A obra Sem título, da série Resistência (2017-19), de Sallisa Rosa, evidencia um símbolo de luta e sobrevivência para trabalhadoras e trabalhadores rurais e povos indígenas em todo o mundo. Considerado um dos mais antigos utensílios criados, o objeto carrega, em si, o poder do corte e da abertura de caminhos. A obra reúne imagens de facões pertencentes a familiares e pessoas próximas da artista, que apontam sinais do tempo, do uso e de suas funções. Trata-se de uma referência ao episódio protagonizado em 1989 pela liderança indígena Tuíra Kayapó, que ameaçou com um facão o então presidente da Eletronorte, num ato contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará. O acontecimento foi amplamente registrado, inscrevendo‑se na história de luta do Movimento Indígena. Rosa é indígena urbana e acompanhou de perto a luta no aldeamento urbano Aldeia Maracanã no Rio de Janeiro. Após sete anos de ocupação, famílias indígenas foram despejadas pelo governo carioca. Seu trabalho e trajetória de vida denunciam a urgência de uma maior visibilidade das lutas indígenas por demarcação de terras, pelo protagonismo de mulheres indígenas na militância e pelos movimentos contemporâneos de autodeclaração identitária, que evidenciam a existência de uma grande população de indígenas urbanos no país. A obra participou da mostra Histórias feministas em 2019 no MASP.
— Beatriz Lemos, mestre em história social da cultura, PUC‑RJ, 2019