Em seus desenhos, o artista representa personagens, cenas e paisagens do universo yanomami, tanto da vida cotidiana quanto relacionados a cantos e mitos xamânicos, tendo como referência seus sonhos, seu povo, suas histórias, e seu território—a floresta. Maior território indígena demarcado no Brasil, a Terra Indígena (TI) Yanomami foi homologada pelo governo federal em 25 de maio de 1992 e, além de ser a Terra-Floresta dos Yanomami, também é habitada por povos isolados (da serra da Estrutura, do Amajari, do Auaris/Fronteira, do baixo rio Cauaburis, do Parawa u, do Surucucu/Kataroa) e pelos Ye’kwana, numa população total de cerca de 30 mil pessoas. Em alguns desenhos, Joseca Yanomami indica o nome do local em que reside: Demini, aldeia também chamada de Watorikɨ, em alusão à ‘serra do vento’ que a circunda, representada no desenho Ai yanomae…, em que as nuvens no topo reforçam a neblina presente nessas terras altas amazônicas. A perspectiva das montanhas é distinta da perspectiva do canto inferior esquerdo do desenho, que é uma vista do alto da aldeia do Demini e do rio homônimo. Nesta, a representação da aldeia pode ser considerada como uma abstração formal, em que pessoas, pátio e teto são diversos círculos de cores distintas.
— David Ribeiro, assistente curatorial MASP, 2022