À luz dos estudos decoloniais e da ampliação dos limites da história da arte, reitera-se a necessidade de propor uma leitura do barroco brasileiro como fruto de hibridismos e intercâmbios culturais do período colonial, não apenas referindo-se a um estilo artístico pautado por cânones europeus. A partir de matrizes transdisciplinares, este curso busca apresentar e discutir o panorama do barroco brasileiro nos séculos 17 e 18, não somente nos usuais polos, como Minas Gerais e Bahia, mas também na Amazônia, no sertão nordestino e no sul brasileiro, em manifestações de pintura, escultura e arquitetura. Por fim, objetiva-se discutir as reverberações que os estudos acerca do patrimônio artístico barroco causaram nas dinâmicas patrimoniais brasileiras no século 20, em uma historiografia modernista. Trata sobre as interpretações e valorizações do barroco na consolidação histórica e cultural de uma identidade efetivamente brasileira, em torno da Semana de Arte Moderna de 1922, da criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1937, da divulgação da arquitetura brasileira pelo mundo e da publicação de importantes obras historiográficas que buscavam documentar e analisar essa produção.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e ficará disponível aos alunos durante cinco dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 26.9.2022
Barroco: estrutura híbrida, ambígua e contraditória
Na primeira aula do curso, buscamos dissecar o barroco a partir de princípios que pautaram suas produções artísticas, mas que transbordam seus limites cronológicos e estilísticos impostos por uma historiografia positivista e obsoleta. Dessa forma, constitui-se um corpo de pensamento e de operação do barroco brasileiro, considerando a pluralidade das matrizes culturais que resultaram na produção artística e arquitetônica no período colonial.
Aula 2 – 3.10.2022
Ouro, madeira e sangue: o barroco em Minas Gerais
Analisaremos, nesse encontro, obras de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Manoel da Costa Ataíde, Joaquim José da Natividade, Francisco Xavier de Brito e João Nepomuceno Correia e Castro. A partir da produção desses artistas, pode-se perceber um panorama da pintura, da escultura e da arquitetura no cenário mineiro, refletindo uma rápida expansão urbana e do uso da arte atrelada à religião como instrumento colonizante em uma sociedade plural que vivia uma excitação tumultuosa em torno do ouro.
Aula 3 – 10.10.2022
Índios, negros, italianos e a efervescência do Grão-Pará: o barroco na Amazônia
Nessa aula será abordada a produção da arquitetura e de suas artes aplicadas na Amazônia a partir de duas referências principais: as oficinas artísticas dos jesuítas, produtoras de obras culturalmente híbridas, que importavam mestres artísticos da Europa e utilizavam mão-de-obra indígena, negra e mestiça, em muitos casos escravizada; e a produção do arquiteto bolonhês Antônio José Landi no Pará. Essa produção era regida por novos personagens na política e na monarquia portuguesa, tanto na Colônia quanto na Coroa, no que se chama de “Lisboa pombalina”.
Aula 4 – 17.10.2022
Recepções de tradições estrangeiras na primeira costa: o barroco no Nordeste
Os encontros políticos conflituosos das tradições artísticas europeias com as culturas ameríndias, negras e mestiças serão analisados nesse encontro sobre o barroco no Nordeste. De que forma, então, esse repertório híbrido era constituído, com suas dinâmicas de adaptação e reinterpretação de modelos arquitetônicos e artísticos importados? Com produções extremamente ricas, tanto nas grandes cidades-sede da administração colonial quanto no interior, abordaremos as obras resultantes dos intercâmbios e hibridismos culturais de ume região que vivia dinâmicas próprias com Portugal e com a África.
Aula 5 – 24.10.2022
Missões jesuíticas, guerras e propagandas: o barroco no Sul e no Sudeste
Na quinta aula do curso, analisaremos o papel decisivo da atuação da Companhia de Jesus no Sul e no Sudeste do Brasil, não apenas nas suas produções artísticas e arquitetônicas, mas também em suas estruturas educacionais, políticas e propagandísticas nessas regiões. Estudaremos como, em muitos pontos, conectavam-se com correntes europeias, como a conquista de território, a catequização de povos nativos e a solidez institucional da Ordem, ao mesmo tempo que se flexibilizavam, em alguns aspectos, para a maior penetrabilidade na sociedade brasileira.
Aula 6 – 31.10.2022
Barroco como estruturador da identidade modernista brasileira
Como provar para o mundo que o Brasil tem “quatro séculos de história”? Numa postura crítica à estrutura eurocêntrica que sustentava esse questionamento, será abordada a fundação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e sua relação com Mário de Andrade; Lúcio Costa e o estudo da arquitetura jesuítica brasileira; Oswald de Andrade e o movimento antropofágico; e o barroco brasileiro na exposição “Brazil Builds: architecture new and old, 1652-1942”, no MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Iorque.
Mateus Nunes é Doutor em História da Arte pela Universidade de Lisboa, com período de intercâmbio na Universidade de São Paulo (USP), onde é professor convidado. Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É pesquisador integrado do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (ARTIS/IHA-FL-UL), com pesquisa sobre hibridismos e intercâmbios culturais da produção artística e arquitetônica barroca e jesuítica na Amazônia Colonial. Concentra-se também em estudos transdisciplinares sobre teoria da arte e arte contemporânea brasileira. Ministra cursos no MASP Escola sobre barroco brasileiro e arte contemporânea paraense desde 2021.