MASP

A memória é de quem? Os ofícios de um acervo comunitário LGBT+ brasileiro

Horário
19H – 21H
Duração do Módulo
ONLINE
25.4 – 6.6.2024
QUINTAS
(6 AULAS)
Investimento

Público geral
5x R$ 64,8
AMIGO MASP
5x RS 55,08
*valores parcelados no cartão de crédito

Professores
ACERVO BAJUBÁ

O objetivo do curso é discutir os processos sociais de produção de memórias sobre as comunidades LGBT+ brasileiras, questionando quais discursos, imagens e representações sobre o passado circulam na contemporaneidade, assim como quais vidas continuam silenciadas e apagadas nas tentativas de se produzir uma história LGBT+. Para isso, partiremos da coleção de itens, das práticas comunitárias e dos projetos de pesquisas do Acervo Bajubá. Em sua origem, o Bajubá se constituiu como um espaço repositório de itens que registram em distintas materialidades a história da diversidade sexual e de gênero no Brasil. Entretanto, a partir de 2020, o entendimento do que é o acervo e qual a sua importância social e cultural mudou, constituindo-se como um projeto de arquivo comunitário que se articula a partir de um diálogo entre os passados registrados nos itens que conserva com o presente das pessoas artistas, educadoras e pesquisadoras que se mobilizam ao redor do projeto. O curso será dividido em seis sessões, cinco online e uma presencial, nas quais serão analisadas a metodologia de trabalho em desenvolvimento no Acervo Bajubá, particularmente a sua constituição como um acervo comunitário, a importância da oralidade na produção de registros sobre o passado e o acolhimento de questões mobilizadas pelas pessoas que participam do fazer do projeto.

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IMPORTANTE

As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.

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O MASP, por meio do apoio da VR, oferece bolsas de estudo para professores da rede pública em qualquer nível de ensino.


 

Planos de aulas

Aula 1 – 25.4.2024
Um acervo comunitário de memória LGBT+
com Bruno O.

Como se articula um acervo comunitário? O que o distingue de outros arquivos é a suposta representatividade que encontramos nos itens que formam sua coleção? Ou nas práticas que ele articula? Este encontro apresenta algumas noções desenvolvidas a partir das práticas do Acervo Bajubá, projeto comunitário que registra histórias e memórias das comunidades LGBT+ no Brasil, entre as quais estão: a dimensão do arquivo como espaço de acolhimento, a partilha do labor de manutenção, o ofício da pesquisa-mutirão, o compromisso pedagógico e a performatividade do acervo.

Aula 2 – 2.5.2024
A oralidade e a produção de outros registros sobre o passado
com Yuri Fraccaroli

A aula tem como objetivo questionar as noções de arquivo por meio da ativação da oralidade e da consideração de outros registros, para além daqueles que encontramos em arquivos do Estado. Neste sentido, propomos um diálogo com os estudos cuir hemisféricos e o trabalho germinal de José Esteban Muñoz, e sua noção de efêmera, como proposta conceitual para entender arquivos “menores” que constituem as experiências dissidentes. A articulação com o trabalho do Acervo Bajubá se dará por meio de casos temáticos em que a relação com a coleção do arquivo se pauta pela memória e a oralidade, construindo alguns de seus projetos, como, por exemplo, o podcast Passagem Só de Ida, as coletas públicas de testemunho e os testemunhos audiovisuais produzidos no marco do Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência de São Paulo.

Aula 3 – 9.5.2024
Memórias à margem: Ordem social e normatividades na ditadura
com Julia Gumieri

A ditadura acabou para quem? O objetivo desta aula é discutir o processo de constituição da Coleção Memórias à Margem. Ordem Social e Normatividades na Ditadura, resultante de uma colaboração iniciada em 2022 entre o Acervo Bajubá e o Centro de Referência do Memorial da Resistência de São Paulo. Tal coleção é constituída por testemunhos audiovisuais, em sua maioria produzidos com pessoas LGBT+ sobre suas vivências durante os períodos da ditadura e da redemocratização. A aula analisará os processos de constituição do acervo e das coleções temáticas que compõem o arquivo de História Oral do Memorial da Resistência. A proposta é refletir como o desenvolvimento do próprio Memorial e do debate público sobre a memória da ditadura contribuíram para que as memórias de pessoas dissidentes de sexo e de gênero encontrassem espaço neste museu.

Aula 4 – 16.5.2024
Porta de Boate: arte transformista, imagem, performance e memória
com Natan

Porta de Boate é uma pesquisa coletiva e continuada desenvolvida por pessoas artistas e pesquisadoras do Acervo Bajubá. O projeto parte do entendimento das boates como importantes espaços de sociabilidade, produção artística e ativismo para pessoas LGBT+. As histórias e memórias da noite, do chegar, entrar e sair de uma boate, nos permitem acessar práticas da vida cotidiana, de elaboração da sexualidade e/ou expressão de identidades de gênero, que geralmente não encontramos em narrativas que assumem a militância organizada ou da perseguição pelo Estado como abordagens centrais de uma suposta história LGBT+. O objetivo desta aula é discutir esta pesquisa, partindo de um recorte das imagens, performances e memórias da arte transformista na noite de São Paulo, encontrados na coleção do Acervo Bajubá ou articulados a partir de seus outros projetos.

