“Cada criança é uma lei em si mesma” —Mario Pedrosa
Histórias da infância reúne múltiplas e diversas representações da infância de diferentes períodos, territórios e escolas, da arte africana e asiática à brasileira, cusquenha e europeia, incluindo arte sacra, barroca, acadêmica, moderna, contemporânea, e a chamada arte popular, bem como desenhos feitos por crianças.
A exposição se insere num projeto do MASP de friccionar diferentes acervos,desrespeitando hierarquias e territórios entre eles. Nesse sentido, Histórias da infância são também histórias descolonizadoras e assumem um sentido político — há um entendimento de que as histórias que podemos contar não são apenas aquelas das classes dominantes ou da cultura europeia e suas convenções visuais. Assim, Histórias da infância integra um programa mais amplo de exposições sobre diferentes histórias (múltiplas, diversas e plurais), para além das narrativas tradicionais — Histórias da loucura e Histórias feministas (iniciadas em 2015), Histórias da sexualidade (em 2017) e Histórias da escravidão (em 2018). São outras histórias, que incluem grupos, vozes e imagens que foram reprimidas ou marginalizadas, nas quais se inserem as crianças e sua maneira de ver o mundo. Aqui, não por acaso, a altura média das obras expostas foi rebaixada em até 30 cm em relação à convenção do eixo de visão do espectador nos museus, buscando uma relação mais próxima do olhar e do corpo da criança.
Histórias da infância se organiza em torno de núcleos temáticos permeáveis.
No primeiro subsolo, surgem os temas da natividade e maternidade; no primeiro andar, há retratos, representações de família, imagens de educação e de brincadeiras, crianças artistas, crianças anjos e, por fim, a morte. Obras icônicas do MASP — como O escolar, de Van Gogh, Rosa e azul, de Renoir, Retrato de Auguste Gabriel Godefroy, de Chardin, e Criança morta, de Portinari — aparecem em novos contextos, transversais e contemporâneos, em justaposição a trabalhos de todas as épocas. A expografia com painéis suspensos, que não formam salas fechadas, permite uma articulação entre os diversos núcleos e trabalhos. A exposição dialoga com Playgrounds 2016, no segundo subsolo e Vão Livre, mediante o jogo, o lúdico e a brincadeira, e com um programa de oficinas de desenho, iniciado em janeiro de 2016 e que se estende até o final da exposição. Durante o processo curatorial, foi desenvolvido também um projeto de mediação experimental elaborando histórias sobre algumas obras do acervo do museu contadas por crianças da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima e do Colégio São Domingos, com vistas a um futuro audioguia da coleção (os áudios estão disponíveis em bit.ly/maspmuseu). Desse modo, a mostra reconhece e inclui as histórias das próprias crianças: em pé de igualdade com os demais trabalhos, serão expostos desenhos feitos por elas nos anos 1970, anos 2000 e mais recentemente em 2016, todos do acervo do museu. Há muito o que aprender com esses desenhos, essas trocas e essas histórias.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP; Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias, MASP.