Nos início dos anos 2010, a artista gaúcha Karin Lambrecht passou a usar uma
paleta de cores mais luminosas, como amarelos, azuis e vermelhos, diferentemente
dos tons terrosos que utilizava desde os anos 1980 até então. Na pintura ‘Domingo’,
do acervo do MASP, há uma variedade de amarelos, brancos e ocres, criando a
sensação de um espaço atmosférico sugerido, inclusive, pelo modo como a artista
aplica os pigmentos sobre a tela bastante molhada, o que produz contornos difusos
entre os diferentes campos de cores num efeito aquarelado. À esquerda do quadro,
há uma faixa mais escura, enquanto na parte inferior há uma mancha mais clara,
com pinceladas verticais. Próximo ao centro, na parte direita, está escrito “LUZ”, em
caixa alta e em uma escala próxima à da cruz, um objeto em cobre, acima da
palavra. Logo abaixo desse símbolo, uma linha horizontal curta é interceptada por
uma vertical, que se estende até a base da tela, sugerindo um movimento
ascendente. A cruz é um elemento recorrente na obra de Lambrecht e alude ao
imaginário cristão e às noções de positividade e de cura, em uma intersecção entre
o religioso e o mundano. Já o cobre é um material condutor de energia, que foi
muito usado pelo artista alemão Joseph Beuys (1921-1986), uma referência
importante para a produção inicial de Lambrecht. Na produção de Lambrecht, são
comuns os títulos que aludem à espiritualidade e ao tempo e, nesse sentido,
‘Domingo’ é uma pintura exemplar, com seu caráter silencioso e meditativo, que
pode ser associada ao dia de descanso, mas também a um momento de
religiosidade.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2021