MASP

MODA, MODERNIDADE E MODERNISMO NA SEMANA DE ARTE DE 22

Horário
19H – 21H30
Duração do Módulo
14, 16, 21, 23, 28 e 30.6.2022
TERÇAS E QUINTAS
6 AULAS
Investimento
Público geral
5X R$ 57,60
AMIGO MASP
5X R$ 48,96
*valores parcelados no cartão de crédito
Professores
Brunno Almeida Maia 

Em comemoração ao centenário da Semana de Arte de 22, este curso online tem por objetivo expor e conceituar, por meio da história da arte, política e social, da teoria de moda e da literatura, as possíveis relações e diálogos entre a moda – enquanto fenômeno social, organização da aparência e do gosto – na modernidade do século 20, e o movimento estético-político da Semana de Arte de 22, analisando essas relações a partir do casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. 

O curso entrelaça as obras e os modos de vida dos principais artistas da Semana partindo da emergência da noção de modernismo na moda europeia e brasileira do início do século 20, de seus criadores e costureiros. Aborda a modernização da mulher e da metrópole de São Paulo na cultura de consumo e da sociabilidade – com as publicações e revistas femininas e de moda do período que ofereceram uma nova linguagem para o design gráfico –, e da representação dos estilos, dos gostos e da constituição da personalidade aparente na imprensa. O curso propõe também como reflexão as influências da Semana de Arte de 22 nas criações de estilistas contemporâneos.

IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e ficará disponível aos alunos durante cinco dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.

 

Planos de aulas

Aula 1 – 14.6.2022
Introdução: teoria e conceito de moda 

Fenômeno específico das sociedades modernas, a moda emerge na cultura de corte entre os séculos XIV e XV como “organização social da aparência”, do gosto e como nova percepção subjetiva e coletiva da noção do tempo transitório e efêmero. Nesse sentido, trata-se de investigar, a partir da filosofia, da história e da sociologia, as rupturas histórico-sociais que permitiram a origem do conceito de moda, suas principais características, a dialética entre o indivíduo e a sociedade na cultura da aparência (Georg Simmel), o consumir como constitutivo do sujeito e o consumo como meio da poética moderna. 

Aula 2 – 16.6.2022
A colonização da aparência – Brasil 1500-1900

Nas primeiras descrições em cartas, crônicas, nas pinturas e nas diversas literaturas – teóricas e ficcionais – durante o processo de colonização brasileiro (1500-1900), os povos originários e os sujeitos escravizados da diáspora negra foram retratados e vistos pelo olhar do colonizador ora como “exóticos”, ora como “bárbaros”. Trata-se de analisar por meio das cartas de Pero Vaz de Caminha, as descrições de Nicolau Coelho, as pinturas de Albert Eckhout, Victor Meirelles, Johann Moritz Rugendas, Jean-Baptiste Debret, e a fotografia de Marc Ferrez, o conceito de “colonização da aparência”, isto é, como o processo de colonização resultou numa subjetivação do gosto, dos modos de vestir, das gestualidades e da constituição da personalidade aparente dessas populações a partir da noção eurocentrista de civilté e da moda na sociedade de corte.  

Aula 3 – 21.6.2022
Moda e modernidade no século 19

Durante a modernização da metrópole de Paris na sociedade burguesa capitalista do século 19, a moda se dividiu entre a alta-costura para a elite e as lojas de departamentos, as máquinas de costura caseiras e o primórdio da confecção industrializada para a classe trabalhadora. Nessa configuração, trata-se de expor como em uma sociedade dividida entre classes sociais, surge, também, a divisão sexual e de gêneros na organização social da aparência, com a mulher confinada à privatividade do lar e com roupas convergindo para a imobilidade do corpo, e o homem no espaço público se destacando pelo uso de vestimentas sóbrias que materializavam a razão e a mobilidade do corpo. Dialogando com essa perspectiva da moda parisiense, no Brasil de 1808, a fuga da família Real, proporcionou a abertura dos portos e a chegada de manufaturas e bens de luxo no contexto brasileiro; tal acontecimento trouxe uma nova perspectiva para o consumo de moda na corte brasileira, que culminou, durante o Segundo Império, na rua do Ouvidor como o principal centro do luxo da capital.  

