MASP

Carlo Saraceni

Marte e Vênus com uma roda de cupidos e paisagem, 1605-10

  • Autor:
    Carlo Saraceni
  • Dados biográficos:
    Veneza, Itália, 1579-Veneza, Itália ,1620
  • Título:
    Marte e Vênus com uma roda de cupidos e paisagem
  • Data da obra:
    1605-10
  • Técnica:
    Óleo sobre cobre
  • Dimensões:
    39,5 x 52 x 0,5 cm
  • Aquisição:
    Doação Moinho Santista S.A., 1947
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00028
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Nascido em Veneza, Carlo Saraceni mudou-se aos 19 anos para Roma, onde estudou com Camillo Mariani (1556-1611). As obras que produziu em Roma até 1610 refletem a influência de diferentes pintores venezianos como Ticiano (1488/90-1576) e Tintoretto (1518-1594), mas o legado do pintor alemão Adam Elsheimer (1578-1610) é o que mais se aproxima de sua produção de juventude. Ambos criavam composições complexas, assimétricas, inclinadas, com diagonais marcadas e grande variação na escala das personagens e nos cenários ao fundo, como se pode ver na pintura do MASP, Marte e Vênus, com uma roda de cupidos e paisagem (1605-10). Saraceni adquiriu renome em Roma como autor de obras de pequeno formato sobre cobre. Na obra do MASP, Marte, deus da guerra, é retratado desarmado e em cena íntima com Vênus, rodeados por cupidos, que usam a armadura de Marte como brinquedo. As cirandas de cupidos conferem grande movimento à pintura, suavizam os ângulos e as inclinações e trazem à composição um elemento lúdico, em oposição às simbologias da guerra que envolvem Marte. As personagens destacam-se em primeiro plano, teatralmente separadas do pano de fundo da paisagem, aludindo às pinturas dos mestres renascentistas que influenciaram o artista. Há, porém, um forte jogo de luz e sombra que demonstra o impacto de Caravaggio (1571-1610) sobre Saraceni.

— Equipe curatorial MASP, 2017




Por Sofia Hennen
Uns dos momentos mais emocionantes, desde que comecei a trabalhar no MASP, foi quando realizei o estudo e tratamento de conservação e restauro da obra Marte e Vênus com uma roda de cupidos’, de Carlo Saraceni. Esse trabalho foi incrível por várias razões. Primeiro, é uma pintura que apresenta uma técnica artística extremamente refinada. A composição é preciosa, quase miniaturista, cheia de anedotas e detalhes. Além disso, foi pintada sobre uma lâmina de cobre, suporte bastante particular, que torna seu tratamento de restauro muito complexo. As análises científicas que fizemos em conjunto com físicos da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual de Londrina para entender estas características materiais revelaram muitas informações intrigantes, escondidas na obra, invisíveis a olho nu. Por exemplo, observamos que o pintor tinha realizado, antes da pintura, um desenho preparatório muito detalhado, no qual mostra uma tendência a corrigir a composição constantemente. Tanto assim que vários personagens e elementos foram modificados ao longo do processo criativo e ficaram diferentes na imagem final. Estas modificações, chamadas arrependimentos, revelam a personalidade artística do pintor. Elas nos mostram que Saraceni era muito espontâneo e livre na hora de construir sua imagem, mas também muito indeciso, pois mudava de opinião até o último minuto. Acho comovente conseguir, mesmo depois de 400 anos, vislumbrar a personalidade do artista e entender como ele construiu sua obra. Por fim, a pintura apresentava várias alterações acumuladas ao longo da sua história. Para mim, foi um verdadeiro privilégio tratá-la e cada intervenção de restauro foi um desafio, mas também um prazer.

— Sofia Hennen, supervisora no Centro de Conservação e Restauro, MASP, 2021

Fonte: Facebook MASP 16.06.2020





O cobre corresponde nas medidas, na técnica e na temática aos da Galleria Nazionale de Nápoles, outrora atribuídos a Adam Elsheimer, e que Hermann Voss e Roberto Longhi (1917) restituíram a Saraceni. É possível que a obra Marte e Vênus, com uma Roda de Cupidos e Paisagem, do Masp, zesse parte da mesma série de seis obras, e que delas se tenha separado por ocasião das problemáticas intervenções nas Coleções Reais de Nápoles, ao nal do Setecentos. A atribuição a Saraceni foi proposta pela primeira vez por Longhi em carta a P. M. Bardi, de 20/6/47, que nos limitaremos aqui a transcrever quase na íntegra: “o seu quadro (...) interessa-me em particular porque é obra de um mestre que estudei longamente, Carlo Saraceni; e tanto mais porque é de uma fase que revelei há cerca de trinta e cinco anos, quando era ainda confundida com a obra do grande paisagista alemão Adam Elsheimer. A restituição a Saraceni de seus quadrinhos mitológicos da Galeria de Nápoles, por mim então realizada, levou à recuperação do nome exato inclusive para muitas outras pinturas atribuídas a Elsheimer; e o mesmo vale para este luminosíssimo quadrinho onde o jovem Saraceni, que mais tarde devia aproximar-se sempre mais da esfera caravaggesca, demonstra-se ainda em estreita comunhão de espírito não apenas com Elsheimer, mas também com outros ‘petits maîtres’ nórdicos como Lastman e Pynas, os quais, no primeiro decênio do Seiscentos, criavam em Roma aquelas pequenas e brilhantes fábulas mitológicas em que a mistura de nórdico e de meridional revela-se tão importante até para a formação cultural de Rembrandt juveníssimo. Esta sua pintura tem lugar entre as mais interessantes de todo aquele grupo, também pela sua excepcional conservação. A ‘natureza-morta’ de armas no primeiro plano e a vista luminosa íssima de ‘campanha romana’ no fundo são passagens admiráveis. No currículo de Saraceni, a obra, a meu ver, é de se situar no qüinqüênio 1605-1610”.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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