Por Fernando Oliva
Pesquisando para a mostra Pedro Correia de Araújo: Eróticafui ao Rio de Janeiro me encontrar com o colecionador Sérgio Werlang, que me recebeu em seu apartamento na Lagoa, com vista para o Corcovado, onde mantém obras como a excepcional
Mulata e os arcos. Ou melhor, mantinha. Terminada a exposição, no final de 2017, convidei o colecionador para uma visita ao museu. Lá, numa ensolarada tarde de sábado, passeando em meio aos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi,
voltei-me para ele: "Sérgio, por incrível que pareça o MASP não possui nenhum Correia de Araújo. O que você acha de doar
Mulata e os arcos?". Refeito do susto, ele respondeu, sorrindo, que "iria pensar". Eu reforcei: "Ela ficaria aqui, ao lado de Burle Marx e de Cândido Portinari, vista por mais de meio milhão de pessoas ao
ano". Para nossa grande alegria Werlang confirmou a doação, recomendada também pelo comitê artístico do museu. Werlang também apoiou generosamente o catálogo da mostra do artista no MASP. Sempre me lembro desse
episódio quando, flanando pelo acervo, me deparo com esta mulher negra que, séria, monumental, nos observa, emoldurada pela rígida arquitetura dos Arcos da Lapa, no Rio. Ela é mais uma prova de que Araújo, grande
retratista de mulheres, não se rendia ao voyeurismo banal, fazendo delas figuras complexas, repletas de caráter e personalidade, verdadeiras representações de força, estabilidade e segurança.