrativismo desenfreado, conferindo ao seu trabalho um cunho altamente político. Krajcberg produziu por mais de seis décadas um corpo de obra chave no contexto das Histórias da ecologia, que se torna cada vez mais pertinente na urgência da crise climática que vivemos hoje. Esta será a primeira exposição monográfica dedicada ao artista no MASP e evidenciará como a relação de Krajcberg com a natureza, inicialmente como motivo e matéria de sua arte, desdobrou-se em seu papel como ativista.
Histórias da ecologia
5.9.2025 — 1.2.2026
Edifício Pietro Maria Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, André Mesquita, curador, MASP, e Isabella Rjeille, curadora, MASP, com assistência de Teo Teotônio, assistente curatorial, MASP
Tema do ciclo curatorial de 2025, Histórias da ecologia será uma coletiva internacional que ocupará cinco andares do edifício Pietro Maria Bardi, novo espaço do MASP. Em um contexto marcado pela intensificação de crises climáticas, políticas, territoriais e sociais, Histórias da ecologia investiga como artistas, coletivos e ativistas de diversas partes do mundo respondem ao tempo presente e compreendem as relações entre os seres vivos, suas criações e o meio em que vivem. O termo “ecologia” foi escolhido em detrimento do termo “natureza”, compreendendo o humano como parte de um ecossistema complexo e não separado ou hierarquicamente superior a ele.
A exposição parte do entendimento de que a ecologia é um sistema de relações. Organizada em cinco núcleos, a mostra abordará as diferentes ideias de tempo como um elemento organizador da vida; bem como os efeitos dos deslocamentos forçados e dos processos migratórios causados tanto por modelos extrativistas de produção quanto por efeitos das mudanças climáticas. Além disso, a exposição oferecerá um olhar aprofundado sobre os sistemas de interdependência entre seres humanos e não-humanos, abarcando diferentes maneiras de habitar o mundo que consideram a complexidade e a interrelação de diferentes formas de vida.
Histórias da ecologia busca compreender como a arte e a sociedade reagem e se adaptam ao meio ambiente ao longo da história, ao mesmo tempo em que nos convida a considerar ações no presente e imaginar futuros possíveis.
Clarissa Tossin: ponto sem retorno
10.10.2025 — 1.2.2026
1º andar, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP
Esta é a primeira exposição individual da artista Clarissa Tossin (Porto Alegre, 1973) em uma instituição de arte no Brasil. A mostra abrange peças de 2008 até o presente, incluindo instalações, esculturas, tecelagens, imagens em movimento e um conjunto de novas obras encomendadas pelo MASP especificamente para esta mostra.
A artista gaúcha radicada em Los Angeles aborda em seu trabalho questões relacionadas ao aquecimento global a partir de diversos materiais, em geral, resíduos industriais da sociedade de consumo, como plástico reciclado, látex derivado do extrativismo na Amazônia e caixas de entrega da loja online Amazon, entre outros. Na obra de Tossin, réplicas de objetos descartados e partes do corpo humano e de plantas aparecem como fósseis, traços de um tempo e lugar perdidos que ecoam na forma de sedimentos arqueológicos.
A exposição apresenta uma das obras mais emblemáticas e monumentais de Tossin, Mortes por onda de calor (Acer pseudoplatanus, Floresta de Mulhouse), de 2021, nunca antes vista no Brasil, criada a partir de uma grande réplica de silicone de uma árvore que morreu por calor excessivo e falta de água na floresta de Mulhouse, na França.
Mais recentemente, Tossin observa na exploração espacial uma atualização do colonialismo extrativista, ligando a degradação ambiental na Terra com planos de mineração e extração de recursos em corpos celestes. Estabelece, assim, conexões entre a emergência climática no planeta Terra e a exploração projetada da atmosfera terrestre e além, revelando como a ambição de mapear o território para fins extrativos está sendo novamente atualizada.
Abel Rodríguez: o nomeador de plantas
10.10.2025 — 1.2.2026
1° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP
Abel Rodríguez (Cahuinarí, Colômbia, 1944) nasceu às margens do Rio Cahuinarí, na Amazônia colombiana, e seu nome indígena é Mogaji Guihu, sendo originário das comunidades Nonuya e Muinane. Foi treinado desde a infância para ser um sabedor, isto é, um depositário dos conhecimentos sobre as espécies botânicas da floresta, seus usos práticos e simbólicos. Nos anos 1990, fugindo dos conflitos armados em sua região natal, mudou-se para Bogotá, onde, em contato com a ONG holandesa Tropenbos, foi incentivado a desenhar para registrar e compartilhar suas memórias.
Ao contrário da tradição do desenho botânico ocidental, que isola os elementos representados, os desenhos de Rodríguez em grafite e aquarela mostram ciclos, interações entre diversas espécies e a ação do tempo na floresta. Feitos a partir de memórias, têm inscrições em espanhol e Nonuya, descrevem os sabores das frutas, os usos medicinais das plantas e quais animais se alimentam delas. A “árvore da vida” é outro tema recorrente em sua produção e narra o principal mito de origem dos Nonuya.
