MASP

A arte negra como escrita da história: palavras, imagens e encenações

Horário
18h30-20h30
Duração do Módulo
ONLINE
20, 22, 27, 29.7 e 3, 5.8.2021
TERÇAS E QUINTAS
(6 aulas)
Investimento
Público geral
5x R$ 57,60
Amigo MASP
5x R$ 48,96
*valores parcelados no cartão de crédito
Professores
Maria Dolores Rodriguez
Muitas das características que estão nas concepções constituintes da história e crítica da arte e dos próprios estudos culturais ainda são eivadas de limitações sobre o conjunto de possibilidades e variedades não brancas e não ocidentais. Percebe-se como ainda é difícil, por isso, o reconhecimento de outros fazeres como partes importantes desses registros e estudos sobre esferas de experiências que fogem à hegemonia. Dessa forma, os modos negros de narrar a história e de produzir arte seguem sendo silenciados. Quais construções e modos são esses? Todavia, esse reconhecimento é, ainda, um valor almejado? Alunos irão pensar nisso a partir de palavras, imagens e encenações que compõem textos literários, obras visuais e outras formas de produções artísticas negras, como os blocos afros, outras teatralidades e músicas. Os participantes do curso irão ainda analisar as limitações conceituais para a arte e como e onde a arte negra se encontra nessa discussão, discutir como a representação pode ser um dispositivo restritivo, questionar as limitações da disciplinaridade e do tempo e o papel deles na produção de violências e identificar o lugar do corpo e a possibilidade de inscrições negras para a arte e para a história. 

IMPORTANTE
As aulas serão online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os alunos após a inscrição. 

Planos de aulas

Aula 1 – 20.7.2021
“O que é arte?” é uma pergunta etnocêntrica? 

A partir de um enfoque que leva em consideração as produções artísticas e culturais de pessoas negras, esta aula irá dialogar com as possibilidades dos múltiplos formatos da arte, questionando as formas de definição do campo artístico e dos artistas. Objetivando confrontar os mitos e estereótipos acerca disso, do gênio criador e da figura do artista, serão discutidos quais os lugares de uma conceituação acerca de uma arte negra, levando em consideração definições e categorias sócio-históricas. Abordagem das seguintes obras e produções: Picasso's Studio (1991), de Faith Ringgold; cerimônia de saída do bloco afro Ilê Aiyê, suas músicas, gestualidades, tecidos e amarrações (evento anualmente realizado durante o sábado de carnaval) e breve passeio pelas casas culturais africanas do centro histórico de Salvador.

Aula 2 – 22.7.2021
Falência representacional e o que propõe a arte negra 

Visando compreender o dispositivo representacional e suas ambiguidades, serão identificados os porquês de sua falência, tendo em vista a sua função de elaboração de sentidos e de construção de imaginários que reproduzem uma visão unívoca para um grupo múltiplo de pessoas. A partir desse lugar, os participantes irão descrever as localidades possíveis ou não para a arte negra e algumas de suas perspectivas. Abordagem das seguintes obras e produções: o Bando de Teatro Olodum e a sua Trilogia do Pelô (1995) e a montagem da Companhia de Teatro da UFBA para a peça Pele Negra, Máscaras Brancas (2019 – data da estreia). 

Aula 3 – 27.7.2021
Imagens, palavras e outras fronteiras disciplinares tênues 

Identificando a disciplinaridade como um fator limitador – Lewis Gordon chama isso de “decadência disciplinar” e diz que “a colonização epistemológica é também metodológica” –, alunos irão articular textos literários negros, sobretudo, poéticos, que possuem estruturas associadas a outras tipologias artísticas, como a arte visual, por exemplo. Os participantes irão pensar sobre como a forma pode ser impositiva e como se constitui como um sombreamento para as disciplinas artísticas que se apresentam de modo mais poroso do que se imagina. Abordagem das seguintes obras e produções: Namoro de Negros (1974), de Edinízio Ribeiro Primo; poemas de Oswaldo de Camargo, Lívia Natália, Jovina Souza e Lande Onawale e o filme Noir/Blue – Deslocamentos de Uma Dança (2018), de Ana Pi. 

Aula 4 – 29.7.2021
Tempo, história, violência e o impedimento de um trauma negro

A experiência compartilhada da dor negra é uma das questões que atravessam muitas obras artísticas. Quando pensa-se em trauma, no entanto, outras experiências aparecem como sendo as únicas possíveis nesse lugar de entendimento. Desse modo, busca-se identificar como a experiência negra reorienta o entendimento acerca do marco temporal utilizado pela cronologia instituída por Eric Hobsbawn que vê como sendo o período de 1914 até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, a sua era das catástrofes. Quais os traumas negros e como eles são elaborados através das artes? A imposição cronológica europeia e ocidental também dimensiona a história e as nossas formas de compreensão e entendimento. Como o tempo linear pode operar violências? Abordagem das seguintes obras e produções: Filha Natural (2019), de Aline Motta; Parede da Memória (1994-2015), de Rosana Paulino; poemas de Beatriz Nascimento; Mãe Preta (A Fúria de Iansã), 2014, de Sidney Amaral; The Torture of Mothers (A tortura das mães), 1970, de Elizabeth Catlett; Personagens infernais (1965), de Waldomiro de Deus e Confrontation at the Bridge (Confronto na ponte), 1965, Jacob Lawrence.

Aula 5 – 03.8.2021
Corpo: lugar de memória 

Leda Maria Martins coloca todos diante do fato de que os ambientes da memória são “repertórios orais e corporais, gestos, hábitos”. As performances dos corpos negros operam no registro, por meio das artes, da memória de uma história que não apenas se repete, mas inventa formas de contar-se, invocando uma temporalidade particular. Os participantes irão formular como essas experiências estéticas são orientadas por essa corporalidade – visto que não existe nada fora do corpo. Abordagem das seguintes obras e produções: trecho do livro Entre o Mundo e Eu (2015), Ta-Nehisi Coates; poemas de Alex Ratts e filme Ori (1989), de Raquel Gerber e Beatriz Nascimento. 

Aula 6 – 05.8.2021
Uma história azeviche 

Alunos irão debater sobre as possibilidades de inscrição das artes negras – explorando sua capacidade de elaboração simbólica e epistemológica. Abordagem das seguintes obras e produções: série Rio de Janeiro (1985), de Walter Firmo; o Nego Fugido (acontece anualmente na cidade de Acupe/BA) e filme Alma no Olho (1974), de Zózimo Bulbul.
 

Coordenação

Maria Dolores Rodriguez é poeta, crítica literária, ensaísta, professora e pesquisadora bolsista da CAPES. Doutoranda na linha de teorias e críticas da literatura e da cultura, no programa de pós-graduação em literatura e cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e mestra na mesma área, linha e instituição. É autora do livro Procurem Luisa no Mercado de Arte Popular (2021) e uma das organizadoras dos livros Feira de Santana Negra (2021) e Rasuras Epistêmicas das (Est)Éticas Negras Contemporâneas (2020).

Conferencistas