Sonia Gomes realiza esculturas em que se utiliza geralmente de tecidos que recebe e recolhe de amigos ou de pessoas anônimas. Essas vestimentas antigas, como vestidos de casamento ou roupas de bebês, carregam memórias sentimentais de seus antigos portadores. A artista desfaz e costura essas roupas tornando-as matéria prima de suas obras. Para sua mostra individual no MASP em 2018 Gomes realizou, Eros, uma obra concebida especialmente para o cavalete de vidro desenhado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), também autora do edifício do museu. Nesse trabalho, Gomes se vale dos dois furos já existentes nos vidros normalmente utilizados para montar os quadros, e envolve-os transpassando os tecidos. Preenche a escultura com os mais diversos enchimentos e objetos, alguns visíveis e outros propositalmente enigmáticos, conhecidos apenas pela artista. A obra se constrói por arames e costuras aparentes, marcando e conectando os tecidos, suas estampas e cores diversas. O título, Eros, pode aludir a esta relação afetiva e visceral entre os objetos pessoais, suas histórias, memórias e pesos que carregam. A obra registra também uma conversa amorosa entre o trabalho escultórico de Gomes e o dispositivo expográfico de Bo Bardi.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2022