As pinturas de Candido Portinari orientaram-se progressivamente para a geometrização dos contornos da paisagem e dos corpos representados. Em Colheita de feijão (1957), o artista estilizou os personagens e o espaço simultaneamente, sobrepondo à cena uma grade bem definida que parece controlar toda a composição. Nesta pintura, a trama de verticais e horizontais do terreiro de secagem do feijão passa para os corpos e vestes, criando um movimento conjunto entre os trabalhadores e o solo, tudo pintado em tons de cinza, verde e marrom. Notam-se as texturas e os destaques cromáticos em alguns elementos — como um chapéu, uma blusa, e uma toca — nas vestes dos homens que trabalham na secagem, e nas mulheres que fazem a catação utilizando-se de instrumentos. Essa divisão bem demarcada entre gêneros pode simbolizar uma divisão do trabalho: ao homem caberiam as atividades que exigem força física, e, à mulher, a atenção e a minúcia. Curiosamente, os animais, tanto nesta tela como em seu par, Colheita de arroz (1957), assistem à cena em uma posição contemplativa. Ademais, essas duas telas, compostas como uma dupla, conjugam também os dois ingredientes básicos da alimentação dos brasileiros, revelando a intenção de Portinari em compor uma representação moderna das tradições e da identidade nacional.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018