Que imagens nos vem à cabeça quando pensamos em indígenas? Frequentemente o que acessamos faz parte de um repertório imagético oferecido por artistas, viajantes, antropólogos, fotógrafos, cronistas etc., majoritariamente não indígenas. Ao longo do curso, discutiremos como essas imagens configuram uma espécie de discurso oficial sobre a aparência e identidade indígenas e, por consequência, constituem um método de expropriação dessas identidades. O curso buscará analisar as representações feitas por não indígenas com o objetivo de pensar como se estrutura o que chamaremos de poéticas da expropriação nas narrativas hegemônicas, bem como debater sobre as formas de pensar os retratos e (re)tratamentos da imagem indígena.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 3.8.2023
Expropriações identitárias como operação colonial, considerações sobre sua aplicação poética
Pensar a expropriação de identidades indígenas é, antes de tudo, refletir sobre os mecanismos e processos envolvidos nessas ações. É necessário considerar a quem convém as ideologias discursivas que oferecem uma representação ao imaginário público, bem como verificar de que forma elas se modificam ou se perpetuam. Por isso, realizaremos neste primeiro encontro, apoiados nas implicações políticas e jurídicas do conceito, um percurso que irá introduzir a noção de expropriação apresentada ao longo do curso incorporando simultaneamente algumas notas sobre modos de expropriação na representação e sua poética.
Aula 2 – 10.8.2023
A identidade-terra do indígena e as tentativas coloniais de desterritorialização
As expropriações territoriais que o projeto colonial impôs aos povos indígenas se alimentou de argumentos fabricados a partir das expropriações identitárias. Em outras palavras, buscaremos discutir como as duas formas de expropriação estariam intimamente ligadas. Para tal, vamos nos debruçar sobre o conceito de território a partir da perspectiva indígena, bem como debateremos a involução da situação territorial desses povos, uma vez que a expropriação (em ambos os formatos) é uma prática recorrente usada na produção de discursos de representação. As imagens apresentadas buscam refletir sobre as autorrepresentações indígenas em sua dimensão de corpo-território.
Aula 3 – 17.8.2023
Apagando origem: poéticas de invenção da nação brasileira através da expropriação dos povos indígenas
A partir das imagens de representação nas artes e literatura indianistas do século 19 buscaremos identificar alguns fundamentos dessa poética de expropriação, que paralelamente começa a produzir um discurso de identidade demográfica e cultural brasileira. Esses discursos partem de teses que acentuam o apagamento e as expropriações indígenas na perpetuação do sistema de representação colonialista. Ao mesmo tempo, serão apresentadas obras de autorrepresentações indígenas para que sejam colocadas em perspectiva comparada, observando assim o apelo discursivo da poética dessas imagens.
Aula 4 – 24.8.2023
Retomar a terra, retomar a imagem
As mobilizações e lutas ocorridas desde a década de 1970 para que os direitos étnicos, culturais e territoriais dos povos indígenas fossem incluídos na constituição federal de 1988 geraram imagens emblemáticas que marcaram a inserção de lideranças indígenas no cenário político nacional, como por exemplo, o discurso de Ailton Krenak na constituinte. Neste encontro, serão apresentadas algumas imagens para discutir a relevância dessas representações no começo (por vias institucionais) de uma retomada territorial e de autonomia na autorrepresentação.
Aula 5 – 31.8.2023
Os autorretratos contemporâneos e sua função na descolonização do imaginário
Assumindo que nosso imaginário, através desse e de outros conjuntos de imagens, também sofreu uma espécie de colonização, é necessário que façamos uma reflexão sobre como a visualidade ou outras formas de representação ainda insistem em narrativas que expropriam identidades indígenas. Seria possível reverter esse ciclo de imagens colonialistas? A partir de quais gestos? Nesta aula analisaremos algumas autorrepresentações indígenas contemporâneas e refletiremos como elas podem nos oferecer pistas para uma descolonização do imaginário a partir de narrativas contracoloniais.
Ellen Lima é poeta, professora, escritora e pesquisadora indígena pertencente ao povo Wassu Cocal. É Mestra em Artes e doutoranda em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade do Minho (PT) como investigadora bolsista da Fundação para Ciência e Tecnologia em Portugal. Publicou em 2021 Ixé ygara voltando pra ’y’kûá, livro de poesias escrito em língua portuguesa e tupi antigo, e integra, entre revistas literárias e outras coletâneas, a obra Volta pra tua terra, uma antologia de poetas antifascistas e antirracistas em Portugal. Atua nas áreas de arte, cultura e literatura indígena e sua prática relaciona arte, poesia, curadoria, estudos contracoloniais e escritas ensaísticas.