Ao olharmos para a história do Brasil nos deparamos com um discurso criado a partir do apagamento de presenças, lutas e sentidos em prol de um ideal unificado de nação. Sabemos que a arte foi, e é, uma ferramenta de validação ou de questionamento desse discurso. Ao compreender esse sistema como organizador da visualidade, e, portanto, como produtor de sentidos do real, o curso partirá de obras do acervo do MASP para discutir suas relações com História da arte branco-brasileira e como uma agência poética pode investir uma ação ética que confronta e rediscute a própria história do Brasil.
Para tanto, a cada aula uma obra de arte do acervo do MASP será tensionada para além de sua forma: será analisada como lugar teórico de onde se partirá para traçar relações com conceitos, temporalidades e outras manifestações artísticas que compõem o arquivo que entendemos por História da arte branco-brasileira.
Com essa movimentação, que se inicia pelas obras e segue através da visualidade, de modos de representação, e da história da comunidade imaginada chamada Brasil, buscaremos compreender como as obras produzidas em uma sociedade marcada pela colonialidade são capazes de reforçar estereótipos, atribuir valores a certos grupos sociais e exaltar o papel daqueles que representam o país que está no retrato.
Mas, mais do que isso, poderemos notar que quando outros protagonistas entram em cena, outras perguntas são feitas, outras histórias contadas e sujeitos, outrora considerados objetos, preenchem as lacunas da consciência com a memória, e há a possibilidade de visualizar a pluralidade da qual somos feitos.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e ficará disponível aos alunos durante cinco dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 20.4.2022
Principal peça do jogo
Na primeira aula do curso será apresentada a proposta metodológica de partir da obra de arte como lugar teórico. Mais do que analisar cada obra, nos concentraremos nas perguntas e formulações teóricas suscitadas por cada imagem. Começaremos esse exercício com a pintura Principal peça do jogo, 2018, do artista No Martins, para discutirmos conceitos que nortearão as aulas seguintes como colonialidade, suprematismo branco-brasileiro e patriarcalismo.
Aula 2 – 27.4.2022
Irmãos de leite
Trabalharemos, a partir da pintura Irmãos de leite, 1960, de Benedito José Tobias, as aproximações e distâncias que definiram ao longo da história de nossa formação social os lugares de negros e brancos no Brasil. Algumas referências como Edimilson de Almeida Pereira, Abdias Nascimento e Achille Mbembe serão acessadas para nos auxiliarem a compreender a invenção do negro e a relação da ideia de democracia racial com o quase-lugar que parte dessa população ocupa no país.
Aula 3 – 4.5.2022
A permanência das estruturas
O trabalho da artista Rosana Paulino será o fio condutor da costura que faremos no terceiro encontro. Abordaremos como uma gramática racializada de representação, conceito de Stuart Hall, estrutura boa parte da produção artística brasileira e discutiremos como a agência poética negra é capaz de abrir espaço para aquilo que os escombros da colonialidade tentou soterrar.
Aula 4 – 11.5.2022
Bandeiras
Quando pesquisadores, curadores e artistas negres propõem suas intervenções, quais imagens questionamos e formulamos? Partindo da obra Bandeiras, 2006, do coletivo Frente 3 de Fevereiro, discutiremos como o samba, o pagode, o futebol, o funk e o rap também são manifestações que possibilitam o sacudimento do sistema de arte. Entendendo que pesquisas e proposições estéticas também operam como proposições políticas, perceberemos quais são as bandeiras que tremulam outras visões de Brasil.
Aula 5 – 18.5.2022
Éramos as cinzas e agora somos o fogo
O painel de Maxwell Alexandre nos levará a formular algumas questões como a relação de artistas negros contemporâneos com a arte figurativa, os meios de auto inscrição e autorrepresentação coletivas. Os olhares negros que criam retratos como João de Deus Nascimento, 2018, pintura de Dalton Paula comissionada na ocasião da exposição Histórias afro-atlânticas (2018), projetam outra composição da imagem do próprio Brasil.
Lorraine Mendes é historiadora da arte, doutoranda em História e Crítica da Arte pela UFRJ, pesquisadora bolsista da Capes. Atua nas áreas de História da arte branco-brasileira, História afro-brasileira e Arte contemporânea. Pesquisa os projetos de nação através da agência poética negra contemporânea e propõe um olhar que desloca as noções de centro e periferia no sistema de arte. Foi professora no departamento de História e Teoria da Arte na Escola de Belas Artes da UFRJ entre 2019 e 2021 e, como desdobramentos de sua pesquisa, realiza curadorias.