O artista guatemalteco-estadunidense Alex Donis, que vive e trabalha em Los Angeles, costuma focar em representações de desejo queer, especialmente entre homens não brancos. Esta pintura, que foi comissionada para o projeto Histórias da dança, faz parte de uma série intitulada Pas de Deux, que reúne inimigos declarados do passado e do presente em abraços e cenas imaginadas de fantasia e conexão. Outras peças desta série reúnem combatentes armados de forças opostas de conflitos anteriores, como a guerra dos Estados Unidos no Vietnã, 1965-75, para vislumbrar a mutualidade em vez da inimizade. No balé tradicional, um pas de deux é tipicamente dançado entre um homem e uma mulher, com papéis de gênero estritamente designados para cada parte. O trabalho de Donis subverte essa expectativa heterossexual, mostrando dois homens que realizam esses movimentos. Neste trabalho, ele imagina uma cena do balé Dom Quixote de Marius Petipa, de 1869, dançada por um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) chamado Palhaço e um policial militar. Donis fez uma pesquisa cuidadosa ao representar cada figura, com uma atenção aos detalhes específicos que podem trazê-las à vida. Tatuagens de grupos locais, equipamento anti-motim e insígnias militares são indícios da guerra das drogas em curso em São Paulo. Em um momento global atual, onde o protesto e a violência nas ruas se tornaram sinônimos de brutalidade policial, Donis imagina outro desfecho para essa crise em termos de paz, amor e unidade através da dança.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2020