Eleonore Koch pintava paisagens e naturezas-mortas de forma sintética, com campos de cores em que os elementos são representados de forma simplificada, com ênfase nos contornos dos objetos. Xícaras, biombos, mesas ou vasos são representados em composições ao mesmo tempo dinâmicas e serenas, evocando um estado de meditação, intimismo e silêncio. Koch chegou ao Brasil da Alemanha em 1936, fugindo do nazismo, e morou em São Paulo até os anos 1960. Entre 1968 e 1989 viveu em Londres, onde produziu boa parte de sua obra. Durante os anos 1940, estudou escultura nos ateliês de Bruno Giorgi (1905-1993), Elisabeth Nobiling (1902-1975) e Arpad Szenes (1897-1985); nos anos 1950, foi aluna de Alfredo Volpi, com quem aprendeu a técnica da têmpera. Construída artesanalmente, a têmpera é uma mistura de pigmentos e ovo, gerando uma tinta opaca, translúcida e rala que, por esse motivo, preserva as marcas das pinceladas ao ser aplicada na superfície. Koch utiliza esse recurso para construir pinturas de uma luminosidade intensa, nas quais a mudança de direção da pincelada pode definir diferentes planos na composição do quadro. Na pintura Sem título (1974), uma área verde é interrompida por um fino contorno retangular branco, indicando o tampo de uma mesa. Há uma sutil incongruência na perspectiva, que pode ser observada nas pernas da mesa: à esquerda, duas delas aparecem separadamente, enquanto à direita, elas se sobrepõem. A base da mesa é violeta, o pires é um tom de verde mais saturado e brilhante que o do tampo, a xícara é marrom com o interior branco, o que contrasta com seu entorno, estabelecendo um jogo entre cores secundárias e terciárias. Koch fez um desenho preparatório para essa pintura, Estudo, porém com outra paleta para os mesmos objetos, o que demonstra o engajamento da artista com as pesquisas cromáticas.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2021