Aula 4 – 23.6.2022
Moda e modernismo no século 20

No início do século 20, no contexto europeu, surgiram os primeiros costureiros e costureiras modernistas, que buscaram reinventar o guarda-roupa feminino e libertar o corpo da mulher pela noção de mobilidade na vestimenta. Aos seus modos, Paul Poiret, Coco Chanel, Jeanne Lanvin, Jean Patou, Lucien Lelong, Madeleine Vionnet e Mariano Fortuny, propuseram uma “nova elegância” pautadas em características do modernismo como a depuração das formas e sua sobriedade, a funcionalidade e a praticidade, o diálogo com os movimentos art déco, art nouveau e o estilo à la garçonne, que estabeleceram uma “imagem” da mulher moderna. Nessa configuração histórico-social, em 1910-20 com a modernização da metrópole de São Paulo, a inauguração do Theatro Municipal, e a abertura da loja de departamentos Mappin Store, criou-se uma nova cultura do consumo e da sociabilidade para as mulheres da elite paulistana. Por outro lado, a aquisição das primeiras máquinas de costura caseiras permitira às mulheres da classe trabalhadora a conquista da autonomia econômica e a criação de uma moda própria inspirada nos costureiros modernistas da Europa.  

Aula 5 – 28.6.2022
A moda na Semana de Arte de 22 – diálogos com as vanguardas europeias 

As vanguardas europeias do início do século 20, instauraram rupturas no modo de fazer artístico que redefiniram os rumos das artes através de propostas estético-políticas. Nesse aspecto, movimentos como o dadaísmo, o surrealismo francês, o futurismo italiano, o fauvismo, o construtivismo russo e os “trajes simultâneos” do casal Robert e Sônia Delaunay, propuseram, aos seus modos, “roupas de artistas”, vestimentas feitas em parcerias com Elsa Schiaparelli (surrealismo), Giacomo Balla (futurismo), Raoul Dufy (fauvismo) e Liubov Popova (construtivismo russo). A partir do conteúdo programático de seus movimentos, essas parcerias aproximaram através das roupas o corpo-vestido da arte, o cotidiano com a obra. 

Aula 6 – 30.6.2022
A moda na Semana de 22 – A “caligrafia dos gestos” no casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade 

Durante as suas estadias em Paris, o casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade se apropriou da moda parisiense como forma de pertencimento e distinção social nos círculos intelectuais e artísticos da época. Tarsila, ao adotar a moda de Paul Poiret e Jean Patou, ressignificou a sua personalidade aparente conjugando a feminilidade clássica de Poiret com o modernismo art déco de Patou. Já Oswald de Andrade, alinhado aos modos de vestir do homem burguês moderno, ressignificara certos códigos para a sua aparência por meio de nuances boêmias. Não apenas as vestimentas ganharam a atenção de Tarsila, mas em seus autorretratos e nos retratos que pintara de Mário de Andrade e de Oswald, a preocupação em delimitar nas formas e nas cores dos quadros intencionara aquilo que Gilda de Mello e Souza afirmou ser uma das “funções” da moda: a criação de uma estilística da existência, a roupa como criadora de uma “caligrafia dos gestos” no corpo-vestido. 
 

Coordenação

Brunno Almeida Maia é pesquisador em Filosofia pela UNIFESP, foi curador e pesquisador da exposição Ema e a Moda no século XX – as roupas e a caligrafia dos gestos, na Casa Museu Ema Klabin, e residente do NECMIS (Núcleo de Estudos Contemporâneos do MIS – Museu da Imagem e Som). É professor convidado do IED (Istituto Europeo di Design), de São Paulo, da Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), do SENAC Lapa, da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) e do Centro Universitário Belas Artes. Já ministrou aulas sobre a relação entre a moda, a filosofia, a arte e a literatura em espaços como MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo, Casa Museu Ema Klabin, Adelina Instituto, Oficinas Culturais Oswald de Andrade, Oficina Cultural Casa Mário de Andrade, Sesc e outras instituições. É autor do livro O teatro de Brunno Almeida Maia (Editora Giostri, 2014). Foi facilitador pedagógico de formação em Cidadania e Direitos Humanos do Programa “Transcidadania”, uma iniciativa da Prefeitura Municipal de São Paulo, com a CADS (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual) e Centro de Cidadania LGBT SP. Atualmente trabalha em seu próximo livro Tempos de exceção: ensaios sobre o contemporâneo (Editora Cosmos, no prelo).
 

Conferencistas