MASP

Histórias brasileiras

20.4.2021
TERÇA
ONLINE
11H-15H30
Este é o segundo seminário de um projeto de longo prazo que abrange um programa de exposições, palestras, publicações e cursos no MASP dedicado às Histórias brasileiras em 2021 e 2022. O primeiro seminário ocorreu em maio de 2020 e contou com a participação de Lilia Moritz Schwarcz, Moacir dos Anjos, Sandra Benites e Tom Farias.

Uma grande exposição coletiva está sendo preparada para 2022, e que irá incluir trabalhos de diferentes mídias, tipologias, origens, regiões e períodos, do século 17 ao século 21, a partir da perspectiva da história social e não necessariamente da história da arte. A mostra irá apresentar novos e diversos olhares, inclusivos e polifônicos, sobre as histórias do Brasil.

Com a presença de teóricos, curadores, artistas, ativistas e pesquisadores de diferentes áreas, que se debruçam sobre variados temas adotando perspectivas múltiplas, o seminário tem como objetivo apresentar e discutir, de forma pontual, complexidades de caráter social e político presentes em episódios históricos ocorridos no Brasil, como também práticas curatoriais e artísticas que lidam com os legados dessas histórias por meio de obras e exposições. Outros seminários e uma antologia reunindo esse conteúdo –a ser publicada em 2022– também estão sendo planejados.  

TRANSMISSÃO AO VIVO 
O seminário terá transmissão online e gratuita através do perfil do MASP no YouTube, com tradução em libras.

FOLDER
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ORGANIZAÇÃO
Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP
André Mesquita, curador, MASP
Lilia Moritz Schwarcz, curadora-adjunta de histórias, MASP
 
 

PROGRAMA

11H
Introdução
ADRIANO PEDROSA, diretor artístico, MASP  

11H10-12H40
DANIEL MUNDURUKU
Através do espelho: uma história de trás para frente
Os povos indígenas brasileiros são exemplos de resistência sempre presentes na história do Brasil. Nem sempre, no entanto, foram apresentados como modelo de atuação positiva nessa história. É preciso revisitar os caminhos da história oficial contada pelos colonizadores para trazer à tona a real contribuição que as populações indígenas deram no passado histórico e continuam oferecendo na contemporaneidade nacional. É preciso olhar através do espelho para encontrar caminhos que possibilitem a reconciliação necessária com a identidade brasileira.

PAULO HERKENHOFF
Brasil 2021 – histórias de antropofagia e canibalismo no presente

A XXIV Bienal (1998) focalizou o eixo antropofagia/canibalismos e problematizou a autonomia das culturas periféricas, a cultura como incorporação de valores de outras alteridades e os canibalismos psicológicos e políticos. A XXIV Bienal é um processo ininterrupto de reflexão e de embate com sistemas de eliminação das diferenças e com modos de violências biopolíticas. No extremo, a antropofagia pareceria confundir-se com sua antítese, a antropoemia. Em termos pessoais, as questões de Herkenhoff situaram-se no enfrentamento do eurocentrismo transposto para o sistema hierarquizante do MoMA (NY), onde foi curador de 1999 a 2002, e prosseguiram, no Brasil do século 21, no Museu de Arte do Rio (MAR), onde foi diretor cultural. 

LUCIANA BRITO
Buscando traços de insubmissão: fotografia e histórias de mulheres negras no Brasil escravista

No decorrer do século 19, estúdios fotográficos brasileiros produziram imagens de mulheres libertas e escravizadas. No caso das cativas, pode-se dizer que a maioria foi fotografada contra a sua vontade, fossem elas levadas para os estúdios por famílias abastadas que assim buscavam ostentar poder e riqueza, fossem elas usadas para compor cenários de um Brasil exótico, escravista e pretensamente harmonioso. Essas mulheres também chegavam aos estúdios para servirem de imagens com sentido erótico e científico. Algumas delas, quando libertas, também buscavam os estúdios para registrar sua vida em liberdade. Incorporando signos de respeitabilidade, expressavam assim a sua vontade de ocupar um lugar social. Os variados anseios dessas mulheres e as circunstâncias que motivaram as fotografias, na maioria das vezes, não estão registradas nos documentos históricos. Cruzando fotografias do século 19 e as pesquisas recentes da história social da escravidão, essa apresentação buscará entender as vontades, desejos, transgressões e subjetividades dessas mulheres, por meio da leitura das mensagens inscritas nos seus olhares e corpos.

