É evidente o engajamento da produção contemporânea de filmes de artistas com a agenda ambiental, o debate racial e de gênero. Tomando como ponto de partida essa produção e as questões que a informam e atravessam, pretende-se aqui revisitar a história do filme de artista no Brasil para pensar outras histórias e genealogias possíveis para o contemporâneo. Alunos irão se voltar, principalmente, para a produção em bitolas menores como o super 8 e 16 mm nos anos 1960 e 1970, os experimentos com projeção chamados "audiovisuais" e as primeiras incursões da vídeo-arte. Também irão olhar para algumas exposições e eventos que foram determinantes para estabelecer o vocabulário e o enquadramento crítico para a produção de filmes de artistas ou experimentais. Em um exercício de historiografia crítica, pretende-se ir em direção aos pontos cegos dessa narrativa, buscando os artistas marginalizados, pouco comentados ou simplesmente esquecidos, para então questionar as razões desse esquecimento. Também interessa olhar para práticas e processos pouco valorizados nas narrativas historiográficas sobre o filme de artista e experimental, notadamente o documentário.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os alunos após a inscrição.
O curso é gravado e fica disponível durante 5 dias.
Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 - 3.11.21
Visões sobre o filme de artista e a vídeo-arte no Brasil: primeiras exposições, marcos historiográficos e balizas críticas. A Expo-Projeção 73, curada por Aracy Amaral em 1973, o circuito superoitista, o setor de vídeo do MAC USP.
Aula 2 - 10.11.21
Diálogos críticos com a história da arte norte-americana. Diferenças culturais, técnicas e políticas entre os contextos. Problemas na importação do modelo crítico norte-americano. Artistas se dirigem à câmera em inglês: Anna Bella Geiger, Roberto Sandoval, Liliane Soffer, Regina Vater.
Aula 3 - 17.11.21
Os corpos e as câmeras; artistas e filmes no limite. As experimentações com filmes e vídeo ganham fôlego no Brasil no auge da ditadura militar. Muitos filmes trazem a marca do desespero e da agonia com manifestações do corpo grotesco, da abjeção e da recorrência da violência: Anna Maria Maiolino, Jomard Muniz de Souza, Antonio Manuel, Jorge O. Mourão. Outros afirmam e expressam corpos silenciados, invisíveis; corpos dândis, negros: Victor Gerhard, Zózimo Bulbul.
Aula 4 - 24.11.21
Investigações e explorações do meio. Autorreflexividade, tautologia e a busca da especificidade do vídeo e da materialidade do filme. Iconoclastia, diálogos críticos com a televisão, a farsa da comunicação e produção de sentidos no país da Globo. Artistas comentando e respondendo à presença massiva da TV no Brasil. Analivia Cordeiro, Andrea Tonacci, Carmela Gross, Sônia Andrade, Arthur Omar, Glauber Rocha.
Aula 5 - 1.12.21
Instalações e áudio-visuais “à brasileira”, a ida pro espaço: Frederico Morais, Paulo Fogaça, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tunga.
Aula 6 - 8.12.21
Outras histórias feministas. Na história do filme de artista e do feminismo, já se chamou atenção para as artistas mulheres que se voltaram contra as representações e os lugares sociais construídos e esperados das mulheres. Aqui interessa expandir essa narrativa e ir ao encontro de práticas documentais e engajadas com lutas sociais, experiências pedagógicas e criações coletivas. Documentários de Lygia Pape, Luna Alkalay, Rita Moreira e Norma Pontes Bahia, Helena Solberg.
Patrícia Mourão de Andrade é pesquisadora, pós doutoranda afiliada ao Departamento de Artes Visuais da Universidade de São Paulo (USP) e doutora em cinema também pela USP, com bolsa sanduíche na Columbia University. Sua prática e pesquisa são voltadas para o cinema experimental e filmes de artista, com foco em narrativas e contranarrativas da história da arte por artistas.