PÚBLICO GERAL
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O objetivo desse curso é expor, conceituar e refletir criticamente sobre o conceito de Moda, suas características sociais, políticas, culturais e econômicas entrelaçadas com a noção de corpo, identidades e expressões de gêneros e as sexualidades a partir da Idade moderna do século XV ao contemporâneo.
Partindo de uma constelação de teóricos e escritores como Michel Foucault, Judith Butler, Gilles Lipovetsky, Walter Benjamin, Diane Crane, Nietzsche, Baudelaire, Virginia Woolf, Gilda de Mello e Souza, a atividade relaciona essas perspectivas filosóficas, sociológicas e históricas com nomes das vanguardas artísticas e literárias passando por Virginia Woolf, Marcel Proust, Georges Bataille, aos movimentos cubista, o surrealismo francês e os futuristas na Moda das décadas de 1960 e 1990.
Em um primeiro momento, trata-se de conceituar a emergência da Moda enquanto organização social da aparência e do gosto, relacionada com a constituição da personalidade aparente do indivíduo, para a partir daí se pensar a relação entre as formas da vestimenta no processo de subjetivação dos corpos, das identidades e expressões de gêneros. Num segundo momento, abordar essas questões em tópicos como a emancipação da burguesia e a generificação das vestimentas, a criação de uma cultura da feminilidade, o dandismo como movimento de revolta estético-político no século XIX, a modernização do guarda-roupa feminino pelos criadores de Moda modernistas como Coco Chanel, Paul Poiret, Jean Patou, Madeleine Vionnet, Elsa Schiaparelli e Yves Saint Laurent, para se pensar na atualidade contemporânea as influências da teoria queer de Judith Butler nas ressignificações dos corpos plurais e das expressões de gêneros na Moda.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e ficará disponível aos alunos durante cinco dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
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O MASP, por meio do apoio da VR, oferece bolsas de estudo para professores da rede pública em qualquer nível de ensino.
Aula 1 – 5.2.2024
Teoria e conceito de Moda
Fenômeno específico das sociedades modernas, a Moda emerge na cultura de corte entre os séculos XIV e XV como “organização social da aparência”, do gosto e como nova percepção subjetiva e coletiva da noção do tempo transitório e efêmero. Nesse sentido, trata-se de investigar, a partir da filosofia, da história e da sociologia, as rupturas histórico-sociais que permitiram a origem do conceito de Moda, suas principais características, a dialética entre o indivíduo e a sociedade na cultura da aparência (Georg Simmel), o consumir como constitutivo do sujeito e o consumo como meio da poética moderna.
Aula 2 – 7.2.2024
Moda: uma estética da existência
A partir da conferência O corpo utópico de 1966 e do livro Vigiar e Punir (1975), de Michel Foucault, conceituar as diferenças propostas pelo filósofo entre a utopia e a heterotopia da corporeidade para historicizar o conceito de corpo nas filosofias que tematizaram o assunto, desde o diálogo O banquete de Platão, o racionalismo cartesiano, o “corpo que pensa” em Nietzsche, ao corpo sem órgãos em Gilles Deleuze. Por fim, compreender como a Moda enquanto linguagem do corporal, das Formas (Bild) e dos gestus foi influenciada por essas estruturas de pensamento.
Na filosofia contemporânea do século XX, a noção de sujeito da experiência se transforma: de um eu estável e imóvel no tempo passamos ao eu que se cria na mobilidade, no existir. Dessa maneira, trata-se de investigar como a vestimenta de Moda pode pluralizar os corpos, as identidades e expressões de gêneros, criando aquilo que Foucault conceituou como “estética da existência”, isto é, a criação de uma vida como obra de arte.
Aula 3 – 14.2.2024
Moda e expressões de gêneros na sociedade de corte, Maria Antonieta e a Revolução Francesa
Analisar como o romance Orlando (1928), de Virginia Woolf - ao narrar a jornada de um lorde inglês que durante uma missão diplomática na Turquia do século XVIII “simplesmente acordou mulher” - expõe não apenas a crítica de gêneros da escritora como tece um painel histórico da Moda ao longo dos séculos. Contemporâneo ao período da “feminilização” de Orlando, a emergência do Iluminismo, e, posteriormente, o fim das leis suntuárias na Revolução Francesa, permitiram não somente a emancipação da burguesia como classe dominante, como causou uma reviravolta na cultura da aparência. Se na sociedade de corte prevalecia o caráter teatral e fantasioso das vestimentas dos nobres, confundindo as expressões de gêneros, a partir de 1789, as mulheres e os homens revolucionários definiram um “corte epistemológico no guarda-roupa”, isto é, a divisão de gêneros nas vestimentas que se prolongou até a modernidade burguesa e capitalista do século XIX.
