As obras do artista colombiano Mateo López frequentemente embaralham os limites entre desenho, pintura e escultura, transitando entre o bidimensional e o tridimensional, o projeto e o acaso, a construção artesanal e a apropriação de objetos encontrados. Caja de Pinturas (Vale Mist) [Caixa de pinturas (Vale da névoa)] é formada por uma moldura retangular e três painéis que podem ser deslocados no interior do quadro, criando diferentes sobreposições e deixando ver até mesmo a parede onde a obra está pendurada. A possibilidade de alteração dos painéis cria uma composição móvel e sugere abstrações, arquiteturas e paisagens que podem ser rearticuladas, como uma pintura que não está fixa. Cada uma das faixas dentro da caixa tem dois campos de cor divididos em diferentes proporções: um bege, construído com um tecido usado para encadernação, e um levemente esverdeado, feito com tinta acrílica, gerando sutis combinações cromáticas entre esses materiais. O tecido de encadernação lembra a textura do linho, um material historicamente usado na pintura, e também refere-se à dimensão narrativa que ela pode conter, como se fosse um livro ou um caderno. O título refere-se às caixas de pinturas que guardam as tintas e paletas dos pintores mais tradicionais e também ao nome da própria tinta (vale da névoa) usada para a construção do trabalho. Assim, López associa diversos materiais, convenções e práticas da pintura, produzindo uma obra que testa os limites dessa linguagem em relação à escultura ou mesmo à literatura.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2023