Hélio Oiticica é um dos artistas mais radicais do século 20 no panorama da arte brasileira e internacional. Seus experimentos renovaram meios e suportes tradicionais (como o desenho, a pintura, a escultura, o objeto, o filme e o vídeo) criando novas formas e mídias. Caracterizada pelo rigor conceitual, com origens arraigadas na linguagem do construtivismo europeu, do concretismo e da abstração geométrica, a produção de Oiticica é extremamente vital, sensual, sensorial, comprometida com a experiência, com a participação e com o corpo (tanto do artista quanto dos espectadores-participantes).
A mostra Hélio Oiticica: a dança na minha experiência toma emprestado o título de um texto do artista publicado em 1965 e tem como ponto de partida o Parangolé, um de seus trabalhos mais radicais. Partir dessa obra-chave implica examinar a trajetória de Oiticica de trás para a frente, retrospectivamente, identificando elementos rítmicos, coreográficos, dançantes e performativos nos trabalhos anteriores — dos Metaesquemas aos Relevos espaciais, Núcleos, Penetráveis, Bólides e, por fim, os Parangolés. Embora a dança tome de fato corpo no trabalho do artista apenas com os Parangolés na década de 1960, essas características já podem ser observadas em seus primeiros trabalhos, que são aparentemente mais formais, estáticos ou tradicionais. Desse modo, a mostra se insere num ano todo dedicado às Histórias da dança no MASP.
Em 1964, Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, da qual se tornou passista. Essa experiência transformadora constituiu um divisor de águas na vida e na obra do artista. A partir dessa experiência na Mangueira, Oiticica aprofundou suas reflexões sobre experiências estéticas para além das belas-artes, incorporando elementos corporais e sensoriais, populares e vernaculares a seu trabalho por meio da dança, da coreografia, da música, do ritmo e do corpo. Foi nesse momento crucial que o artista começou a produzir os Parangolés, uma espécie de capa ou vestimenta fluida feita de tecido, plástico ou papel, para ser usada, experimentada, vivida e dançada pelo espectador-participante.
CURADORIA: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Tomás Toledo, curador chefe, MASP