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Silvana Rubino
Como diversas outras disciplinas e saberes, a arquitetura possui história e memória majoritariamente masculinas. Frequentemente centrada na noção de gênio criador, como um ateliê renascentista, temos uma historiografia plena de lacunas que obscurecem aspectos relevantes da atuação do arquiteto. Uma dessas lacunas é a presença feminina no campo. Pouco mencionadas em bibliografias, exposições e principalmente em premiações, alguns nomes começam gradativamente a ganhar espaço devido à pesquisas inovadoras e ao trabalho de coletivos feministas.
Para além das conhecidas Lina Bo Bardi e Zaha Hadid (as frequentes exceções que terminam por confirmar a regra), temos uma miríade de nomes que começam a ser melhor investigados: de Minette de Silva a Janete Costa, passando por Alison Smithson e Clara Porset, com trajetórias e obras que enriquecem o conhecido mundo da arquitetura do século 20. Das artes decorativas ao urbanismo, passando por projetos, escritos, editoração, a presença feminina abre espaço para que possamos refletir sobre autoria, colaboração, parcerias, divisão sexual de trabalho entre arquitetos(as), hierarquias tácitas ou explícitas etc.
O curso terá foco em algumas arquitetas pioneiras e especial ênfase aos padrões de domesticidade proposto por estas arquitetas, designers, engenheiras, urbanistas, decoradoras e reformadoras sociais.
Aula 1 – 27.1.2020
Gênero como uma perspectiva para a história da arquitetura
As pioneiras: mulheres da Bauhaus e do construtivismo soviético
Nessa aula serão abordados alguns autores fundamentais para o debate a respeito de gênero e produção cultural, especialmente no campo das artes.
Na segunda parte da aula serão apresentadas as alunas e professoras da Bauhaus, e será abordada a participação de algumas mulheres fundamentais às vanguardas construtivistas soviéticas.
Aula 2 – 28.1.2020
Primeiro a cozinha, depois a fachada”. Reformadoras sociais, engenheiras, arquitetas e a casa taylorizada. Grete Shütte-Lihotzky
Na década de 1920, a política e feminista alemã Marie-Elizabeth Luders sugeriu que os arquitetos projetassem casas de dentro pra fora: primeiro a cozinha e depois a fachada. Dessa data até pelo menos o início da Segunda Guerra, foi crescente a participação de arquitetas, engenheiras e reformadoras sociais em projetos de cozinhas e áreas de serviço nas casas moderna., Se a mais conhecida é a Cozinha De Frankfurt (Grete Schütte-Lihotzky, 1927), foram muitos os experimentos desde o final do século 19 nos quais mulheres propuseram melhor racionalização do espaço doméstico, especialmente das áreas de trabalho. Nessa aula, trataremos também do debate francês a respeito da casa racionalizada a favor de suas usuárias.
Aula 3 – 29.1.2020
As fronteiras entre artes decorativas e arquitetura moderna a partir das trajetórias de Eileen Gray e Charlotte Perriand
Embora a retórica da arquitetura moderna faça o possível para se dissociar da decoração, a arquitetura de interiores mostra como se trata de uma fronteira fluida. Entre os “equipamentos da habitação”, as artes decorativas e algumas realizações de designers modernas, temos diversas zonas de contato e de conflito. As trajetórias de Gray e Perriand evidenciam os impasses de tais distinções, especialmente entre dos anos 1920 e 1940.
Aula 4 – 30.1.2020
Mulheres em trânsito: deslocamento, alteridade e arquitetura
Lina Bo Bardi, Clara Porset e Ray Eames e muitas outras
Quando uma mulher se desloca geograficamente, é como se fosse criada um duplo “desencaixe”. De um lado, a condição feminina num campo masculino; de outro, o olhar de quem vê de fora – e projeta, desenha, coleciona, devolve, transforma. Jane Drew se deslocou pra Índia, Clara Porset de Cuba para o México, onde encontrou a “bauhauser” Anni Albers. Também o México foi o lugar de exercício de fascínio e alteridade para Ray Eames, assim como o Japão e a Indochina para Charlotte Perriand. Lina Bo Bardi deixou sua Itália natal pelo Brasil e aqui percorreu Bahia e Nordeste. A conhecida Denise Scott-Brown deixou sua África do Sul pelos Estados Unidos.
O que esses deslocamentos ensinou a cada uma? O que o deslocamento observador por olhos femininos pode nos ensinar? Em que medida suas realizações foram marcadas por tais contatos?
Aula 5 – 31.1.2020 [AULA EXTERNA]
Os impasses da domesticidade moderna
A construção de uma domesticidade moderna não se dá sem contradições. Tampouco é um exercício evidente, mas precisou ser duramente constituída. A visita a uma das casas emblemáticas no bairro do Morumbi, a Casa de Vidro, ajudará a pensar sobre essa construção e seus impasses.
Nesse encerramento, será proposto um debate para refletir sobre os ganhos atuais: novas pesquisas, coletivos feministas de arquitetas, revistas e exposições.
Atividade externa: Visita à Casa de Vidro (Lina Bo Bardi)
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Observações:
As aulas serão expositivas com o recurso de muitas imagens. Para cada sessão será indicada uma pequena bibliografia.
Silvana Rubino é professora livre-docente do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Autora de diversos artigos e capítulos de livros sobre arquitetura moderna, história intelectual e patrimônio cultural. Organizou com Marina Grinover, arquiteta e urbanista, professora na Escola da Cidade e atualmente também na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), a coletânea Lina por escrito, pela Cosac e Naify, 2009. Foi curadora da Ocupação Mario de Andrade, no Itaú Cultural, 2003. Sua tese de livre-docência, Lugar de mulher, foi premiada pelo Museu da Casa Brasileira em 2017 e está em preparação pelas Edições SESC.