Público geral
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AMIGO MASP
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O objetivo do curso é realizar um mergulho inicial no corpo de trabalhos artísticos e intelectuais de pensadories desobedientes de gênero que têm proporcionado análises contra-hegemônicas de Brasil – corpo este aqui denominado “pensamento social trans.” Ao longo das aulas, conheceremos diferentes elaborações sobre a história e sociedade brasileiras, apreendendo suas características centrais e de que modo desafiam perspectivas canônicas do pensamento social. Ademais, consideraremos as chaves de crítica e questionamento que apresentam a elementos que conformam, naturalizam, e banalizam a gramática nacional. Esse movimento nos permitirá empreender interpretações das propostas de reimaginação e de reconfiguração do domínio do possível elaboradas por tais pensadories – marcadas por um movimento não só de contraposição a, mas principalmente de extrapolação das formas e dos limites de enquadramento do “mundo como o conhecemos” (Mombaça, 2020). Informades principalmente por epistemologias trans, pensamento negro radical e estudos decoloniais e atribuindo enfoque a trabalhos selecionados de artistas e pensadories, abordaremos centralmente os seguintes temas: estratégias de recusa das ficções de poder dominantes; forças fugitivas em resposta a matrizes de confinamento; monstruosidade e as armadilhas do humano; e modos de se armar e curar frente ao antropocentrismo colonial e suas atualizações.
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IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
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O MASP, por meio do apoio da VR, oferece bolsas de estudo para professores da rede pública em qualquer nível de ensino.
Aula 1 – 6.6.2024
Pensamento social brasileiro e perspectiva trans
Nesta aula inaugural vamos estabelecer um terreno comum de debate. Consideraremos tanto os elementos característicos do entendimento convencional acerca do pensamento social brasileiro, como também os efeitos e reconfigurações na área produzidos por interpelações de intelectuais pertencentes a comunidades historicamente marginalizadas e excluídas do regime de conhecimento canônico. Também partiremos de estudos do campo da epistemologia e estética trans para considerar formas de pensar a categoria “trans” não como identidade, ou como elemento reduzido a gênero – mas como perspectiva.
Aula 2 – 13.6.2024
Recusa como contra-ataque
A partir de pinturas, vídeos, ensaios e performances de artistas como Bruna Kury e Vulcanica Pokaropa, nos debruçaremos em um aspecto do pensamento social trans comprometido com o enfrentamento de um diagnóstico de Brasil marcado pela colonialidade, pela violência institucionalizada e pela trivialização do ódio. Tomando como referência intelectuais do pensamento negro radical e da ficção especulativa, buscaremos compreender o que significa constituir um campo inventivo e um projeto de vida a partir da recusa, da destruição e da ruína.
Aula 3 – 20.6.2024
A beleza da ruptura e da fuga
Daremos enfoque às instalações, músicas, vídeo-performances e escritos de artistas como Ventura Profana e A Transälien. Consideraremos suas críticas ao pensamento moderno e ao enquadramento hegemônico de existência. Informades por estudos de fugitividade e por teorias contra-coloniais da espiritualidade e do sagrado, também nos debruçaremos sobre seus chamamentos para o mistério, para a escuridão, para o sonho. De que modo desviar de marcos de fim e de cura e fabular outros a partir do que escapa ao enquadramento?
Aula 4 – 27.6.2024
A monstruosidade que desestabiliza e contamina
Nesta aula realizaremos um debate a partir de dois livros em quadrinhos do ilustrador e pesquisador Lino Arruda: “Monstrans: experimentando horrormônios”, e “Cisforia: o pior dos dois mundos” – este em parceria com Lui Castanho. Neste encontro, partiremos de estudos da monstruosidade e estudos crip, bem como do pensamento sudaca e decolonial. Estudaremos o estabelecimento de um modo expressivo e político de se opor ao processo histórico de definição da existência e da humanidade levado a cabo por imaginários e projetos cisnormativos, capacitistas – fundados em pureza, essencialismo, circunscrição de categorias, imutabilidade. O fracasso em caber nesse modelo, como diria Jack Halberstam, é um modo de escape e rejeição do imperativo de sucesso que constrange e destitui a abundância e a multiplicidade que habitam para além do confinamento imaginativo e cognitivo hegemônico.
Aula 5 – 4.7.2024
Contradiscursos de desenvolvimento, liberdade e vínculo
Dedicaremos nossa atenção às exposições de Walla Capelobo, artista mineira, e de Emerson Munduruku/Uýra Sodoma, artista nortista. A partir de suas obras, refletiremos sobre a persistência do imaginário colonial, da crise climática, do etnocídio e do ecocídio, bem como das feridas intergeracionais e ambientais provocadas por sua atualização. Junto de epistemologias ameríndias e quilombolas, bem como de estudos do sul global, olharemos as formas expressivas destus dues artistas sobre apropriação e extrativismo, sobre modelos destrutivos de desenvolvimento e apagamento em prol de um marco civilizatório ocidental. Também, abordaremos o resgate e fabulação de formas ancestrais de conexão, resistência e reparação que transbordam o protagonismo antropocêntrico e ressignificam a categoria “tradicional”. Analisaremos sua propositura de uma ética e estética de relação que conecta muitas formas de existir.
Lux Ferreira Lima é mestre e doutore em Antropologia pela Universidade de São Paulo, com graduação em Direito e em Ciências Sociais pela mesma instituição. Foi pesquisadore visitante em Princeton University entre 2014 e 2015, e em University of Pennsylvania entre 2019 e 2020. Atualmente é professore colaboradore e realiza pesquisa de pós-doutorado sobre pensamento social trans na Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É pesquisadore vinculade à Rede de Estudos Trans-Travestis, bem como ao Coletivo de Estudos (In)Disciplinares do Corpo e do Território (COCCIX/NAU) e ao Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença (NUMAS), estes dois últimos da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Desenvolve pesquisas na articulação entre Antropologia, Estudos Trans e Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas: produção de conhecimento, escrita, estética e política, subjetividades, gênero e marcadores sociais da diferença.