Por Guilherme Giufrida
Depois de formar-se em arquitetura em Roma, Lina Bo Bardi mudou-se para o Brasil para participar na fundação do MASP, em 1947, com o marido Pietro Maria Bardi (1900-1999). Projetou as instalações do museu em sua antiga sede, na rua 7 de Abril, além de atuar como curadora, designer e editora. Em 1957, iniciou o projeto da sede do MASP na avenida Paulista, inaugurada em 1968. Paralelamente, Bo Bardi desenvolveu desde muito jovem desenhos e aquarelas, prática que aprendeu inicialmente com seu pai Enrico Bo, próximo do artista Giorgio de Chirico. Em aquarelas, nanquins, colagens e esboços de projetos arquitetônicos, explicitou seu processo de conhecimento e desejos para o uso e fruição dos espaços. Em Estudo preliminar—Esculturas praticáveis do belvedere Museu Arte Trianon apresenta suas ideias para o térreo do edifício–depois apelidado de “vão livre”: uma praça pública aberta, interface entre o museu e a cidade. A aquarela de grandes dimensões foi realizada meses antes da inauguração do MASP e trata-se da principal representação em desenho do projeto final construído, depois de sucessivas alterações durante a obra. Bo Bardi produziu uma perspectiva do belvedere exagerando a sua escala, ressaltando os canteiros de flores, os espelhos d’água, a mata do parque Trianon ao fundo, com muitos brinquedos, esculturas e pessoas alegres desfrutando do espaço—como numa praça de interior envolvida pelo edifício modernista. Curiosamente, a arquiteta detalha o revestimento do piso com paralelepípedos usados nas ruas de São Paulo naquela época e parasitados pelo mato, algo que sobrevive até hoje.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2022