Rodríguez tem participado desde os anos 2000 de diversas mostras, entre as quais Documenta de Kassel (2017), Bienal de São Paulo (2021), Bienal de Sydney (2022) e Bienal de Veneza (2024). A exposição do artista no MASP será sua primeira individual no Brasil e a primeira com uma publicação dedicada à sua produção. Reunirá trabalhos de diferentes momentos de sua obra, desde os anos 1990 até peças recentes, mostrando suas relações com o pensamento Nonuya-Muinane e as fricções culturais pelas quais o artista passou ao se mudar para Bogotá.
Minerva Cuevas: ecologia social
5.12.2025 — 8.3.2026
2° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP
Minerva Cuevas (Cidade do México, 1975) é uma artista conceitual mexicana que desenvolve projetos que dialogam com antropologia, história e ciências naturais. Sua obra abrange diversos suportes e mídias, como instalação, muralismo, pintura, vídeo e performance.
No ano de Histórias da ecologia no MASP, Cuevas abordará pelo menos três aspectos de seu trabalho. O primeiro diz respeito às suas investigações sobre os impactos do mundo corporativo na vida cotidiana. Cuevas se apropria de logomarcas, campanhas de marketing, slogans e símbolos de grandes empresas para discutir temas como consumo, valor e propriedade. O segundo aspecto a ser explorado na exposição está relacionado ao subtítulo, inspirado no conceito de “ecologia social”, desenvolvido pelo filósofo estadunidense Murray Bookchin (1921-2006). Para Bookchin, os problemas ecológicos estão interligados a questões sociais, especialmente em sistemas políticos hierarquizados. Sobre essas questões, Cuevas realiza trabalhos fotográficos, vídeos e instalações que abordam as demandas de movimentos ligados a questões ambientais, a defesa das terras de povos originários e a necessidade de deslocamentos migratórios.
Por fim, o terceiro ponto da mostra se concentra na exploração marinha de recursos naturais, particularmente realizada por companhias petrolíferas. Em várias séries de pintura, escultura, vídeo e fotografia, Cuevas expõe as consequências econômicas e sociais da extração comercial de petróleo. O piche (chapapote, em espanhol) é utilizado como elemento em suas pinturas e para cobrir objetos, evocando tanto a tradição pré-hispânica de pintar objetos cerimoniais quanto os acidentes de derramamento de petróleo nos oceanos, resultantes da perfuração por plataformas de extração e vazamentos de navios.
Sala de vídeo
2° subsolo, Edifício Lina Bo Bardi
Janaína Wagner (São Paulo, 1989, vive em São Paulo, Brasil)
7.2.25 — 30.3.25
Curadoria: Leandro Muniz, curador assistente, MASP
A artista Janaina Wagner (São Paulo, SP, 1989) produz vídeos, fotografias, desenhos e instalações que misturam registros históricos e ficções, reflexões críticas e mitologias diversas a respeito de temas como crise climática, paisagem e como as interações humanas formam o espaço. A artista parte de trechos da história do cinema e da literatura para criar outras histórias, agregando complexidade às originais.
Inuk Silis Høegh (Qaqortoq, 1972, vive em Qaqortoq, Groenlândia)
11.4.25 - 1.6.25
Curadoria: Teo Teotônio, assistente curatorial, MASP
Inuk Silis Høegh (Qaqortoq, Groenlândia, 1972) é um artista e cineasta cujo trabalho elabora questões sobre as mudanças climáticas e os processos coloniais na Groenlândia. Filho de artistas, cresceu imerso em exposições e se inseriu profissionalmente no meio artístico a partir da produção audiovisual e escultórica, principalmente com documentários e instalações de grandes dimensões. Høegh se interessa pela relação entre humanidade e natureza, focando nos processos políticos e culturais do seu país e em como eles afetam os povos originários inuítes e o meio ambiente.
The Green Land [A terra verde] (2021) apresenta registros das intervenções visuais realizadas pelo artista na paisagem de sua terra natal, que enfrenta grandes mudanças devido ao aumento da temperatura média global. Com um ritmo lento e meditativo, o vídeo tematiza os quatro elementos naturais, todos representados por diferentes materialidades da cor verde. Água, fogo, terra e ar aparecem em momentos distintos, ora invadindo as monumentais montanhas e geleiras, ora integrando-se ao cenário. A cor, que dá nome ao país em inglês, é usada no trabalho como uma potência de transformação, seja pela recuperação da fauna e da flora, seja por sua degradação.
Vídeo nas Aldeias (Brasil, coletivo fundado em 1986)
13.6.25 - 10.8.25
Curadoria: Isabela Loures, assistente curatorial, MASP
O Vídeo nas Aldeias é um projeto audiovisual criado em 1986 com o propósito de fortalecer o cinema indígena brasileiro. Idealizado por Vincent Carelli (Paris, França, 1953), o Vídeo nas Aldeias se dedicou, inicialmente, a registrar a cultura de diferentes povos indígenas brasileiros, apresentando as filmagens para as próprias comunidades. A partir de 1997, o projeto expandiu suas atividades para incluir oficinas audiovisuais realizadas junto a esses povos e passou a distribuir equipamentos de filmagem para que os participantes tivessem autonomia na representação de sua própria cultura. Desde então, a formação de cineastas indígenas e o suporte técnico para a produção de filmes se tornaram pilares fundamentais da atuação do projeto.
