O tema da obra Veleiros na Tempestade é significativo do estado de espírito niilista que prevalecia sobretudo na Alemanha durante o primeiro decênio deste século. A relação direta com a natureza, herdada do século XIX, de Constable a Van Gogh, é recebida
neste ambiente em modo menor. Ao romper-se a lírica de uma paisagem imaginada, habitada, pelo homem cujo espírito nutre-se de sua unidade afetiva com o mundo, a natureza revela-se no que tem de mais hostil ou
indiferente ao homem – sua fúria elementar –, fonte para o expressionismo emergente de uma nova beleza. A violência brutal da paleta, o frenetismo da pincelada, a instabilidade de uma composição desenquadrada e
saturada de diagonais e o dinamismo desenfreado e generalizado das formas são alguns dos efeitos necessários de uma radical espiritualização da natureza. Nesse sentido, a obra tem caráter programático e dialoga
intimamente com as idéias e inquietações que aglutinam então em Munique, em torno Kandinsky e Franz Marc, os artistas do
Der Blaue Reiter(1911-1914), movimento com o qual Pechstein manteve desde logo intensas relações. Pode-se datar a tela, segundo Gorini Esmeraldo (1994, p. 89), justamente de 1910, década em que, como visto, o artista passa os verões
em Dangast, às margens do Báltico, e no lago de Moritzburger, localidades que o inspiraram com toda a probabilidade o óleo em questão.