Um dos temas principais na obra de Aldo Bonadei (1906-1974) são os conjuntos de edifícios, especialmente os do bairro do Bixiga, São Paulo, onde por décadas o artista manteve residência e ateliê. Tendo recebido influências da obra de Paul Cézanne (1839-1906) — na paleta de cor e na composição — e do cubismo — na geometrização da paisagem —, Bonadei é considerado um dos pioneiros da arte abstrata no Brasil. Suas paisagens urbanas foram progressivamente regidas pelas tensões internas à própria composição, como na obra Confronto (1961), em que mal se percebe a alusão aos elementos arquitetônicos e aos blocos de edifícios — pode-se ver, com esforço, duas janelas estilizadas ao centro, em verde, circundadas por um quadrado amarelo irregular. O pintor parte de um motivo frequente na arte brasileira no século 20, os casarios; todavia, o espaço pictórico se organiza por meio de retalhos de cor em planos justapostos, coloridos como um caleidoscópio, em obediência a uma lógica abstrata. Esses blocos cromáticos contíguos buscam traduzir os volumes e os ritmos da cidade. A pintura de Bonadei desta fase busca revelar a tensão entre a organização racional do espaço e o caos dos movimentos e das cores dessa paisagem. O confronto, título da pintura, pode ser articulado aqui em múltiplos sentidos: entre a rigidez da geometria e a velocidade dos fluxos urbanos, ou entre a observação do mundo e as condições formais internas da pintura.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018