O MASP apresenta a mostra Gran Fury: arte não é o bastante, que ocupa a galeria localizada no 1o subsolo do museu. Com curadoria de André Mesquita, curador, MASP, e assistência de David Ribeiro, supervisor, MASP, a exposição reúne 76 obras, entre elas fotocópias e impressões digitais sobre papel. A mostra discute os limites e os alcances das campanhas gráficas do coletivo Gran Fury, bem como a ideia da arte como estratégia no campo ativista, impulsionado por pessoas queer, para ampliar a consciência sobre o HIV/aids.
Gran Fury (Nova York, 1988—1995) foi um coletivo de artistas considerado referência para as práticas de ativismo artístico das décadas de 1980 e 1990, que emergiu a partir da organização ACT UP (AIDS Coalition to Unleash Power) [Coalizão da aids para libertar o poder], composta por indivíduos e grupos de afinidade dedicados a tornar criticamente público o silêncio e a negligência do governo dos Estados Unidos em relação ao HIV/aids. Gran Fury produziu campanhas gráficas e intervenções públicas em torno das questões relacionadas à crise do hiv/AIDS, servindo visualmente ao ACT UP em protestos e ações de desobediência civil. O coletivo encerrou suas atividades em 1995, e seu arquivo encontra-se na New York Public Library.
Em boa parte de sua trajetória, o Gran Fury contou, em sua formação, com Avram Finkelstein, Donald Moffett, John Lindell, Loring McAlpin, Mark Simpson (1950-1996), Marlene McCarty, Michael Nesline, Richard Elovich, Robert Vazquez-Pacheco e Tom Kalin. O grupo se autodescrevia como “um bando de indivíduos unidos na raiva e comprometidos a explorar o poder da arte para acabar com a crise da aids”. Seus membros recusavam-se a se assumir como artistas ou a aparecer como criadores individuais e desejavam escapar dos espaços de arte consagrados.
O título da exposição do MASP Arte não é o bastante, se inspira na frase “With 42,000 Dead, Art Is Not Enough” [Com 42 mil mortos, arte não é o bastante] (1988), de autoria do coletivo. A sentença surgiu quando a instituição independente de arte experimental e performance The Kitchen, em Nova York, convidou o coletivo para fazer a capa do calendário do espaço, que respondeu com um pôster contendo a declaração, seguida da conclusão “Take Collective Direct Action to End the Aids Crisis” [Engaje-se na ação direta e coletiva para acabar com a crise da aids].
“O Gran Fury é parte de uma história ativista do uso politizado das ferramentas de comunicação e da subversão de imagens e discursos dominantes, abrindo território para o que na década de 1990 tornou-se conhecido entre coletivos de arte ativista e movimentos sociais como ‘mídia tática’, que é a produção de um novo tipo de estética por grupos e indivíduos oprimidos ou excluídos da cultura geral, trabalhando com formas expandidas de distribuição cultural e intervenção semiótica nas ruas, valendo-se de diferentes suportes visuais”, elucida o curador André Mesquita.
Entre as ações produzidas pelo grupo está a criação The New York Crimes (1989), que consistiu na impressão de milhares de exemplares falsos de um jornal de quatro páginas com textos do ACT UP, contendo suas próprias notícias e gráficos densos. Nessa obra, o grupo, mimetizando os elementos gráficos da capa do The New York Times. s. O The New York Crimes corrigia a identidade e as informações equivocadas da cobertura do tradicional jornal nova iorquino sobre a doença, por exemplo a de que o controle do HIV já estava estabilizado. Na época, Gran Fury e ativistas do ACT UP saíram pelas ruas de Nova York durante a madrugada, abriram as caixas do The New York Times, retiraram os exemplares e substituíram as primeiras páginas com o jornal falso.
Em Kissing Doesn’t Kill [Beijar não mata] (1989-90), o Gran Fury desviou o multiculturalismo corporativo das conhecidas campanhas da empresa italiana de roupas Benetton, subvertendo seus códigos visuais e semânticos e a sua sedução visual, para exibir fotografias de três casais inter-raciais se beijando. O pôster foi instalado como um painel nas laterais de ônibus e nas estações de metrô em São Francisco, Chicago, Nova York e Washington DC, nos Estados Unidos. Sua imagem, replicada também em vídeos curtos produzidos pelo coletivo, não vendia um produto, mas desafiava a interpretação equivocada do beijo como comportamento de risco, uma vez que, naquela época, a saliva era vista como um fluido supostamente capaz de transmitir o HIV.
