O Movimentos dos Artistas Huni Kuin surgiu em 2011 a partir de atividades do txana (mestre dos cantos) Ibã Huni Kuin, em oficinas pedagógicas na Universidade Federal do Acre (UFAC). Os artistas do Mahku—Acelino, Bane, Ibã e Maná Huni Kuin — nasceram na aldeia de Chico Curumim próxima ao rio Jordão, a oeste do estado do Acre, na fronteira com o Peru. Ibã conta ter conhecido as canções e mitos de seu povo através da convivência com seu pai, Romão. Muitas vezes, a partir da ingestão da nixe pae — ou ayahuasca, uma bebida psicoativa preparada a partir de plantas amazônicas e utilizada em rituais de alguns povos indígenas —, os artistas traduzem cantos, mitos e histórias de sua ancestralidade em desenhos e pinturas resultados de mirações, experiências visuais geradas por esses rituais. Na tela Yube Inu Yube Shanu os artistas representam os personagens humanos e não-humanos envolvidos no mito do surgimento da bebida sagrada. Vê-se a trajetória de Yube Inu, um homem indígena que se encontrava caçando e pescando na floresta, junto a pássaros encantados, cotias, antas, palmeiras e sementes do jenipapo, quando vê Yube Shanu – a mulher-jibóia–surgir de dentro de um lago. A partir da relação amorosa entre os dois, Yube Inu aprende a fórmula da bebida da serpente, planta que futuramente irá brotar da própria terra em que ele foi sepultado. Segundo Ibã, através da ingestão dessa bebida é possível sonhar, sentir e visualizar simultaneamente passado, presente e futuro. Trata-se de uma estratégia huni kuin para a prática de ver, em que luzes de diferentes cores tomam forma, imagens que os artistas transpõem para seus trabalhos.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2022