MASP

Lia D Castro: em todo e nenhum lugar

5.7 – 17.11.2024


Artista e intelectual, Lia D Castro (Martinópolis, São Paulo, 1978) investiga como as relações de raça, classe, gênero e sexualidade se dão em situações de intimidade e vulnerabilidade. A artista utiliza a prostituição como ferramenta de pesquisa e desenvolve sua produção a partir de encontros com seus clientes – homens cisgêneros, em sua maioria brancos, heterossexuais, de classe média e alta – para subverter relações de poder ou violência que possam surgir entre eles, aliando história de vida e história social. Temas como masculinidade e branquitude, mas também afeto, cuidado e responsabilidade, são abordados nesses encontros, que resultam em pinturas, gravuras, desenhos, fotografias e instalações criadas pela artista de modo colaborativo.

A produção de Lia D Castro é organizada em séries, sendo a maior delas Axs nossxs filhxs, aqui apresentada. Desenvolvida na sua sala de estar e ateliê, lugar de encontro e trocas comerciais, intelectuais e afetivas, a série parte de um processo criativo marcado por escolhas coletivas, da paleta de cores à assinatura das obras. A repetição é uma característica central: através desse recurso, é possível reconhecer gestos, personagens e situações, assim como outras obras da artista que aparecem representadas nas telas, acumulando significados. A utilização do “x” no título da série se refere à diversidade de formações familiares e vínculos afetivos para além do parentesco consanguíneo ou da família heterossexual nuclear, além de operar como ferramenta para abarcar diferentes gêneros.

Esta é a primeira exposição individual da artista em um museu e inclui 36 obras produzidas entre 2013 e 2024, assim como registros de seu processo de trabalho. O título da mostra parte da constatação acerca da ausência histórica de grupos minorizados em posições de poder e decisão – em nenhum lugar –, enquanto sua presença e força de trabalho compõem as bases que sustentam a sociedade – em todo lugar. Essa estratificação social, refletida na maneira como a história da arte definiu os papéis de quem representa e de quem é representado, é contestada por Lia D Castro em seu trabalho, ao redefinir essa lógica utilizando-se do afeto, do diálogo e da imaginação como ferramentas de transformação social. 

Lia D Castro: em todo e nenhum lugar é curada por Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, e Isabella Rjeille, curadora, MASP.

A mostra integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+, que inclui exposições de Catherine Opie, Gran Fury, Leonilson, Mário de Andrade, MASP Renner, Serigrafistas Queer e a coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+, além de mostras na Sala de Vídeo de Kang Seung Lee, Masi Mamani/Bartolina Xixa, Manauara Clandestina, Tourmaline e Ventura Profana.

Cisgênero: pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer, baseado em seu sexo biológico.
Branquitude: conjunto de benefícios e vantagens sociais, materiais e simbólicas que pessoas brancas possuem com base na inferiorização de pessoas não brancas.



Lia de Castro: em todo e nenhum lugar
Curadoria de Isabella Rjeille, curadora, MASP e Glaucea Britto, curadora assistente, MASP