Desde os anos 1990, a artista Sandra Cinto realiza desenhos, pinturas e instalações que representam espaços oníricos e paisagens inventadas. Mares agitados, céus estrelados e abismos estão entre os temas mais recorrentes de sua obra. Em 2019, a artista iniciou uma série de pinturas e desenhos intitulados Noturno, nos quais os fundos são compostos por diversos tons de preto, representando a escuridão da noite. Esse termo também alude ao gênero musical homônimo surgido no século 18 e caracterizado centralmente por solos de piano em composições dramáticas, intimistas e meditativas. A obra Sem título (Noturno) do MASP foi concebida especialmente para o acervo do museu. No fundo, pinceladas horizontais criam a sensação de profundidade e atmosfera e, na parte inferior do quadro, há uma série de desenhos que representam o movimento turbulento das águas. Feitos por padrões orgânicos, hachuras (linhas paralelas usadas para criar o efeito de tridimensionalidade em imagens bidimensionais) e pontilhados, esses desenhos misturam técnicas variadas e fazem referência a diferentes momentos da história da arte, em especial à tradição do sublime, um sentimento de espanto do sujeito frente à imensidão do mundo. Do canto superior direito da pintura até o centro, uma série de linhas sutis sugerem lustres e balanços, também presentes mais ao centro da obra, o que gera uma forte sensação de fragilidade, devido ao isolamento de objetos tão delicados em meio à paisagem revolta.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2022