Desde os anos 1990, a artista Sandra Cinto produz desenhos, pinturas e instalações que representam espaços oníricos ligados à tradição do sublime, um sentimento de espanto do sujeito frente à imensidão do mundo. A pintura Réquiem é uma paisagem feita por pigmentos azuis e pretos diluídos, formando manchas que escorrem pela superfície. A verticalidade da tela enfatiza a alusão aos movimentos de quedas d’água e as sobreposições de camadas de tinta criam um espaço atmosférico, ressaltado pela luminosidade na faixa central da pintura, enquanto as laterais são mais escuras. Sobre esse fundo, a artista desenha alguns elementos que remetem a formações rochosas e escadas de ritmos irregulares que saem da base da composição, mas não chegam a nenhum lugar. Feitas por canetas de pontas muito finas, essas imagens parecem ainda mais delicadas e frágeis devido a seu isolamento na paisagem agitada. O termo "réquiem" vem do latim e significa descanso. No catolicismo, é a missa feita para os mortos, enquanto na música é uma prece de caráter litúrgico. Assim, Cinto associa a paisagem a um estado contemplativo, propondo uma reflexão sobre os trânsitos e as relações entre vida e morte.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2022