Por Adriano Pedrosa
Conheci Rodrigo Garcia Dutra há sete anos durante as entrevistas para seleção para o projeto Open Cube em Londres, quando era curador independente. Fizemos uma chamada aberta em janeiro de 2013 para o projeto e recebemos 2900 inscrições. Em março, passei três dias conduzindo as entrevistas para seleção, e mesmo com os brasileiros (Dutra, Daniel de Paula e Adriano Amaral), falamos em inglês, pois publicaríamos as transcrições. Dutra estudava escultura no Royal College e falou sobre seu interesse em tecidos africanos e construtivismo: "Tenho interesse na origem das coisas e em como a forma viaja no espaço e no tempo, como ela adquire diferentes significados nessa viagem". Ele então me mostrou um trabalho, ainda sem título, que consistia num surrado palette de madeira sobre o qual repousavam um lindo tecido Kente, de Gana, e os livros In Praise of Shadows e Building a Construct: The Adolpho Leirner Collection of Brazilian Constructive Art at the Museum of Fine Arts Houston, cuja capa reproduzia uma pintura de Willys de Castro — a eminente coleção de arte brasileira fora vendida para o museu texano. O palette é uma metáfora para o deslocamento, e o colorido tecido ganense contrasta com a pintura concreta em preto e branco, ambos remetendo a fortes narrativas na história brasileira em torno da colonização e da escravidão: a fina, rigorosa e sisuda tradição construtiva eurocêntrica e o intenso e vivido colorido dos tecidos Kente. Eu havia estado na África Ocidental recentemente, e ali, naquela conversa em inglês, surgiu o título do trabalho: Tabom, que se refere aos ex-escravizados de Gana no Brasil que retornavam para seu país natal, constituindo uma comunidade própria, espécie de negros estrangeiros, na expressão da Manuela Carneiro da Cunha. Em 2013 o trabalho foi exposto em Open Cube em Londres, em 2014 em Histórias mestiças (que curei com Lilia Moritz Schwarcz) em São Paulo, e em 2016 por fim chegou ao MASP.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2020