Mediação: Glaucea Helena de Britto, supervisora Mediação e Programas Públicos, MASP

14H-15H30
HELOISA MURGEL STARLING
Canudos: a República renegada pela República

A história: por qual razão a República moveu uma guerra contra Canudos? O lugar em que essa história aconteceu: um ponto extremo da geografia nacional. O Brasil surge nesse cenário em que se descobre o Sertão, talvez a marca mais antiga e perdida de nossa identidade de brasileiros. 

LILIA MORITZ SCHWARCZ
A gripe espanhola em imagens

A gripe espanhola, também conhecida como “gripe bailarina” ou “gripe dos três dias”, chegou ao Brasil no segundo semestre de 1918, causando muitas mortes e incertezas, mas também várias demonstrações de solidariedade. Gerou ainda uma produção acelerada de imagens, sobretudo fotografias feitas para redações de jornais e caricaturas especialmente encomendadas por jornais e revistas. O objetivo dessa palestra é explorar esses registros visuais de época, que, mais do que se limitar ao testemunho e à reportagem, acabaram por legar, também, uma representação recorrente desse país, o qual, em momentos de emergência sanitária, sempre deixa escancarada a sua antiga e arraigada desigualdade social, racial, de gênero/sexo e origem. 

Mediação: Fernando Oliva, curador, MASP
 

PALESTRANTES

DANIEL MUNDURUKU
Escritor indígena, graduado em filosofia, com licenciatura em história e psicologia. É mestre e doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em linguística pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Autor de 53 livros para crianças, jovens e educadores, é Comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República desde 2008. Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior, entre eles, o Prêmio Jabuti, o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Érico Vanucci Mendes (outorgado pelo Cnpq) e o Prêmio Tolerância (outorgado pela Unesco). 
 
HELOISA MURGEL STARLING
Professora titular livre de história do Brasil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É autora de Ser republicano no Brasil Colônia: a história de uma tradição esquecida (2018) e co-organizadora do Dicionário da República: 51 textos críticos (2019).
 
LILIA MORITZ SCHWARCZ
Professora titular do departamento de antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e Global Scholar em Princeton. Atua também como curadora-adjunta de histórias no MASP, onde participou da equipe curatorial das seguintes exposições: Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018) e Histórias das mulheres: artistas antes de 1900 (2019). É autora de uma série de livros e catálogos, como Espetáculo das raças (1993), As barbas do imperador (1998), Histórias mestiças (2016, com Adriano Pedrosa), A batalha do Avaí (2013, com Lúcia Stumpf e Carlos Lima), Pérola imperfeita: as histórias e a história de Adriana Varejão (2014) e Enciclopédia Negra (2021, com Flavio Gomes e Jaime Lauriano).

LUCIANA BRITO
É professora do curso de graduação em história e do mestrado em história da África, da diáspora e dos povos indígenas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em história social pela Unicamp e graduada em história pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É pós-doutora em história pela City University of New York, com bolsa Andrew W. Mellon. Também foi bolsista Capes-Fulbright na New York University e é Affiliated Scholar na Universidade de Princeton. É autora do livro Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista (2016). É especialista em escravidão e abolição no Brasil e Estados Unidos. Também é colunista do Nexo Jornal e integrante do Coletivo Angela Davis, da UFRB.

PAULO HERKENHOFF
Curador da XXIV Bienal de São Paulo, dedicada à autonomia da arte brasileira com a problematização da antropofagia (1998); professor catedrático no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) (2019) e agraciado com a Grã-Cruz do Mérito Cultural (2015). Seu projeto de escrita neste século envolve uma cartografia sísmica da história da arte brasileira, bem como pensamento esférico, vontade construtiva, diagramas de alteridade, arte e ciência, transversalidades, formação sociocultural, construção historiográfica de coleções públicas. Ex-diretor cultural do Museu de Arte do Rio (2013-2016). Consultor da FGV Conhecimento e das coleções Patricia Phelps de Cisneros (NY) e Hecilda e Sergio Fadel (RJ). 

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