Além de apresentar vivências da paisagem e da cultura latino-americanas, o artista costa-riquenho Federico Herrero experimenta com elementos próprios da pintura, como as marcas de pinceladas e a materialidade da tinta. Frequentemente, seu trabalho fica no limite entre a figuração e a abstração e se expande para a arquitetura, para além da tela. Várias vezes, o artista pintou o morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, com cores saturadas e chapadas. Com títulos em espanhol, diversas escalas e técnicas de pintura, esses trabalhos não constituem uma série, mas buscam materializar, segundo o artista, diferentes sensações provocadas pela paisagem carioca, tão marcada pela interação entre a natureza e a cidade. Em uma das primeiras dessas obras, um campo com muitos tons de verde tem uma textura que remete àquela da vegetação do morro carioca. Em outros trabalhos, a composição é mais sintética, com blocos de cor que indicam os elementos da paisagem. Na obra do Guggenheim Museum, o artista criou uma grande área preta no centro da tela. Essa forma tem uma ambiguidade, pois sugere um espaço positivo, como um volume, mas também indica um espaço negativo, como um buraco ou um vazio. O Pan de Azucar do MASP é o maior do conjunto, com 270 x 290 cm. Nele, a área central, que representa o morro, é apenas a lona crua sem pintura, enquanto nas bordas da composição há muitos elementos, como marcas de spray, grafismos que remetem ao desenho infantil, campos de cor e grossas pinceladas de tinta a óleo. Ao enfatizar as marcas de pintura nas bordas do trabalho, Herrero leva nosso olhar a circular pelas margens da composição. Nesse sentido, há um trânsito entre o micro e o macro, pois a maior parte da pintura está vazia, enquanto nas bordas há uma diversidade de elementos que geram contrastes entre áreas brilhantes e opacas, lisas e com texturas, algo que só pode ser visto ao vivo.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2021