Aula 5 – 23.5.2024
Memorial incompleto da epidemia de aids
com Marcos Tolentino

Quantas histórias cabem em uma história da epidemia de hiv/aids? Quando ela começa? Será que um dia ela termina? É possível montar um relato que abarque todas as experiências do hiv/aids e seus contornos políticos, culturais e sociais? Ou cabem nele apenas histórias sobre quem vive(u) ou convive(u) com o vírus e/ou com a doença? O objetivo desta aula é discutir quais relatos e imagens conformam a memória individual e coletiva sobre a epidemia de HIV/aids no Brasil e seus efeitos políticos, sociais e culturais. Partiremos da análise de itens da coleção do Bajubá de modo a discutir quais narrativas históricas podem ser acessadas sobre as vivências relacionadas à epidemia HIV/aids no país, e apontando possíveis rupturas e/ou continuidades entre exercícios individuais e coletivos de produção de sentidos para uma história da epidemia.

Aula 6 – 6.6.2024
Visita mediada à exposição Gran Fury: arte não é o bastante
com Lufer Sattui Mejia

O objetivo desta aula é realizar uma visita mediada à exposição Gran Fury: arte não é o bastante. A proposta é que as pessoas participantes e as pessoas artistas, educadoras e pesquisadoras do Acervo Bajubá constituam juntas linhas do tempo possíveis sobre a história do ativismo na luta contra HIV/aids no Brasil, a partir de documentos que constituem a coleção do Acervo Bajubá e da seleção de memórias e de referências históricas de cada pessoa participante. A sobreposição das linhas do tempo produzidas gerarão diferentes perspectivas sobre como narrar a epidemia de HIV/aids no Brasil. Além disso, articularão pontos de contato e distanciamento com a exposição Gran Fury e as práticas do ACT UP.

Coordenação

Acervo Bajubá é um projeto comunitário de registo de memórias das comunidades LGBTQIAP+ brasileiras. Atualmente, funciona em uma sala na sede do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), uma organização não-governamental de defesa dos direitos das pessoas que vivem com HIV/aids que funciona na Vila Mariana, em São Paulo. O Bajubá reúne uma coleção de itens em processo de catalogação que documentam a diversidade sexual e a pluralidade de identidades de gênero na história brasileira, sobretudo a partir da segunda metade do século 20. Tais itens têm materialidades diversas (revistas, jornais, livros, cartazes, pôsteres, camisetas de militância, bottons, vinis, DVDs, fitas VHS, obras de arte etc.) e foram adquiridos por meio de processos de compra em antiquários e sebos, de doações ou foram fruto dos projetos desenvolvidos a partir do acervo. Além disso, o Bajubá elabora ações culturais e projetos de produção, mediação e circulação de narrativas históricas sobre pessoas, coletivos, organizações e espaços LGBT+.
 

Conferencistas

Lufer Sattui Mejia, 36 anos, peruane, não binárie, residente no Brasil desde 2017. Elu é formade em Arquitetura pela Universidade César Vallejo, é ume profissional multifacetade que está expandindo seus horizontes acadêmicos com um MBA em Comunicação e Marketing Digital pelo Instituto Nacional de Educação e Extensão. Atualmente, Lufer está imerse no curso Profissão: Curadoria na EBAC, Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologia.

Natan é artista e travesti. Cursou licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade Paulista de Artes (FPA). Atualmente trabalha como Pesquisadora Júnior do Memorial da Resistência de São Paulo. Atuou como educadora nos principais aparelhos culturais de São Paulo, como por exemplo o JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube), o CCSP (Centro Cultural São Paulo) e nas unidades do SESC em Guarulhos, Jundiaí e Santo André, no Farol Santander e no Centro Cultural Banco do Brasil. Desde 2020, é artista, educadora e pesquisadora do Acervo Bajubá, atuando, sobretudo, nos processos de conservação.

Yuri Fraccaroli é estudante de doutorado em Estudos Feministas na Universidade da Califórnia, Santa Barbara. É pessoa educadora, artista e pesquisadora no Acervo Bajubá. Sua temática de pesquisa é centrada nos usos do passado das comunidades LGBT+ na América Latina, em especial em suas intersecções com os distintos projetos raciais/nacionais. Possui publicações como capítulos de livro e revistas como Gender and Development, Racial and Ethnic Studies, Revista Uruguaya de Ciencia Política e Revista da Associação Brasileira de História Oral.

Julia Gumieri é Mestre (2016) pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo (USP) e graduada (2011) em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente trabalha como Pesquisadora Sênior do Memorial da Resistência de São Paulo. Entre 2013 e 2014, foi membro da Comissão da Verdade da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Atua na área de História Social com ênfase em pesquisas sobre a ditadura brasileira, lugares de memória, testemunhos e políticas de reparação promovidas pelo estado brasileiro.

Bruno O. é educador e artista visual. Doutor em Artes Visuais pela UFMG. Mestre em Estudos Interdisciplinares Latino-Americanos (UNILA), especialista em Artes Plásticas e Contemporaneidade (UEMG) e graduado em Ciência da Computação (FUMEC/MG). É pesquisador do MALOCA - Grupo de Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul da UNILA, com investigações sobre expressões visuais latino-americanas. É educador e artista no JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube), um ateliê de artes visuais e cidadania na zona sul de São Paulo, e artista, educador e pesquisador do Acervo Bajubá, projeto comunitário de registro de memórias das comunidades LGBT+ brasileiras.

Marcos Tolentino é mestre (2012) e graduado (2009) em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atualmente desenvolve o doutorado em História no mesmo programa de Pós-Graduação. É pesquisador-colaborador no projeto de extensão História e memória LGBT+ no ABC, na Universidade Federal do ABC (UFABC). É artista, educador e pesquisador no Acervo Bajubá. É pesquisador da organização VoteLGBT. É integrante do Grupo de Pesquisa MP+Diverso do Ministério Público da Bahia. Vive com HIV há oito anos e, desde 2021, escreve e fala publicamente sobre o tema.