Por Luciano Migliaccio
Em Interior de Laboratório, o ambiente, invadido pela luz meridiana da porta-janela do fundo, é construído por pinceladas rápidas de cor densa em que predominam os brancos, as terras amarelas, com um acento de verde e de azul-claro na mancha de árvores e no céu a fundo. Os utensílios, abandonados como se fora uma pausa do trabalho, parecem esperar pela volta da presença humana, sugerindo uma suspensão do tempo que revela o instante parado semelhante ao revelado pela objetiva de uma câmera fotográfica. A visão naturalista do pintor não se dissolve na energia da pincelada, mas se resolve numa construção realizada com cores puras. Para José Augusto França, Sousa Pinto foi quem mais bem estabeleceu a ligação entre a pintura portuguesa e a da Escola de Paris; definiu as relações possíveis com as propostas do meio artístico internacional da capital francesa, marcando os limites da sua geração. Esta obra pode ilustrar a interpretação dada pelo pintor português às novas e ricas possibilidades da cor reveladas pela pintura pós-impressionista.
— Luciano Migliaccio, 1998