A sobrevivência da humanidade depende, fundamentalmente, da garantia da diversidade, seja ela biológica e/ou cultural. Neste curso, propomos contextualizar, desde uma abordagem teórico-histórica no âmbito das nas artes e a partir do século 20, práticas estético-políticas dissidentes de sexo e gênero que configuram estratégias de resistência.
Ao investigarmos ecologias queer/cuir e ecofeminismos, examinaremos as possibilidades de construção de cartografias contra-normativas nas historiografia contemporânea das artes visuais brasileiras, com foco em experimentações metodológicas que propõem formas inovadoras de habitar, e observar, o planeta, a partir da diferença.
Reuniremos um conjunto de estratégias de auto-representação, e auto-preservação, visando expandir o acesso aos arquivos abertos destes movimentos, e coletivos, cujas práticas de coexistência vivenciamos como parte constitutiva do fim do mundo de hoje.
Experimentando um arco temporal que transpassa períodos distintos, constelando proposições emergentes de múltiplos contextos, tais como Madame Satã ou os levantes transfeministas dos anos 2010, exploraremos os modos como, desde a modernidade da sociedades ocidentais, a diversidade é cerceada pela imposição de separações binárias; como as dicotomias homem versus mulher, ou humanidade versus natureza.
Frente ao complexo panorama atual - no qual promulgam-se jurisprudências em favor de rios como agentes naturais de direito público (exemplo equatoriano de desdobramentos atuais no cenário latinoamericano, onde nasce a teoria do Bem Viver), ao mesmo tempo em que avançam legislações que põem em riscos territorialidades originárias no Brasil - buscaremos reunir saberes situados, com foco na inter-relação entre políticas e estéticas.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 17.10.2023
Teoria: queer/cuir - perspectivas críticas da cultura contra-normativa
Desenvolveremos uma reflexão teórica - com base nos estudos queer, e cuir - acerca dos modos de subjetivação instrumentalizados na produção da normatividade, traçando um itinerário que exercita enfoques tais como a diversidade dos corpos, a práxis das sexualidades e a performatividade de gênero; enquanto formas de incidir no debate público através de insurreições críticas contra o ordenamento sexo-gênero estabelecido.
Aula 2 – 24.10.2023
História: diversidade nas artes do corpo e dos corpos na arte
A partir de um olhar queerizado, investigaremos genealogias de práticas sexo e gênero dissidentes - em que a arte emerge como espaço e tempo de liberdade, frente aos dispositivos de controle dos corpos - historicizadas por meio de distintos levantes, ocorridos sobretudo entre o final do século 20 e o começo do 21, no Brasil.
Aula 3 – 31.10.2023
Crítica: corpos em rede - auto-representação e auto-preservação
O combate ao apagamento da história, memória e patrimônio (estratégia política histórica da modernidade, sobretudo a de base colonial) das práticas culturais que documentam as lutas pela diversidade, empreendido via experimentações curatoriais de auto representação queer/cuir, será objeto de estudo deste encontro, cujo objetivo é dar a ver agenciamentos de vozes, e de lugares de escuta, como método de trabalho para a articulação discursiva através de mediações sociais com base em memórias coletivas.
Aula 4 – 7.11.2023
Economia: biodiversidade como valor humano - ecologias queer/cuir
Estudaremos modos de habitar o planeta, em plena decomposição dos sistemas econômicos modernos, que dialogam com o saber, e fazer, de povos originários, organizações ecofeministas, articulações sexo e gênero dissidentes, dentre muitas outras proposições contra-normativas que constituem um léxico contemporâneo que agrega distintas maneiras de abordar a sobrevivência perante o que denominou-se Antropoceno.
Aula 5 – 14.11.2023
Política: há diversidades - estratégias de resistência de corpos distópicos
Identificaremos como artistas e ativistas estão reagindo à crise ambiental, que engloba diferentes conflitos sociais, identificando vertentes de enfrentamento frente à múltiplas problemáticas imbricadas; tais como a diminuição maciça da biodiversidade, as massivas migrações devido às mudanças climáticas e o recrudescimento da perseguição aos ativistas ecológicos. Exercitaremos respostas à pergunta: como habitar o fim do mundo?
Guilherme Altmayer é ativista, pesquisador e professor adjunto da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ. Doutor e mestre pelo Departamento de Arte e Design da PUC-Rio e membro da Red Conceptualismos del Sur. Pós-graduado em sócio-psicologia pela FESPSP. Desenvolve a pesquisa tropicuir.org sobre memória e arquivo sexo e gênero dissidentes no Brasil. Participou da publicação ‘Pensamento Feminista Hoje: Sexualidades no Sul Global’, do catálogo ‘Antologias’ da exposição Histórias da Sexualidade no MASP e na pesquisa da obra ‘Forma da Liberdade’ na 32a Bienal de São Paulo. Ministrou o curso ‘Outras Histórias da Sexualidade’ nos Estudos Críticos do MASP Escola.