Aula 4 – 19.2.2024
Moda e modernidade: da condição social feminina ao dandismo como movimento de revolta
Durante a modernização da metrópole de Paris na sociedade burguesa capitalista do século XIX, a Moda se dividiu entre a alta-costura para a elite e as lojas de departamentos, as máquinas de costura caseiras e o primórdio da confecção industrializada para a classe trabalhadora. Nessa configuração, trata-se de expor como em uma sociedade dividida entre classes sociais, surge, também, a divisão sexual e de gêneros na organização social da aparência, com a mulher confinada à privatividade do lar e com roupas convergindo para a imobilidade do corpo, e o homem no espaço público se destacando pelo uso de vestimentas sóbrias que materializavam a razão e a mobilidade do corpo. Como contraponto, pela ótica do movimento estético-político e de revolta do dandismo (George Sand, Oscar Wilde, Charles Baudelaire e Beau Brummell), “anarquizou” as normas de gêneros expressas em suas vestimentas transformando-as em outros modos de vida.
Aula 5 – 21.2.2024
Modernismo na Moda e nos corpos do século XX
Com a emergência da Belle Époque, costureiros como Paul Poiret, Coco Chanel, Jeanne Lanvin, Madeleine Vionnet e Jean Patou, modernizaram o guarda-roupa feminino criando um movimento modernista na Moda. Nesse aspecto, mesmo que lentamente, a representação da mulher na fotografia de moda dos anos 20 começou a propor - pela via do estético no estilo à la garçonne - a emancipação da mulher na Moda. À época, Elsa Schiaparelli, costureira ligada ao movimento surrealista francês, questionou as concepções de beleza, de corpo e de sexualidades a partir de um diálogo com a teoria da pulsão libidinal da psicanálise freudiana.
Também trata-se de analisar a influência do “modernismo tardio” nas coleções de Yves Saint Laurent, dos futuristas franceses André Courrèges, Paco Rabanne e Pierre Cardin, na década de 1960, período da segunda onda do movimento feminista, e da reinvenção da silhueta feminina pela criação dos minivestidos e da minissaia.
Aula 6 – 26.2.2024
A reinvenção das Formas do corpo na Moda dos anos 90
Na mesma década de publicação do livro inaugural da teoria queer, Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade (1990), de Judith Butler, a Moda dos anos 90 trouxe uma nova etapa na organização social da aparência, seja ressignificando os corpos, as noções de expressões de gêneros pelas vestimentas, como questionando os conceitos de belo, feio, natural e antinatural. Nas passarelas dos criadores japoneses e belgas surgiram outras leituras das identidades e formas do corpo ocidentalizado, questões já pontuadas pela filosofia e pelas vanguardas modernistas dos séculos XIX e XX, como em Nietzsche, na literatura de Georges Bataille, na pintura do cubismo de Pablo Picasso e nos objetos da fase surrealista de René Magritte.
Brunno Almeida Maia é doutorando em Arquitetura e Urbanismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), com pesquisa sobre Moda e arquitetura. Mestre em filosofia, ciências humanas e Teoria de Moda pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), foi curador e pesquisador da exposição “Ema e a Moda no século XX – as roupas e a caligrafia dos gestos”, na Casa Museu Ema Klabin, do Ciclo de Conferências “A atualidade de Marcel Proust (1871-1922)”, no CPF (Centro de Pesquisa e Formação) do Sesc SP, e do projeto “Povos brasileiros: gastronomia, moda e literatura”, no Sesc Avenida Paulista. Em 2018, atuou residente do NECMIS (Núcleo de Estudos Contemporâneos do Museu da Imagem e Som). É professor convidado em instituições como IED (Istituto Europeo di Design), de São Paulo, da Escola de Comunicação e Arte (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), do SENAC Lapa Faustolo, da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), e do Centro Universitário Belas Artes. Atualmente trabalha em seu próximo livro “Tempos de exceção: ensaios sobre o contemporâneo” (Editora Cosmos, no prelo).