Os filmes produzidos formam um acervo plural que reflete a diversidade dos povos indígenas brasileiros. A sala de vídeo dedicada ao Vídeo nas Aldeias pretende destacar filmes produzidos pelo projeto em parceria com comunidades indígenas, os quais abordam formas distintas de lidar com a terra e com o meio ambiente, retratando aspectos de suas culturas e cosmologias, além da urgente luta pela demarcação territorial.
Tania Ximena (Hidalgo, 1985, vive entre Cidade do México e Xalapa, México)
22.8.25 - 28.9.25
Curadoria: Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
A primeira exposição individual de Tania Ximena (Hidalgo, México, 1985) no Brasil, apresentada na sala de vídeo, investiga as complexas relações entre humanidade, natureza e ciclos de transformação do planeta. A artista constrói narrativas que atravessam tempos geológicos e históricos, conectando formas de vida animadas e inanimadas, naturais e espirituais, manifestas em minerais, vegetais, animais, céu, terra e água. Por meio de imagens que combinam registros documentais, intervenções espaciais e fabulações poéticas, Ximena reflete sobre os impactos da ação humana no meio ambiente, apresentando a paisagem como protagonista de processos decisivos. Em sua obra, a paisagem não é apenas território ou recurso a ser explorado, mas um agente ativo que possibilita a existência humana.
Seu trabalho aborda desde rituais ancestrais que atraem chuva em regiões áridas e saberes tradicionais capazes de revelar cursos hídricos subterrâneos, até o derretimento de geleiras causado pelas mudanças climáticas. A artista navega por paisagens como vulcões, geleiras, rios e desertos, revelando a resiliência inerente à natureza e seus contínuos ciclos de transformação. Onde antes havia gelo, surge outro ecossistema. O que está em jogo não é a existência da Terra, mas a sobrevivência da humanidade nela. A obra de Ximena convida à reflexão sobre a interseção entre narrativas locais e formas não predatórias de existência.
Emilija Škarnulytė (Vilnius, 1987, vive em Vilnius e Tromsø, Noruega)
10.10.25 - 23.11.25
Curadoria: Daniela Rodrigues, Supervisora, MASP
Emilija Škarnulytė (Vilnius, Lituânia, 1987) é artista e cineasta, trabalha na interseção entre o documental e o imaginário, entre o factual e o fantasioso. Através de narrativas poéticas e imagens impactantes – capturadas, modeladas em 3D ou reinterpretadas, e apresentadas de maneira imersiva –, Škarnulytė reflete sobre dilemas urgentes de nosso tempo. A sala de vídeo recebe a primeira exposição da artista no Brasil e na América do Sul.
Seus filmes exploram diversas paisagens, como o encontro de rios, cidades, servidores de dados submersos, zonas com níveis baixíssimos de oxigênio e oceanos profundos. Seu olhar investigativo sobre as cicatrizes deixadas pela humanidade no planeta nos coloca em contato com tempos geológicos, de milhares de anos de formação da Terra, até futuros distópicos, nos quais a ficção científica toma lugar. Seres que habitam suas imagens, como a sereia que a própria artista performa em alguns filmes, nadam por águas pré-históricas ou pós-humanas, refletindo sobre a fragilidade ecológica ao longo do tempo e sobre as relações entre o natural e o humano.
Maya Watanabe (Lima, Peru, 1983, vive em Amsterdã, Holanda)
5.12.25 - 25.1.26
Curadoria: Glaucea Britto, curadora assistente, MASP
A artista e pesquisadora Maya Watanabe (Lima, Peru, 1983) atua com performance, vídeo e instalações de vídeo multicanal que exploram os limites da representação, especialmente em contextos de violência política. Por meio de uma abordagem que investiga os possíveis espaços de interseção entre memória pessoal e memória histórica, a artista torna tangível a tensão e a violência que caracterizam os conflitos internos de seu país natal, o Peru, assim como de outras realidades ao redor do mundo. A artista evidencia como esses cenários impactam os modos de vida na contemporaneidade e produzem lacunas nas paisagens emocionais das pessoas atingidas.
Acervo em transformação
Durante todo o ano de 2025
2o andar, Edifício Lina Bo Bardi
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Regina Teixeira de Barros, curadora de acervo, MASP, com assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP
A mostra de longa duração do MASP reúne obras pertencentes ao acervo do museu expostas nos icônicos cavaletes de cristal concebidos pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Dentre as obras que integram o acervo, estão O escolar (O filho do carteiro – Gamin au Képi) (1888), de Vincent Van Gogh; Composição (Figura só) (1930), de Tarsila do Amaral, e Okê Oxóssi (1970), de Abdias Nascimento. Com o intuito de propor novas leituras e abordagens, são realizadas constantes atualizações dos trabalhos ao longo do ano, apresentando as diversas facetas da coleção.
SERVIÇO
MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis e primeira quinta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entrada
até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)