Por Pollyana Quintella
Georgina de Albuquerque (1885-1962) foi uma das primeiras mulheres no Brasil a se profissionalizar no campo das artes. Ela integrou júris, recebeu prêmios nos Salões, além de ter sido a primeira mulher a dirigir a
Escola Nacional de Belas Artes, já na década de 1950. Seu pioneirismo é oportuno para refletir sobre os papéis de gênero no meio artístico do início do século 20. Em
Mulher pensando(sem data, possivelmente pós-1920), embora a personagem elegante sugira uma passividade própria das pinturas de gênero — espécie de tédio doméstico das famílias burguesas brancas —, o título reforça sua agência. A
mulher está representada enquanto sujeito dotado de complexidade, para além do mero papel de modelo. Ademais, o sentimentalismo apontado pela postura corporal esmorecida e melancólica faz lembrar alguns autorretratos
de outras artistas do final do século 19 no Brasil, como Abigail de Andrade (1864-1890) e Berthe Worms (1868-1937). Entre 1906 e 1911, De Albuquerque passou uma temporada em Paris com o marido e artista Lucílio
(1887-1939), fruto de um prêmio de viagem concedido a ele. Lá, travou contato com tendências impressionistas que seriam incorporadas à sua pintura. Nesta obra, é possível notá-las através das pinceladas amplas e
luminosas que conferem vibração cromática às superfícies. Num meio que ainda considerava as mulheres artistas
amadorase pintoras de passatempo, o trabalho de Georgina de Albuquerque revelou-se um exemplo fundamental, embora ainda careça de mais estudos.