O Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU) tem recebido cada vez mais atenção e destaque no cenário artístico nacional. Apenas no ano de 2023, uma exposição retrospectiva de dez anos do coletivo foi realizada pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP) e ainda marcaram presença na 35ª Bienal de São Paulo. Mas, para além das pinturas e desenhos, aquilo que é visível nas exposições, quais outros elementos compõem e sustentam a prática artística do coletivo? Quais mitos a fundam? Quais animais a nutrem? E como os não indígenas têm dialogado com ela?
Nesse curso, elaborado em colaboração com Ibã e Bane Huni Kuin, fundadores do coletivo, iremos nos debruçar sobre a história e o processo artístico do coletivo MAHKU. Iniciaremos pelas suas origens, navegando pelo mito de surgimento da ayahuasca e pelas pesquisas desenvolvidas por Ibã desde os anos 1980 com seu pai e tios. Olharemos para a complexa relação entre os cantos da ayahuasca, as mirações, os mitos e as obras do coletivo. Analisaremos como o movimento tem se apropriado do mercado de arte, utilizando-o para restituir terras ancestrais e sustentar a vida coletiva na floresta. Por fim, veremos quais possibilidades de aliança e troca o coletivo abre em diálogo com os não indígenas.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 9.11.2023
Um pássaro no mundo das jiboias
Contando com a presença de Ibã Huni Kuin, faremos um sobrevoo pela história do coletivo MAHKU. Nos debruçaremos sobre o mito de origem da ayahuasca e no processo de pesquisa levado a cabo por Ibã a partir dos anos 1980. Esse longo processo de resgate cultural deu origem, em 2006, ao livro Nixi Pae, o espírito da floresta e, alguns anos depois, serviu de base para a emergência do coletivo MAHKU.
Aula 2 – 16.11.2023
Cantos e mirações
Junto de Bane Huni Kuin, filho de Ibã e primeiro artista do coletivo, olharemos detalhadamente para o processo artístico do MAHKU, destrinchando a complexa relação das pinturas e desenhos com o nixi pae (ayahuasca), os cantos huni meka (que conduzem os rituais com ayahuasca) e as mirações. Tomaremos como estudo de caso uma obra do canto Nai Mapu Yubekã.
Aula 3 – 23.11.2023
Vende tela, compra terra
Vende tela, compra terra foi um lema pronunciado por Ibã em 2014, quando compraram um terreno de dez hectares com o valor da venda de uma pintura e, nesse espaço, organizaram o Centro MAHKU Independente. Nessa aula, olharemos para esse enunciado buscando-o compreender de maneira ampliada, ou seja, como uma apropriação do mercado de arte feita pelos artistas visando a manutenção da vida coletiva na floresta.
Aula 4 – 30.11.2023
Amansando os brancos
Os brancos, chamados de nawa, ocupam uma posição dúbia para os Huni Kuin. Ora exercem fascínio, ora são temidos. Ibã Huni Kuin, fundador do coletivo, costuma dizer que é preciso amansá-los. Nessa aula, pensaremos o MAHKU a partir do mito do jacaré-ponte Kapetawã, que explica a separação e diferença dos povos indígenas e não indígenas. Olharemos para as possibilidades de aliança abertas pelos integrantes do coletivo.
Daniel Dinato é antropólogo e curador. Mestre em Antropologia Social pela UNICAMP, trabalha com o Movimento dos Artistas Huni Kuin desde 2016. Juntos, organizaram as exposições Yube Inu, Yube Shanu (Galeria Piero Atchugarry, Uruguai, 2022), MAHKU – Cantos de Imagens (Casa de Cultura do Parque, São Paulo, 2022) e MAHKU: Vende tela, compra terra (SBC galerie d’art contemporain, Montréal, 2022). Atualmente, é doutorando no programa de Estudos e Práticas das Artes na Université du Québec à Montréal (UQAM), onde elabora a prática de “curador-txai”, uma abordagem curatorial de longo prazo com o coletivo.