Na arte brasileira das três últimas décadas, presenciou-se um movimento em direção ao passado, como se os artistas lá buscassem os restos daquilo que foi arrasado pela vanguarda. Não é um retorno formal: tal como historiadores ou antropólogos, alguns artistas parecem estar à procura dos resíduos de narrativas apagadas ou escamoteadas pela cultura oficial. O horror da violência, os massacres, os genocídios –irrepresentáveis– lampejam através das nuvens da falta, da névoa da ausência: cintilam nas palavras que estão todos cansados de ler, nas imagens dos jornais folheados, nos nomes esquecidos dos mortos, nas ruínas ocultadas ou destruídas, na repetição de rituais não compreendidos. Para isso, será examinado nesta palestra com Maria Angélica Melendi um setor da produção brasileira atual e suas relações com essa mesma geração latino-americana.
A palestra será transmitida no canal do MASP no YouTube.
Maria Angélica Melendi é doutora em estudos literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG; 1999). Atualmente, é professora da Escola de Belas Artes da mesma instituição, onde leciona no programa de pós-graduação. É bacharel em letras modernas pela Facultad de Filosofía y Letras da Universidade de Buenos Aires (1967) e em artes visuais pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG; 1985). Investiga as demandas de memória desenvolvidas pela arte contemporânea na América Latina em relação aos terrorismos de estado e à violência social, tema sobre o qual publicou livros e artigos em periódicos e revistas acadêmicas. É criadora e coordenadora do grupo de pesquisa Estratégias da arte em uma era de catástrofes e editora da Revista Lindonéia (www.estrategiasarte.net.br).