Por se tratar da representação visual de uma coletividade, uma bandeira pode ser entendida como símbolo de valor e identidade, sintetizando em formas, cores, lemas e signos uma história compartilhada. O retângulo verde e o losango amarelo da bandeira brasileira, ainda que há muito sejam associados às matas e ao ouro, referem-se às dinastias de Bragança e Habsburgo. O círculo azul, por sua vez, com um lema positivista, alude à ideologia dos fundadores da República, ancorada em um ideal excludente de nação; é, portanto, uma representação abstrata de pátria que não contempla as pessoas que a compõem. Bruno Baptistelli, inspirado pela bandeira afro-americana confeccionada por David Hammons em 1990, traz as cores da bandeira pan-africana, dos anos 1920, para o símbolo da maior nação afro-diaspórica. O artista tinge o pavilhão nacional com as cores que representam a pele negra, o sangue da luta contra a escravidão e a natureza do continente africano, fazendo o símbolo nacional representar a maioria de seu povo. Dessa forma, Baptistelli confronta a imagem de coletividade que foi construída a respeito do povo brasileiro, calcada na invisibilidade de uma população não-homogênea e, sim, diversa, e propõe um símbolo no qual é possível que o Brasil se veja representado.
— David Ribeiro, assistente curatorial MASP, 2021