MASP

Maria Leontina

Umbrais, altares, 1970-80

  • Autor:
    Maria Leontina
  • Dados biográficos:
    São Paulo, Brasil, 1917-Rio de Janeiro, Brasil ,1984
  • Título:
    Umbrais, altares
  • Data da obra:
    1970-80
  • Técnica:
    Acrílica sobre tela
  • Dimensões:
    36 x 130 cm
  • Aquisição:
    Comodato MASP B3 – BRASIL, BOLSA, BALCÃO, em homenagem aos ex-conselheiros da BM&F e BOVESPA
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    C.01230
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Maria Leontina iniciou seus estudos de desenho em 1938 em São Paulo; em 1946, no Rio de Janeiro, frequentou o ateliê de Bruno Giorgi (1905-1993). Em 1951, orientou o setor de artes plásticas do Hospital Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha, São Paulo. No mesmo ano, organizou uma mostra dos internos no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Em 1952, viajou para Paris, com o marido e pintor Milton Dacosta (1915-1988), onde viveram até 1954. Na década seguinte, projetou um painel de azulejos para o Edifício Copan, em São Paulo, e recebeu o prêmio da Fundação Guggenheim, de Nova York. Inicialmente, sua pintura foi figurativa e expressionista. Na década de 1950, a artista foi influenciada pela discussão em torno da abstração, fortemente marcada, tanto no Brasil como no exterior, pelo movimento construtivo. Leontina passou progressivamente a trabalhar sobre temas abstratos. Todavia, a artista desenvolveu uma linguagem própria, na qual a rigidez da linha e o cálculo matemático da composição são substituídos por uma ordenação intuitiva de formas irregulares. Dispensou dogmas construtivos como o rigor da geometria pura, a monocromia de cores primárias e a estrutura em grade. Veem-se nos seus trabalhos sobreposições de cores, por exemplo, entre tons de ocre, como em Páginas (1973), e azul, como em Umbrais, altares (1979-80). A artista parecer encontrar essas composições a partir da observação, do estudo e da depuração formal de objetos e elementos figurativos, indicados pelos títulos de seus trabalhos. Em Páginas, percebe-se a referência ao volume, à tonalidade e aos movimentos de um livro, desconstruído de forma livre e abstrata pela pintora. É possível identificar alusões à capa, à lombada e às folhas, essas últimas bem marcadas em branco ao centro da composição, possibilitando um atravessamento de intensa luz em meio a formas e cores, o que aparece ainda com mais força em Umbrais, altares. Esse título assinala o interesse da artista pela luminosidade, pelo mistério, pela espiritualidade e pelos rituais. O centro radioso dessa obra pode também aludir a vitrais, reinventados de modo abstrato e gestual pela artista. O umbral indica, para além de uma porta ou passagem, um lugar ou espaço etéreo, desterritorializado em outras dimensões. Nos anos 1970, Leontina pesquisava panos brancos estendidos em varais, aos quais essas composições podem também se referir. A artista desejava criar efeitos metafísicos e espirituais através de suas obras. Externou uma concepção de pintura como a apresentação do invisível pelo visível. É como se a geometria e a ciência não oferecessem certezas, mas dúvidas e inquietações mais profundas. No final da carreira, os elementos de sua pintura foram reduzidos cada vez mais ao essencial, mas a atmosfera lírica persiste.

— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018

Fonte: Adriano Pedrosa, Guilherme Giufrida, Olivia Ardui (orgs.), Da Bolsa ao Museu – comodato MASP B3: arte no Brasil, séculos 19 e 20, São Paulo: MASP, 2018.



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