Duas questões centrais da pesquisa do artista Bruno Baptistelli são: a linguagem verbal e as cores, em especial enquanto manifestações de códigos sociais, como seus usos em bandeiras, sinalizações urbanas ou indicativos do sistema racial, que denomina os grupos étnicos de acordo com suas “cores de pele”. A obra Linguagem é composta por duas impressões offset feitas em diferentes tons de preto, que também variam em brilho e opacidade. Em uma lemos a palavra “negro” e na outra, “preto”, ambas em letras maiúsculas. Há um apontamento das diferenças entre os nomes das cores e sua visualidade, e sobre as supostas distinções de significado entre “preto” e “negro”, considerando que podem ser usados como sinônimos. A relação entre essas palavras também indica as reivindicações históricas do movimento negro, pois, ao longo do século 20, tanto movimentos sociais quanto escritores, artistas e músicos — entre as referências de Baptistelli estão diversos cantores de rap, trap, samba e blues — buscaram positivar esses termos. A obra também levanta discussões sobre colorismo, conceito que compreende que o tom da pele determina diferentes graus de preconceito. De todo modo, o que, a princípio, poderia ser lido como um binômio — a diferença entre “preto” e “negro” — é formulado como conjunto de aproximações e diferenças tão complexas quanto sutis.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2023