MASP

Vincent van Gogh

A arlesiana, 1890

  • Autor:
    Vincent van Gogh
  • Dados biográficos:
    Groot Zundert, 1853-Auvers-sur-Oise, França ,1890
  • Título:
    A arlesiana
  • Data da obra:
    1890
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    65 x 54 cm
  • Aquisição:
    Doação Evaristo Fernandes, Alfredo Ferreira, Walther Moreira Salles, Fúlvio Morganti, Ricardo Jafet, Carlos Rocha Faria, J. Silvério de Souza Guise, Assis Chateaubriand, Angelina Boeris Audrá, Louis La Saigne, Rui de Almeida, Henryk Spitzman Jordan, Mário Audra, Centro do Comércio do Café do Rio de Janeiro, Um espanhol, Moinho Fluminense S.A., Moinho Inglês S.A., Companhia América Fabril S.A.., 1954
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00114
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Van Gogh adquiriu interesse pela pintura trabalhando para o marchand Goupi, na Holanda e em Londres. Posteriormente, dedicou-se à carreira religiosa entre os mineiros pobres da Bélgica, até ser demitido por apoiar as lutas dos trabalhadores. Lá, começou a pintar e fez sua primeira obra notável, Os comedores de batatas (1885). No ano seguinte, em Paris, iniciou estudos da técnica impressionista e das estampas japonesas. Em seguida, mudou-se para Arles, no sul da França, onde iniciou uma série de trabalhos de luminosidade esplêndida e cores vibrantes. Nessa época, sofreu transtornos psíquicos e internações compulsórias, que culminaram em seu suicídio em 1890. Suas cartas são documentos fundamentais para a compreensão da obra, especialmente aquelas endereçadas ao irmão Theo van Gogh (1857-1891). A obra A arlesiana (1890) foi mencionada por Van Gogh em duas cartas de junho de 1890. A primeira relata ao amigo Paul Gauguin (1848-1903) que a obra foi feita com base em um desenho dele e que, por isso, Van Gogh a considerava uma obra conjunta. A segunda, escrita para sua irmã, descreve a pintura como a imagem ideal do caráter das mulheres de Arles. A modelo é Marie Julien Ginoux (1848-1911), dona do Café de la Gare, que alugou um quarto para o artista em 1888. Existem outras três versões da obra, em Roma, em Nova York e em Otterlo, Holanda.

— Equipe curatorial MASP, 2017




Por Guilherme Giufrida
Gosto de pensar a obra de arte como dádiva. O termo foi desenvolvido pelo antropólogo Marcel Mauss a partir de algumas populações da Polinésia e do noroeste da América do Norte, para quem as pessoas permanecem impregnadas nas coisas, daí a obrigação de retribuir os presentes recebidos. A pintura A arlesiana de Vincent Van Gogh (1853-1890) explicita esse conceito de diversas maneiras. Apesar da autoria individual, o artista a considerava tanto sua como de Paul Gauguin (1848-1893). Os dois moraram juntos em Arles, no sul da França, em outubro de 1888, quando conheceram Marie-Julien Ginoux (1848-1911), que aparece em trabalhos de ambos realizados naquele ano, assim como o Café de que era dona. Nesse curto e intenso período, os pintores cogitaram estabelecer ali um ateliê conjunto. Dois anos depois, Van Gogh retornaria a Arles, reencontrando-se com a amiga. Em seguida, pintou outras quatro versões do retrato, usando como base um desenho feito por Gauguin à época, e escolheu uma delas para enviar ao amigo. “Tome isso como uma obra sua e minha, como um resumo de nosso mês de trabalho juntos”, escreveu. A Arlesiana do MASP é justamente a que Van Gogh presenteou Gauguin. Nela, há sobre a mesa dois dos livros prediletos de Vincent – Contos de Natal de Charles Dickens e A cabana do Pai Tomás de Harriet Beecher Stowe –, possivelmente presentes levados à Ginoux. Mesmo depois da obra passar por coleções e galerias até ser vendida ao MASP em 1950, ainda é possível sentir as trocas, os gestos, os afetos, a importância e a força daquele tempo juntos na vida desses três personagens.

— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 12.09.2020




Por Equipe curatorial MASP
Vincent Van Gogh (1853-1890) dedicou-se inicialmente à carreira religiosa entre os mineiros belgas, até ser demitido por apoiar as lutas dos trabalhadores. Lá, começou a pintar e fez sua primeira grande obra, Os comedores de batatas (1885). No ano seguinte, em Paris, iniciou estudos da técnica impressionista e das gravuras japonesas. Em seguida, mudou-se para Arles, no sul da França, onde iniciou uma série de trabalhos de extraordinária luminosidade e cores vibrantes. Nessa época, sofreu transtornos psíquicos e internações, que culminaram em seu suicídio em 1890. Suas cartas são documentos fundamentais para a compreensão da obra, especialmente aquelas ao irmão Theo Van Gogh (1857-1891). A arlesiana é uma das quatro pinturas de Van Gogh no acervo do MASP (na foto ela aparece entre outras duas: O banco de pedra (1889) e O escolar (1888) e foi mencionada pelo artista em duas cartas en junho de 1890. A primeira relata ao amigo Paul Gauguin (1840-1903) que a obra foi feita com base em um desenho dele e que, por isso, Van Gogh a considerava uma obra conjunta. A segunda, escrita para sua irmã, descreve a pintura como a imagem ideal do caráter das mulheres de Arles. A modelo é Marie Julien Ginoux (1848-1911), dona do Café de la Gare, que alugou um quarto para o artista em 1888. Existem outras três versões do retrato, no Kröller-Müller Museum, em Otterlo, na Galleria Nazionale d'Arte Moderna, Roma, e numa coleção particular, porém a do MASP é claramente a mais bem sucedida e complexa, com pinceladas rápidas e leves, que desenham uma figura com sutileza e precisão contra um intenso fundo rosa — não por acaso é umas das obras do acervo mais pedidas em empréstimo para mostras do artista em todo o mundo.