“O outdoor não publicitário de Kissing Doesn’t Kill efetua o que, na década de 1990, popularizou-se como Culture Jamming [Interferência cultural] por meio da subversão, manipulação ou rompimento simbólico das mensagens publicitárias na mídia e no espaço urbano”, explica Mesquita.
A garantia do cuidado e do respeito a todas as pessoas com HIV foi endereçada em um cartaz com a frase All People With AIDS Are Innocent [Todas as pessoas com aids são inocentes] (1988), quebrando o paradigma moral de que algumas pessoas mereceriam o hiv/AIDS mais do que outras. O cartaz do Gran Fury determinava uma mudança de pensamento imediata da sociedade para respeitar, sem hierarquias, todas as pessoas que convivem com o hiv/AIDS, as quais devem ter o direito de receber cuidados e assistências igualitárias.
Segundo o curador André Mesquita, “dizer que ‘a arte não é o bastante’ não significa abandonar permanentemente a arte em favor da militância, ou apontar a ineficácia de uma prática artística para a transformação social. Ao contrário, a declaração do Gran Fury propõe que já não basta mais fazer uma arte sobre a crise, mas que momentos de crise são também momentos revolucionários de imaginação radical e de confrontação de sistemas hegemônicos e opressores”. “Sua obra gráfica nos provoca a pensar sobre a necessidade e a urgência de artistas, ativistas e agentes culturais se articularem como força política solidária em direção à ação direta, caminhando junto a movimentos contestatórios”, conclui.
Gran Fury: arte não é o bastante integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. Este ano a programação também inclui mostras de Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP Renner, Lia D Castro, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.
SOBRE O GRAN FURY
Gran Fury foi um grupo formado em 1988 que finalizou as suas atividades em 1995, em Nova York. Atualmente, o trabalho do grupo é exposto em comissões de arte pública do Whitney Museum, New Museum, Bienal de Veneza, Creative Time e Public Art Fund, e faz parte das coleções permanentes do MoMA, Whitney e New Museum. Em 2012, o Gran Fury montou "READ MY LIPS", a primeira exposição pública do seu trabalho para a galeria 80WSE, em Nova York. Em 2018, o coletivo reprisou esta exposição na organização Auto Italia de Londres.
ACESSIBILIDADE
Em 2024, todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em libras ou descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil, com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do Youtube do museu.
CATÁLOGO
Acompanhando a exposição, serão publicados dois catálogos, em inglês e português, com a reprodução de obras do coletivo. O livro, organizado por Adriano Pedrosa e André Mesquita, inclui um texto de André Mesquita, além de textos de Marcos Martins e Vinicius Franco, duas entrevistas realizadas com o Gran Fury por David Deitcher e Douglas Crimp e o texto de despedida do coletivo, publicado originalmente em 1995. Com design de Bloco Gráfico, as publicações têm edições em brochura.
MASP LOJA
Em diálogo com a exposição, o MASP Loja apresenta produtos especiais do coletivo, entre os quais duas bolsas, em inglês e português, postais e ímãs, além do catálogo oficial da mostra.
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Gran Fury: arte não é o bastante
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP, com assistência de David Ribeiro, supervisor, MASP
Em 2024, todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil, com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do Youtube do museu.
Visitas acessíveis
Pessoas com deficiência visual ou auditiva / surdas podem se inscrever para participar de visitas com a equipe de Mediação e Programas Públicos do MASP.
É só fazer a inscrição nos formulários abaixo:
Visitas em Libras - às quartas-feiras, às 16h30
Visitas descritivas - às quintas-feiras, às 16h30
As inscrições são feitas sob disponibilidade, por ordem de inscrição.
Conteúdos audiovisuais em formato universal
Com narração, descrição, legendagem e interpretação em Libras - os conteúdos audiovisuais acessíveis são desenvolvidos a partir dos textos curatoriais, apresentando um panorama do que pode ser visto na exposição.
Caderno com textos e legendas em pdf acessível
Os cadernos acessíveis são compostos por todos os textos e legendas das exposições, em fonte ampliada, além de instruções com relação às salas de exposição, disposição das obras nas paredes, possíveis fluxos e circulação pelos ambientes e breve descrição do espaço. Através do pdf acessível, o visitante pode habilitar o leitor de tela e ouvir todo o conteúdo textual das mostras e suas orientações espaciais.