Por Luciara Ribeiro
As Guerrilla Girls, coletivo formado em 1984 por artistas da cidade de Nova York, EUA, demonstram desde sua formação que o sistema das artes é um campo em disputa. Assumidamente feministas, as artistas denunciam que, para pessoas cujos corpos foram setorizados pela desigualdade econômica e social, pelas definições pré-concebidas de gênero, de territorialidade, de identidade étnico-racial ou outros marcadores sociais e de colonialidade, fazer parte do sistema das artes é uma vivência que pode remeter a uma experiência de guerra, exigindo-lhes preparo e o desenvolvimento de estratégias múltiplas de sobrevivência. As Guerrillas Girls se organizam em coletividade e atacam com palavras, denúncias, porcentagens, dados, ironia e provocação. São trabalhos que, com humor, fazem críticas assertivas. O cartaz As vantagens de ser uma artista mulher expõe com sátira as situações e pensamentos absurdos aos quais as mulheres estão submetidas dentro do sistema das artes. Os tópicos revelam a perversidade e as injustiças que beiram o absurdo. As Girls desmascaram a dita neutralidade do sistema artístico e nos fazem repensá-lo. As artistas deixam evidente que seus cartazes não remetem a uma realidade desejável, e que, portanto, cabe a nós construirmos projetos de mudança. A relação arte, ativismo, política e ética abre o debate sobre nossas posturas e responsabilidades, sobre que tipo de instituições artísticas queremos para o futuro. As Guerillas Girls já anunciaram a escolha delas e fazem do hoje uma plataforma para o futuro.
— Luciara Ribeiro, mestre em História da Arte, Unifesp e Universidade de Salamanca, Espanha, 2021