— Equipe curatorial MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 17.02.2020




Por Luciano Migliaccio
Walter e Metzger datam a obra A Arlesiana de fevereiro de 1890, enquanto outros autores preferem datá-la entre janeiro e fevereiro do mesmo ano. A modelo do quadro é Mme. Marie Julien Ginoux (1848-1911) dona, junto com o marido Joseph-Michel, do Café de la Gare em Arles, onde Van Gogh alugou um quarto de maio a setembro de 1888, antes de se mudar para a famosa casa amarela que o pintor notabilizou em outubro de 1888 (Amsterdã, Museu Van Gogh). Em novembro daquele ano, Van Gogh escreveu ao irmão Theo: “Enfim tenho uma Arlesiana, uma figura esboçada numa hora, fundo amarelo-limão, rosto cinza, roupas pretas, pretas, pretas, com azul-da-prússia perfeitamente puro. Ela apóia-se numa mesa verde e senta-se numa cadeira de madeira cor de laranja”. A carta refere-se talvez à versão na qual aparecem sobre a mesa luvas verde-claras e um guarda-chuva (Paris, Musée d’Orsay) ou talvez à versão na qual alguns livros substituem as luvas (Nova York, Metropolitan Museum). Durante a visita de Gauguin a Arles, este também pintou um retrato de Mme. Ginoux, provavelmente enquanto ela posava para um dos dois quadros de Van Gogh citados acima. A obra de Gauguin faz parte do acervo do Museu Pushkin de Moscou. Em novembro, Mme. Ginoux posou novamente para os dois artistas, e Gauguin a representou em Mulher no Jardim do Hospital de Arles (Chicago, Art Institute), e Van Gogh por sua vez adaptou a composição desta tela para um quadro conhecido como Lembranças de um Jardim de Etten (São Petersburgo, Ermitage). A obra de Gauguin, hoje no Museu Pushkin, foi precedido por um desenho a lápis e carvão (San Francisco, Fine Arts Museum), que ficou com Van Gogh, após a violenta ruptura entre os dois artistas, em 23 de dezembro de 1888. Enquanto se encontrava internado no hospício de Saint-Remy, entre janeiro e fevereiro de 1890, Van Gogh copiou o desenho do amigo em três quadros. O primeiro, com fundo vermelho, encontra-se em Roma (Galleria Nazionale d’Arte Moderna), o segundo, com fundo azul-roxo, está em Otterlo (Kröller-Müller Museum) e o terceiro é o do Masp. Uma quarta versão foi realizada em abril de 1890 e encontra-se em Nova York (Bakwin Collection). Van Gogh refere-se a esses quadros nas cartas a Theo, bem como numa carta dirigida a Gauguin, nunca terminada, nem enviada. Nessas cartas, emergem as razões afetivas e artísticas que o induziram a retomar a composição do antigo amigo. Na carta 638, ele pergunta a Theo: “O que foi que Gauguin disse a respeito do último retrato da Arlesienne, baseado num de seus desenhos? Você verá futuramente que o quadro não é uma das piores coisas que eu já fiz”. Na carta 643 ao próprio Gauguin, afirma: “Você nem imagina como eu me alegro quando ouço dizer que o retrato da Arlesienne, baseado rigorosamente num de seus desenhos, é de seu agrado. Procurei ser fiel, o mais possível, ao seu desenho, tomando no entanto a liberdade de dar uma interpretação pessoal por meio de cores, sempre dentro do caráter sóbrio e do estilo do desenho. Assim sendo, pode ser considerado uma síntese da Arlesienne e, sendo bastante raro encontrar sínteses de Arlésiennes, considere o quadro como um trabalho comum, seu e meu: um sumário dos nossos meses de trabalho em conjunto... O Doutor Gachet chegou a uma conclusão, após duas ou três hesitações, e disse o seguinte: ‘Como é difícil ser simples’”. Esta vontade de síntese e de fusão da forma com a cor, que caracteriza a leitura do trabalho de Gauguin por parte do mestre de Zoondert, aproxima também este retrato do Escolar (n. 112), sugerindo uma espécie de díptico, tendo em vista a identidade das medidas. Tal possibilidade reforça a hipótese de que este último poderia ser datado do início de 1890, na época em que o artista estava em Saint-Remy.

— Luciano Migliaccio, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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