Em sua segunda edição o Prêmio MASP de Artes Visuais traz como novidade a premiação do artista pelo Conjunto da Obra, concedido a Regina Silveira. A categoria soma-se à de Exposição do Ano e à de Artista Emergente, ambas referentes a mostras realizadas no ano passado.
Com a intenção não de reproduzir as exposições premiadas simplesmente, mas antes servir como índice das obras de cada um dos artistas, o MASP apresenta as três mostras que, apesar de individuais, em conjunto apresentam um rico panorama do que de melhor se tem produzido em arte contemporânea no Brasil.
Conjunto da Obra – Regina Silveira
A obra de Regina Silveira origina-se em uma série de práticas de produção de imagem emblematicamente modernas: fotomontagem, colagem fotográfica e de fotogramas, entre outros, simultaneamente no domínio do repertório das artes gráficas das quais resultam peças únicas e das artes de reprodução, bem como originada de diversas práticas do “objeto encontrado” e da imagem em movimento.
Para o MASP, a artista traz o trabalho de projeção dessas matrizes de imagem sobre o espaço espetacular e o espaço tanto da exposição como do espectador através da invenção de um repertório personalíssimo de skiagrafia (projeção de sombras) na própria arquitetura, em escala real, constituindo um campo estendido no qual metamorfose e anamorfose conjugam-se para simultaneamente refletir sobre os contextos determinantes da experiência da obra e alterá-los, revendo a persistente dimensão fantasmática da realidade.
Exposição do ano – Odires Mlászho
Em sua recente exposição “Zero Substantivo”, apresentada em 2013 na Galeria Vermelho, Odires Mlászho resume de modo brilhante algumas das características mais relevantes de sua investigação artística. Numa obra sólida e complexa, feita de inúmeros sistemas de imagens e objetos, o artista interroga as tradições formais baseadas na matéria da linguagem (da poesia concreta à colagem de material impresso, do ready-made alterado à produção de imagens digitais), da representação do corpo e da paisagem como entidades orgânicas, históricas, sexuais e políticas.
Além de obras que integraram esta exposição, Odires traz ao MASP outros trabalhos em que conjuga a mais sofisticada capacidade de realização material com o mais agudo domínio das tecnologias imateriais (digitais) de produção da imagem através de repertórios seriais nos quais a linguagem e o corpo são projetados para dimensões de opacidade extrema.
Artista Emergente – Rodrigo Braga
Com sua participação na 30ª. Bienal de São Paulo em 2012, numa sala especial, Rodrigo Braga consolida-se como uma referência dentro do panorama da arte contemporânea brasileira por sua radical interrogação das dimensões animal e natural da existência humana. A inscrição do corpo próprio em contextos literalmente naturais, em cenas de representação que se desenvolvem em interstícios entre o animal e o humano, o natural e o cultural, e a densidade da matéria e da dimensão simbólica de sua obra fazem dela, por meio da fotografia, do vídeo e da performance, um conjunto capaz de iluminar, a partir da arte, uma das discussões estéticas e políticas mais contundentes e urgentes de nosso tempo, a saber, aquela que interroga as mutações e a perda da centralidade da condição humana e o reemergência de sua dimensão animal no quadro de um mundo submetido a tensões ideológicas que incessantemente projetam uma ilusão de globalidade e virtualidade no exercício das relações entre as pessoas.