Albrecht Dürer foi um artista e teórico da arte alemão. Em sua formação, viajou pela Europa para aprofundar seu conhecimento em pintura e gravura – técnica de multiplicação de imagens a partir de uma matriz. Ao visitar a Itália renascentista, entrou em contato com desenhos que idealizavam o corpo humano e passou a incorporar o retrato detalhado de pessoas torcidas e em movimento em suas próprias composições. A obra A traição de Cristo é exemplar desses interesses de Dürer. O trabalho é parte de uma série de 16 gravuras em metal que narram os eventos da Paixão, os acontecimentos que antecedem e acompanham a crucificação. A obra é a terceira do conjunto e apresenta o momento em que Cristo é traído por Judas e depois preso. Por meio de hachuras – técnica de desenho em que linhas paralelas criam o efeito de volume –, o artista cria três planos diagonais comprimidos. No primeiro, à direita, o discípulo Simão Pedro está prestes a cortar a orelha do servo Malco, que acompanha os soldados. No segundo, Jesus recebe um beijo de Judas, maneira como o traidor o identifica para os militares. Às costas de Cristo, oficiais romanos que estão prestes a prendê-lo. O trabalho é elaborado com base no evangelho de Marcos, o qual, assim como a gravura, apresenta uma atitude de Jesus que contrasta com a dos outros indivíduos: enquanto ele está sereno e desarmado, os outros portam lanças e agitam-se frenética e violentamente.
Laura Sapucaia, Estagiária, MASP, 2023